nota da autora: espero que gostem :) |
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Era um dia comum de inverno quando o pequeno Jimin terminou de jantar, pediu licença aos pais e subiu para seu quarto. As paredes pintadas em amarelo claro, o chão de madeira com alguns tapetes e E.V.A no canto, recheado de brinquedos, próximo a escrivaninha pequena, onde a criança podia desenhar, pintar, guardar suas fotos e livros de história que sua mãe adorava ler para ele antes de dormir. Sua cama ficava sempre próximo a janela, para que ele tivesse mais facilidade de puxar o ar, caso tivesse problemas para respirar durante a noite devido a asma. Logo sua mãe viria para trazer a bombinha, os remédios, lhe contar uma história e um beijinho de boa noite.
O garoto se sentou na cama e observou as estrelas pela janela. Se lembrou de sua mãe derramando algumas lágrimas ao telefone pela manhã, quando lhe perguntou sobre o que se tratava, a progenitora apenas respondeu "O vovô está dodói, filho, foi diagnosticado com alzheimer" enquanto secava o rosto com a barra da camiseta bonita. O pequeno não
entendeu o que significava aquela palavra difícil, então apenas enrugou a testa em confusão, concordando com a cabeça. Quando mamãe saiu pela tarde para visitar o vovô, Jimin sentou no colo de seu pai e perguntou o que significava o dodói do vovô, já que ele não conseguia pronunciar a palavra sem se embolar todo. O papai respondeu "É quando a pessoa começa a esquecer as coisas, campeão, mas ele vai ficar bem, a mamãe vai cuidar dele, ok?". Olhando as estrelas, Jimin pensou que sentiria medo caso começasse a esquecer das coisas. Como saberia onde guardou sua bola? E como saberia onde enterrou seu tesouro secreto com Taehyung? "Vamos ter que fazer um mapa" pensou Jimin. Uma estrela cadente passou. "Nunca deixe de fazer um pedido quando uma estrela
passar", Tae sempre dizia isso. Então, Jimin juntou as mãos, apertou os olhos e fez um pedido. "Eu queria algo que nunca fosse capaz de esquecer". Muitos não acreditam em mágica, ou em estrelas cadentes. Jimin sempre acreditou. Talvez
por isso o destino tenha lhe feito um agrado, um agrado um tanto quanto diferente.
O pequeno conseguiu ouvir um som estranho, se parecia com dentes se batendo, provavelmente devido ao frio, porém o som não era de si mesmo, vinha de baixo da cama. Com medo, o menino tirou um dos sapatos e jogou no chão. O barulho pareceu parar, mas apenas por alguns minutos. Então, Jimin jogou o outro sapato. Nada. Visto que os dois
sapatos estavam intactos, não parecia um bicho ou algo que iria lhe atacar. Então, com toda coragem de seu coração, o garoto colocou a cabeça para baixo da cama. Dois olhos pequenos e completamente pretos o encararam de volta. Jimin congelou,
voltando a parte segura da cama e se encolhendo num canto.— Quem é você? - o pequeno perguntou com a voz trêmula.
Não obteve resposta, mas como um menino corajoso, ele se acalmou e abaixou de novo para ver o que lhe esperava.
— N-não me machuque, por favor. - não viu os olhos, mas consegui ouvir uma voz fina e abafada.
— O que é você? - perguntou Jimin.
— Mon-monstro.
— Papai disse que monstros debaixo da cama não existem.
— Existo sim! - rebateu.
— Prove. ‐ desafiou o loiro.
Mais uma vez, não obteve resposta. Jimin ficou ali parado, esperando que algo acontecesse, mas nada. Não que ele quisesse ver um monstro feio, mas precisava ver com seus olhos para poder acreditar.
— Ei, não vai sair daí? - perguntou depois de ficar entediado.
— Não. - respondeu, seja lá o que for, debaixo da cama.
— Ora, como vou acreditar que é um monstro então?
Nenhuma resposta, chiado, sussurro, barulho, batidas, nada. Olhando mais uma vez, Jimin encontrou novamente os olhos, pareciam trêmulos e marejados.
— O que está fazendo, filho? - questionou sua mãe, assim que entrou no quarto.
— Mamãe! Não vi que tinha chegado. Estava conversando com o monstro debaixo da cama.
— Claro que sim, meu amor. Aqui, tome devagar - entregou os remédios nas mãos pequenas, junto a um copo d'água - Que história quer que eu conte hoje?
— Tem alguma sobre monstros? Pro bicho se sentir incluído.
— Quem? - a mais velha enrugou a testa.
— O monstro da minha cama, mamãe.
— Ah sim. Uhm... vejamos, que tal Peter Pan?
— Pode ser. - disse o garoto enquanto se ajeitava na cama fofinha.