único

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Roronoa Zoro era um rapaz de personalidade forte, embora ele não se importasse com isso. Tingiu seus cabelos verdes quando era ainda um adolescente e por conta disso fora chamado de delinquente e isolado, até porque ele carregava uma carranca medonha quando andava nos corredores ou quando decidia assistir as aulas. Mas o que havia na sua mente era o completamente nada. Era só mais um rapaz ordinário, que queria dormir por mais alguns minutos.

Ele trabalhava num restaurante, que ficava numa avenida conhecidíssima pelos pontos de comes e bebes. O restaurante que Zoro era empregado, trabalhava com esfihas, e eram até gostosas. Não que ele tivesse um paladar sofisticado para saber dizer isso com precisão.

Mas por conta de uma amiga que parecia uma bruxa manipuladora e mercenária, Zoro resolveu fazer terapia. Nami, essa amiga, achava o jeito letárgico do esverdeado muito estranho, estava convicta de que Zoro tinha depressão. Porém, Zoro achava que era tudo bobeira, mas sabia que não ia convencê-la o contrário por ser teimosa demais, só ia gastar energia atoa e ele queria dormir.

O psicanalista Tony Tony Chopper, que Nami pagaria as consultas para o seu amigo e depois cobraria com juros, disse a Zoro fazer um diário. Pediu para que fosse bem detalhista, e que poderia escrever livremente, desde que fosse parte de um acontecimento do dia.

Zoro pensou imediatamente "acontece nada nos meus dias", mas ele estaria muito enganado disso, quando era um garçom daquela esfiharia. Sem saber o que escrever, ele decidiu escrever sobre o que tanto ouvia das pessoas que atendia e também dos funcionários.

O gerente era um mauricinho, que Zoro não sabia o nome e resolveu decorar só para pôr no diário. Afinal, Chopper pediu para que fosse detalhista. Seu nome era Hemelppo, uma criatura asquerosa e toda engomadinha. Era filho do patrão e por isso achava que tinha o direito de se achar superior dos demais. O cara não tinha valor nenhum e brigava constantemente com os funcionários. Recentemente brigara com as cozinheiras, pisando na comida com o seu tênis de marca, tudo porque achou ruim o que comeu. Zoro não gostava de ver desperdício de comida e nem de ver as cozinheiras tremendo com medo de perderem o emprego.

Outra vez escreveu no diário sobre pessoas que gostavam de falar para todos ouvirem. Na ocasião, ela está conversando com uma pessoa só, mas quando vai dizer algo inteligente, fala para os quatro ventos a sua opinião supostamente diferente das demais.

Zoro via isso num cliente chamado Buggy. Ele também tingia os cabelos, talvez pretendia ser descolado, mas não dava para conversar com esse homem tão pedante, que gostava de dizer todos os seus conhecimentos. Zoro pensava que Buggy deveria ser deveras inseguro para ter que se rearfirmar tanto. Enfim, um tipo de pessoa que o cansava e que não dava a mínima, só parou para observá-lo para ter o que dizer no diário.

Mas havia um senhor que Zoro sentia muito desgosto. Ele aparecia por lá todo bonitão e pá, mas o infeliz era um preconceituoso do caralho. Não tinha como não se aborrecer por esse. Kuro uma vez se levantou do seu assento e foi até Helmeppo pedir para retirar um casal gay do restaurante. Aparentemente, eles não fizeram nada, Zoro se recordava muito bem disso, mas Kuro encasquetou de ter visto os dois muito "íntimos". Helmeppo, outro babaca, mandou o casal se retirar do bar sem hesitar. Os dois se levantaram aborrecidos e disseram que iriam processar aquela espelunca. Zoro pensou que se acaso precisassem de testemunhas, ele seria uma com muito bom grado. Nesses momentos voltava a realidade, via que trabalhava num lugar de quinta categoria e se arrependia por não ter completado o ensino médio.

Chopper um dia leu as anotações e escreveu algo numa prancheta.

— Zoro, será que pode me trazer uma anotação positiva na próxima consulta?

Zoro meneou a cabeça um pouco confuso. Quando que acharia um momento feliz sendo um cara de 24 anos trabalhando num lugar sem carteira assinada? Ele queria apenas dormir e fugir disso tudo.

Porém, ele se esqueceu que se encontrava esporadicamente com um garçom do restaurante ao lado para trocarem os seus lanches durante o intervalo. Comer esfihas toda noite era horrível, então eles trocavam de lanches para quebrarem essa rotina. Sanji, o garçom, era um rapaz de mesma idade e de cabelos loiros com uma sobrancelha que Zoro achava medonha por ser enrolada. Trazia consigo algumas fatias de pizza numa embalagem de isopor.

O ponto que Sanji trabalhava servia pizzas. Ambos pensavam que trocar um lanche por outro não parecia ser vantajoso, os lanches não eram tão diferentes, eram comidas com massa e carregavam aquele ranço por só poderem comer a mesma coisa. Já bastasse cheirar àquilo toda noite quando ficavam enfurnados nos restaurantes. Era tão crítico que mesmo chegando em casa e após o banho, ainda sentiam que fediam a esfihas e pizzas.

— Mas sabe, marimo, eu não gosto de desperdiçar comida.

Estavam no beco que separavam os dois restaurantes. Comiam seus lanches na escada que ficava na entrada do estabelecimento que Zoro trabalhava.

— Sério? Nem eu... um dia nosso gerente pisou nas esfihas que as cozinheiras fizeram, falando que o gosto era de merda. E francamente, pra mim elas sempre tiveram gosto de merda. - Limpou a boca com o dorso da mão e pegou mais um pedaço de pizza para comer. - Não estou criticando as cozinheiras, só acho que se comer isso demais chega num ponto que se torna insuportável.

— Eu penso o mesmo, mas no meu caso as pizzas são ruins, mesmo você experimentando pela primeira vez.

— Sério? Não me parecem ser tão diferentes das esfihas.

Nesse momento, Sanji parou de falar e olhou para o céu, ficou bons segundos assim e Zoro pensou se ele seria abduzido ou o quê. - Eu pretendo ser um grande cozinheiro um dia. Eu tenho um ótimo paladar.

— Mas você não terminou os estudos. - Falava de boca cheia, o marimo continuava a comer.

— Eu sei, vai ser difícil... mas... não pretendo só sonhar, sabe? - Deixou de encarar o céu estrelado e passou a encarar os olhos castanhos de Zoro com muita intensidade. - Eu tô aqui nesse mundo só para isso.

Zoro voltou pro seu apartamento e se sentou na mesa redonda da cozinha para escrever no diário. Ele escreveu sobre o carinha que trocava os lanches durante o intervalo, disse que por conta da tarefa de Chopper, ele percebeu que Sanji era uma pessoa que fazia diferença. Sentiu algo grande cobrir seu peito e o olho exposto que lhe encarou ainda permanecia em sua mente. Naquele momento sentiu que não queria dormir, algo que não sentia há anos, e até cogitou de voltar a estudar. Nunca fora muito de querer conforto ou algum tipo de luxo, mas se lembrou de quando era jovem. Aquela vida acomodada não agradaria nem um pouco o seu "eu" do passado.

Depois de um tempo, Zoro e Sanji resolveram sair quando estivessem disponíveis, muitas vezes o encontro era no apartamento de Sanji, que era tão feio quanto o de Zoro. Mas o sobrancelha enrolada fazia questão de preparar o jantar com uma mesa decorada e se sentia ansioso quando o marimo experimentava sua comida. Ele disse uma vez que Zoro fora o seu primeiro degustador. E o servia sempre com um sorriso radiante, fazendo Zoro pensar que ele era até bonitinho.

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