"Grão-Senhor da corte noturna"

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Eu mal conseguia me manter em pé, e isso fazia com que meu pai ficasse furioso, mas não só isso, fazia com que ele se sentisse inútil agora que meu noivo estava prestes a chegar, ele queria que me vissem como uma jovem saudável e pronta para se casar, pronta para ser mãe e ser a esposa submissa que seu marido deseja. Uma pena, eu estava me saindo muito bem em ser o contrário.

Agora, em pé esperando que nosso Grão-Senhor atravesse as portas escuras, eu comecei a me lembrar da época em que vivemos sob a montanha. Não sei porque, mas as memórias vieram em cheio. Eu podia sentir a escuridão ao meu redor enquanto ficava escondida no quarto, Ário também não saia de perto de mim. Apenas nosso pai e os outros iam até ela. Amarantha.

Eu odiava aquele nome, odiava quem ela era. Ela tomou parte da minha vida, tomou quase toda a bondade que eu conheci. Nada no mundo me deixou tão satisfeita quanto o dia em que sua cabeça foi arrancada do corpo, quando meu pai disse as palavras em voz alta, que estávamos livres para voltar pra casa. Aquilo tirou um peso enorme de cima de mim.

O que foi estranho, eu estava saindo de uma montanha e prestes a entrar em outra, mas ainda assim. Eu sentia que estava voltando para as terras da noite, e só isso me fez sentir conforto.

De repente, as portas se abriram, a noite chacoalhou com os passos que vinham soando pelos corredores. Morrigan foi a primeira, ela estava magnífica em um vestido vermelho, sua pele pálida reluzindo com os fios dourados de seu cabelo. Senti Keir enrijecer perto de nós, e aquilo fez a sombra de um sorriso passar por meus lábios, era ótimo saber que ele lembrava do que tinha feito a ela. Talvez um dia ele pagasse na mesma moeda. Ou pior.

Nestha foi a próxima, ela não tinha um olhar amigável, foram poucas as vezes em que a vi por aqui, mas em todas elas, sempre foi a mesma face que presenciei, fria e inquebrável. Como uma rocha.

Cassian e Azriel não demoraram em entrar, o General e o Mestre espião, irmãos, guerreiros, e lindos Ilyrianos. Sim, eles tem uma beleza natural, algo que vem do nascimento, assim como sua força. Eu me pergunto às vezes se eu tivesse nascido com o sangue deles, sangue Ilyriano, me pergunto se eu seria mais corajosa para fugir e procurar por minha felicidade.

E então, Rhysand e Feyre entraram, seus rostos eram pura noite feroz. Era lindo de se ver, era a força da parceria deles espiralando junto, eu queria ter talento naquele momento, queria poder pintar aquela imagem. E como se ouvisse meus pensamentos, Feyre me olhou, ela me observou por longos segundos, mas depois desviou o olhar.

E por um momento ela pode ver quem eu sou de verdade, talvez ela tenha visto mais…

Todos nós nos ajoelhamos, minha respiração falhou um pouco, fraca demais para fazer qualquer movimento brusco. E quando a voz de Rhys ordenou para  nós nos reerguermos, eu fui a única que não consegui subir. Ário veio ao meu auxílio e enrolou meu corpo ao seu, tentando evitar os olhares do nosso Grão-Senhor e sua corte. Impossível, pois quando me dei conta os olhos de gavião de Cassian estavam cravados em mim.

-Keir e Anton, quero uma reunião com os dois!

E assim, Rhys e Feyre foram na frente, enquanto meu pai e seu fiel amigo os seguiam. Não tive tempo de respirar aliviada, a voz fria de Azriel cortou a noite perto de nós.

-Vocês dois também, venham conosco.

Nós o seguimos, Ário não me largou por nenhum segundo, ele estava comigo e me sustentava para que minha fraqueza não me vencesse. Quando chegamos na sala de reuniões, Rhys bateu com o punho fechado na mesa.

-Sem me consultar?

-A filha é minha, eu caso ela com quem eu quiser.

-Não quando ele é de outra corte - Esbravejou Feyre.

-E ainda por cima Éris? - Rhys estava incrédulo, ele olhou para mim e pontuou - Olhe para sua filha, ela está doente. Vai mesmo deixar que ela seja entregue aquele sádico neste estado vulnerável?

-Ela sabe qual é o dever dela, ser esposa, dar filhos ao futuro Grão-Senhor da corte Outonal.

-Eris não ama nem a si mesmo, ele não vai saber cuidar de Aurélia. - Ário anunciou enquanto me segurava.

-Eu não o quero… - Falei, baixo demais, fraca demais para ser ouvida.

Um guarda entrou na sala e foi em direção a Keir, que até então estava calado. O loiro sorriu e olhou para mim, depois para Morrigan, por último para Rhys e Feyre, seu sorriso se alargou.

-Uma pena - ele disse - porque Éris acabou de chegar!

A corte do sol (Acotar)Onde histórias criam vida. Descubra agora