II

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Horas depois, JK deu uma volta ao redor. Seria preciso chamar alguém para limpar o terreno. Mesmo lá em cima, o mato ralo crescia alto e ofereceria abrigo para répteis e insetos. Por dentro, o imóvel estava mais ou menos arrumado. Duas camas foram montadas sobre um tatame, mais simples e fáceis de levar pela longa escada íngreme. O estúdio era um único cômodo grande, com cozinha integrada, pia e banheira com chuveiro à vista, isolados apenas por uma meia parede de azulejos verde-claro. Só o vaso sanitário ficava em um outro cômodo com porta, separado de fato do resto.

Eles dormiriam ali sem nenhuma privacidade.

JK suspirou e tentou não se irritar de novo. O que quer que fosse acontecer, passaria. Eventualmente TH iria embora e desta vez, torcia, seria para sempre.

TH saiu do estúdio naquele instante e os dois se olharam de longe por um momento, até que ele se virou e seguiu na direção das escadas.

JK voltou então a pensar em uma coisa dita no meio da discussão da manhã. Na verdade, era algo que pensava sempre, mas sem querer, como se os pensamentos apenas viessem e preferisse não reconhecer. Será que no fundo não sabiam que um dia um deles acabaria morrendo por causa dos experimentos? Não seria apenas uma questão de tempo?

Ele chegou na Morada do Sol quase um ano depois da partida de TH, recrutado por Jin em um centro de preparação de forças especiais das FFAA que treinava atletas e recrutas com desempenho físico acima do normal. Tinha acabado de completar dezoito anos, sua família não tinha posses e precisava de um emprego.

Jin voltou algumas vezes para vê-lo e foi aos poucos despertando seu interesse. Lembraria sempre de como ele falava da Sombra nesses primeiros encontros, usando perguntas e questões que desestabilizavam sua visão de mundo e atiçavam sua vontade de conhecer.

'Quão pessoal e única é nossa percepção da realidade? Até que ponto ela depende de nossas ideias sobre o que é real? Quais são seus limites e possibilidades?'

Veio à montanha sem saber se ficaria. Não tinha ideia de que era também algo especial, suas habilidades psíquicas sempre melhor experimentadas por outros que por ele. Fez toda diferença conhecer Hee-jin, YG e JM e encontrar neles acolhimento de família, ainda que uma família traumatizada pelo abandono recente de um membro. Evitavam sequer citar o nome de TH, mas ele sabia.

***

Enquanto isso, lá embaixo, Jin aguardava TH na entrada da Morada.

O recém-chegado tinha tomado banho, o cabelo castanho e liso ainda molhado. Tinha também vestido roupas limpas emprestadas por JM.

Os dois fizeram uma refeição leve na copa enquanto Jin falou rapidamente das mudanças que aconteceram na Morada nos últimos anos. Em seguida passaram pelas novas salas de pesquisa no térreo. TH viu como tinham sido expandidas e como o equipamento que utilizaram no passado estava agora conectado a computadores, novidade atribuída ao atual engenheiro-chefe do projeto, Kim NJ, quem Jin apresentou rapidamente a TH.

A Morada do Sol tinha agora uma face pública. Não era mais possível mantê-la escondida do público, Jin explicou. Pesquisas científicas autorizadas aconteciam ao mesmo tempo e lugar que os experimentos na Sombra. Uma equipe de neurocientistas permanentemente atuante já produzia resultados publicáveis sob o uso de lazeires no combate a doenças degenerativas no cérebro. Nenhum deles conhecia o verdadeiro propósito da Morada.

Aos pés da montanha, a área verde tinha virado parque aos cuidados de HS, o último a ingressar no grupo. O local despertava interesse turístico por causa de uma ponte Silla e algumas partes que restavam de outro edifício da mesma época, o que se fez foi criar os meios para manter o fluxo de estudiosos e visitantes controlado e restrito a certas áreas do complexo.

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