O abuso (Az)

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Às vezes não sei como o mundo funciona, como é a sinfonia do mundo. Como é a minha sinfonia, mas uma coisa eu sei: sei que comecei a escutar a sinfonia do meu destino naquele dia. O dia em que o conheci.

O cheiro estava forte, tão forte e desagradável como um soco no estômago. Era cheiro de medo. Cheiro de pavor. Nem as malditas flores poderiam apagar aquele fedor. Algo como um buquê de flores para uma noiva de um casamento abusivo. E, no fim, era bem isso.

Abri mais as asas, sentindo o vento sobre elas e tendo que tampar o nariz. Estranhamente, aquele era o pior cheiro que eu já sentira em minha vida. Algo bem raro para um guerreiro de mais de 500 anos.

A mansão branca e sem graça parecia fervilhar como água no fogo.

"Todos estão fugindo como ratos", cantaram minhas sombras. O que quer que estivesse acontecendo, todos, quase todos, estavam fugindo da ala leste.

Segui em direção ao pivô do caos, lá no centro da ala leste. Perto do campo de rosas, mas elas não puderam abafar os gritos irados de seu dono.

— Ser inútil! — era Tamlin, sem dúvida.

As janelas não esperaram mais de 3 segundos para se estilhaçar depois que minhas botas de couro tocaram o chão, quebrando-se em mil pedaços. Com sorte, pude esquivar-me seguramente para trás de uma árvore gorda o suficiente para me proteger dos estilhaços afiados e do objeto que quebrara a brega janela.

Um breve silêncio veio depois da explosão. E, nesse silêncio, pude ouvir um bater de coração perto de mim. Com cuidado e usando minhas sombras como esconderijo, procurei um ponto de visão melhor. Ou era o meu plano.

Fui congelado.

O motivo do cheiro estava à minha frente. Era uma criatura tão deformada por cortes e estilhaços, enrolada na cortina brega daquela casa. Aparentemente, isso o mantivera vivo.

Sem que eu pudesse notar, uma sombra minha tinha puxado um pouco a cortina e, para meu horror — sim, horror, um sentimento há muito esquecido por mim — aquela bola de carne enrolada em panos era uma pessoa.

— Vou fazê-lo aprender. — Aquele rosnado bestial me tirou do transe de terror e então pude finalmente olhar para o responsável por todo o caos.

O grande senhor da primavera usava sua forma de besta. Sua verdadeira forma.

A criatura destroçada se mexeu.

Naquele ponto, não podia entender por que meu coração estava tão desesperado, como se fosse furar meu peito ao bater.

Também não entendi como corri para a frente da bola de carne ferida, a envolvi com minhas sombras e rosnei como um animal para Tamlin.

— Isso não lhe diz respeito, morcego! — a voz da fera fez as folhas ao redor voarem.

Desembainhei minha espada  e, com um sorriso digno de um demônio, me preparei para avançar como uma fera para cortar a cabeça daquele desprezível ser e o teria feito quando um leve aperto em meu tornozelo me fez olhar para baixo, para a bola de carne.

Era mesmo uma pessoa. Uma bem ferida. Uma à beira da morte. O sentimento de horror voltou para minha garganta.

Não sei muito bem o que aconteceu em um intervalo de 20 minutos, mas quando a realidade voltou eu estava em uma casa. Velaris? Mas como? Algo, senti falta de algo em meus braços.

— Você está fudido da cabeça?! — gritou Rhys, me dando um tapa no pescoço.

O quê? Talvez?

— A bola de carne... — disse acordando do transe.

Os alfas e o omega ( acotar/ omegaverse) Onde histórias criam vida. Descubra agora