Eu te dei meu coração (capítulo único)

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"No último natal, eu te dei meu coração

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"No último natal, eu te dei meu coração.

Mas no dia seguinte, você o jogou fora."

23 de dezembro de 2021

Quando os primeiros flocos de neve começaram a cair e o ar gélido tomou conta de todo o caminho, Pran enfim se permitiu sentir-se solitário pela primeira vez no ano.

Todos ao seu redor estavam felizes e unidos, como somente o espírito natalino conseguia fazer. A árvore de natal foi montada, enfeites colocados, luzes por todo o dormitório que ele compartilha com três amigos. A energia era contagiante. Mas ele não conseguiu deixar de se sentir estranho.

No dia anterior à véspera de natal, Pran precisava de um café quente para conseguir sobreviver ao frio congelante. Louis e Safe, seus colegas de dormitório, decidiram ir de carro até o centro comprar bebidas pela metade do preço para a festa que dariam no dia seguinte. Pela primeira vez, nenhum deles voltaria para casa no natal e queriam reunir o máximo de outros alunos da faculdade que também optaram pelo mesmo. Como Louis disse, essa era a graça das festas, conhecer pessoas novas e vivenciar boas experiências. Pran não conseguia imaginar como ele faria isso caindo de bêbado, mas não ousou discutir.

Wai estava na casa da namorada e provavelmente só iria aparecer no dia seguinte, então Pran preferiu não ficar em casa, sozinho, ainda que o frio o fizesse repensar se foi mesmo uma boa ideia. O copo de café, com seu nome rabiscado ao lado, sua e molha a ponta de seus dedos, que estão gelados e quase dão choque ao tocarem o plástico quente. 

Pran se encolheu dentro do casaco, olhando pela janela embaçada pela neve. Vez ou outra levando o café aos lábios. Ele não percebeu quanto tempo ficou assim, vendo as crianças do lado de fora brincarem de jogar bolas de neve umas nas outras e casais andarem lado a lado, cochichando coisas para que só o parceiro pudesse ouvir. É engraçado ver como todos pareciam ter seu lugar no mundo, pareciam pertencer a algo, mesmo que não fossem tão diferentes assim.

Pran costumava fazer parte de algo. Ou pelo menos achava que sim. Mas então ele mesmo estragou tudo, com suas ideias estúpidas e sem cabimento. Às vezes ele queria poder voltar no tempo e mudar tudo o que aconteceu. Ou pelo menos poder ter a chance de consertar tudo.

Foi esse o momento que a porta da cafeteria escolheu para abrir, durante um gole cauteloso no café quente, o olhar de Pran ainda do lado de fora, alheio a tudo ali dentro. Foi o som dos costumeiros sininhos natalinos tocando, para avisar a chegada de um novo cliente, que atraiu a atenção de Pran. E foi então que ele o viu. 

Os olhares se encontraram muito rapidamente, quase treinados a repetir aquela ação várias e várias vezes, sempre que se encontravam no mesmo lugar. Castanho com castanho mantendo uma ligação invisível, quase palpável. Pran estava acostumado a olhar, mas não a ser olhado de volta.

No Último Natal (Bad Buddy)Onde histórias criam vida. Descubra agora