Isabel.

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O natal é sempre marcado como um momento mágico, um momento de alegria onde as famílias se reúnem para celebrar todo aquele amor — que ao menos deveria existir — em nós. Eu tenho esse conceito, adoro o natal assim como minha família adora me fazer sentir inferior e uma estranha perto deles. 

Daqui a dois meses exatos é o dia de comemorar essa especial data e confesso que estou um pouco preocupada e com certo medo por logo estar com eles. 

Fico tanto tempo sentada em minha cama imaginando o que aconteceria de chato e ruim dessa vez que nem percebo a hora passar e eu estar completamente atrasada para ir à escola. 

06:38. Corro para o banheiro e faço minha higiene matinal, me olhando mais uma vez no espelho, hoje estava mais bonita do que os outros dias. Meus cabelos com fios avermelhados penteados repartido ao meio, com apenas um rímel, dando um pouco de destaque aos meus olhos castanhos. 

Sorrio contente pelo que estava sentindo ao me ver, isso não é tão comum de acontecer. Agora minhas covinhas estão a mostra nos dois cantos de minhas bochechas, isso é a única coisa que amo em mim e posso dizer com tranquilidade. 

06:45. Meu pai está batendo com socos leves na porta, implorando para eu sair, caso eu não queira me atrasar. Se não fosse meus amigos, iria querer mesmo me atrasar, mas eles são os únicos motivos de querer estar naquele horror, a escola. 

Em 10 minutos chego na escola e encontro Ruan e Sofia, na entrada. Os dois irmãos mexem nos celulares desatentos ao seu redor, o que é muito fácil de os assustar. 

Ruan, é um garoto alto, branco, ruivo e tem uma barbicha, que nunca lhe contarei, mas nele fica um charme e tem dois piercings na sobrancelha, e seus olhos castanhos escuros que apenas colaboram  para o desejarem. 

Sofia, é irmã de Ruan. Ruiva, alta e branca também e por incrível que possa parecer eles são irmãos adotivos. Essa garota é uma das mais lindas que já conheci em toda minha vida, seus olhos castanhos brilham de uma forma tão intensa, foram eles que me chamaram atenção na primeira vez que conversamos e desde então ainda posso os ver, uma grande sorte. Ela é obcecada pelos cabelos e unhas, por isso sempre está com seu penteado e cor de unhas preferidos:  maria-chiquinhas e azul. 

Seguimos até a sala de mãos dadas, cada um do meu lado, segurando minhas mãos. Na sala, já é possível ver nossos outros amigos: Raquel Verônica e Alexandre. 

Alexandre, tem características completamente diferentes deles, a única semelhança é a altura ser quase a mesma, Alex consegue ser um pouco mais baixo que Ruan. Seus olhos castanhos escuros e seus cabelos são do mesmo tom, deixando uma combinação incrível. Ele é um pouco inseguro com sua aparência, principalmente com seu cabelo, tanto que é quase impossível o ver sem a toca, é como se fosse parte dele. 

Raquel Verônica. Sempre a chamamos assim quando estamos bravos ou algo do tipo, por isso ela odeia ser chamada assim. A chamo de Verônica e sou a única que posso. Ela foi a minha primeira amiga dos quatro, a que conheço mais tempo e com isso tive sua ajuda para montar o nosso quinteto, mesmo com a sua timidez. Os seus cabelos são escuros, preto como o ébano e os olhos azuis acinzentados. A sua altura é próxima à minha, mas ainda me faz ser a mais baixa do grupo. 

Nós sentamos próximos no fim da quarta fileira do lado da porta. Por mais que tentasse transparecer estar normal e sem nenhum problema me afligindo, Verônica me conhece tão bem e chega do lado da minha carteira. 

— O que aconteceu? — seus olhos azuis estão fixos no meu rosto. — me conta. 

— Não é nada, só preocupada com algumas coisas. — evito olhar para ela, sei que não consigo esconder. 

— Quer falar dessas coisas? 

Suspiro fundo. Seria bom falar um pouco daquilo. 

— Sabe como é a relação da minha família, comigo, certo? 

— Sei o que você já contou, o que aconteceu? 

— Daqui a dois meses vou tá com eles, como todo natal e não tô preparada. Se eu pudesse levar alguém... Seria mais fácil.

— Você sabe que iríamos. — Verônica desvia o olhar pela primeira vez. — Mas precisaríamos convencer a nossa família. 

— Tá tudo bem. Se eu tivesse um namorado, poderia levar ele e todo aquele sentimento de estar sozinha, sumiria. 

— Quem sabe no próximo Natal, você não tá namorando? Ou até nesse agora, não é impossível. 

— Amiga, pior que é. — faço um bico fraco, igual de um bebê. 

— Mas... — ela própria se interrompe, tentando formular palavras melhores, eu imagino. 

— Mas? 

— Você não namoraria só para provar algo a sua família ou não se sentir sozinha, não é? 

— Claro que não. — começo a repensar sobre isso, sentindo uma certa culpa, pois faz sentido. Esse seria o único motivo de namorar agora. — E mesmo se fosse, não tem ninguém que me queira e eu não quero ninguém, tá tudo certo. 

— Ninguém que te quer? — Ruan se aproxima, após deixar vários beijos na bochecha de sua "namorada". — Conheço um doidinho por você. 

— Doidinho? Ele é obcecado nela. Cai fora dele, você que iria ficar doida com ele. — Sofia que diz, chegando do nada perto da minha mesa e se sentando no seu lugar a frente. 

— De quem vocês tão falando? — Verônica questiona após tanto pensar. 

— Às vezes, penso que você e Isabel, se fazem de burras ou são realmente. — Ruan diz enquanto aponta discretamente para Felipe. 

— Elas são. — Alexandre diz, sem desgrudar os olhos do celular. — E todo mundo sabe disso, o menino não faz questão de disfarçar. 

— O disfarçar dele é tentar te fazer ciúmes falando com quantas garotas ele fica. — Sofia rola os olhos. 

— Ele sabe que não vou ter nada a mais que amizade. Pelo menos, espero que saiba. — digo após tanto tempo ponderando o que diziam. 

— Mesmo você falando, ele não entende. Como a Sofi disse, a obsessão é grande. — Alexandre diz e Ruan ri. 

Felipe é um garoto bonito, tem olhos pretos e os cabelos do mesmo tom e seu corte de cabelo é legal igual ele, mas não consigo sentir nada mais que uma simples amizade e tem algumas coisas nele que me incomodam, como sua masculinidade frágil e sempre achar que estou mentindo, que quero realmente algo com ele. Além de sempre me sentir vigiada por seus olhos em todos os lugares que estamos. 

Porém, toda essa conversa, me ajudou a esquecer um pouco do problema que comecei a remoer, mas não o totalmente. 

No fim da aula, algumas meninas que sentam perto, conversavam sobre aceitar ser paga para namorar alguém e como só alguém muito desesperado poderia aceitar isso. 

E então tive a melhor ideia de toda a minha vida. Pagaria alguém para namorar comigo e passar o natal com a minha família. Não machucaria ninguém com isso e ainda a pessoa sairia ganhando mais do que eu. 

Só precisava agora pensar quem estaria disposto disso e quanto dinheiro teria que oferecer para conseguir resolver esse problema. 

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⏰ Última atualização: Dec 28, 2021 ⏰

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