Um Retrato de Amor (Parte Única)

Um Retrato de Amor

Yusuf 
01 de dezembro

Eu sei que devia acreditar em papai noel, afinal sou uma criança, e todas as outras que eu conheço acreditam, mais eu não.
Tenho certeza que o papai noel, não deve ser o mesmo para todas as crianças, porque enquanto as outras crianças ganham o que pedem, o meu pedido nunca foi atendido, e agora que o natal está chegando, todas as crianças daqui do orfanato estão ansiosas esperando por ele, menos eu. Eu não quero sentar no colo dele de novo, pedir uma coisa e ganhar outra, dessa vez eu não quero ir vê-lo, mais a freira Guler me coloca de novo na fila depois que eu tentei escapar 2 vezes daqui, agora ela está me olhando com os braços cruzados, um pé batendo repetidas vezes no chão, ela faz uma cara brava que acaba ficando engraçada quando ela entorta a boca.
- Nem pense em sair mais dessa fila, vou ficar de olho em você até chegar sua vez.
- Freira Guler eu não quero pedir nada pro papai noel, me deixe sair.
- Ora ora, toda criança tem algum pedido pra fazer, você também deve ter o seu.
- Eu não tenho, ele nunca me dá o que eu quero mesmo.
- Yusuf, não fale assim, o natal é uma época do ano em que as pessoas renovam a esperança, e a fé, você precisa ter fé.

Sou obrigado pela freira Guler a seguir na fila, eles pensam que eu sou bobo, mais eu sei bem que o papai noel não é sempre o mesmo, deve ser por isso que nunca me dão o que eu peço, como vão saber se me comportei bem o ano todo, se sempre trocam os papais noéis, tomara que esse não seja igual o do ano passado que me deu uma bala só, porque eu disse que ele era magro demais pra ser o papai noel.
Chega minha vez e lá vou eu de novo falar com ele, sento em seu colo e ele faz como todos os outros, e me pergunta o que quero ganhar de presente.
- O que gostaria de ganhar de presente esse ano?
- Você não vai me dar o que eu vou pedir, então me dá só a bala logo.
- Porque não tenta pedir.
- Porque eu nunca ganhei, e sempre peço a mesma coisa.
- Estou curioso, o que você nunca ganha e sempre pede?
- Está vendo aquele retrato ali? (Aponto para a parede, onde tem um grande quadro com uma foto de todas as crianças do orfanato)
- O que tem aquele retrato garoto?
- A freira Guler diz que somos uma família, mais na verdade não somos, somos só crianças que foram rejeitadas por suas famílias de verdade, eu quero estar em um quadro desses em uma foto de família, da minha família, eu quero de presente de natal uma família que tire uma foto assim comigo, eu quero estar em um retrato que esteja na parade da minha casa, com uma mãe, e um pai.

Toda vez que eu faço o meu pedido os papais nóeis gaguejam, não sabem o que me falar, e esse papai noel não foi diferente, ele não me disse nada, só me olhava quieto, nem me deu a bala, eu já sabia que não tinha chance de ganhar esse presente, então eu mesmo enfiei a mão no saco cheio de balas que ele segurava e as peguei, corri antes que a freira Guler me fizesse devolver as inúmeras balas que roubei, e me fizesse ficar só com uma.
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Seher

Quando aceitei esse emprego de cozinheira nesse orfanato, não imaginei que teria tanta gente , hoje é o meu primeiro dia e tudo está muito movimentado por aqui, as crianças estão recebendo a visita do papai noel, e eu nunca imaginei quantas crianças abondandas tinha em um lugar assim, até eu ver com os meus próprios olhos, são crianças de todas as idades, desde recém nascidos a adolescentes, é triste ver quantas não tem famílias, não tem um lar, por mais que as freiras tentem preencher esse vazio com toda a dedicação e amor que dão, posso ver nos olhinhos dessas crianças essa lacuna que é não ter um lar só delas.
Mais eu vou tentar fazer o meu melhor pra que se sintam bem, hoje como é um dia especial a ordem foi fazer lanches, e doces, e eu fiz cachorro quente pra criançada, e muitos brigadeiros, pela carinha de felizes que estão creio que agradou.
Ando na companhia da freira Guler pelo local servindo o restante dos lanches, enquanto isso a freira Guler me fala mais sobre a rotina do local e aproveita pra ir me apresentando as crianças, mais sua voz fica mais baixa a medida que vamos nos aproximando de um garotinho que está de costas pra nós olhando pela janela... a freira Guler sussurra.
- Seher...aquele é Yusuf, ele costuma ficar bem triste essa época do ano, então talvez ele não vá aceitar comer.
- Porque, o que acontece com ele essa época do ano?
- Ele fica decepcionado com o papai noel.
- Decepcionado?
- Sim, infelizmente ele nunca ganhou o presente que sempre pediu.
- E o que ele sempre pede?
- Desde que chegou aqui ele sempre pede a mesma coisa, uma retrato em família, ele sempre olha aquela foto que temos ali(ela aponta para o retrato pendurado na parede) e sempre pede um assim com um pai, e uma mãe, ele quer um retrato de família, da família dele.
- Meu Deus freira Guler...isso é...
- Sim Seher eu sei, é de cortar o coração.
- Nem sei o que dizer.
- Bom, vamos ver se ele come, ele sempre fica assim isolado nessa época do ano...