You are the reason

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Sung Hoon

Dizem que o tempo cura as feridas, que nos acostumamos com a falta de pessoas que amamos mas que foram embora por algum motivo, mas isso não aconteceu comigo.

Não importa quanto tempo passe, quantos meses se vão, eu não consigo tirá-lo da cabeça. Mesmo que já tivessem se passado uns bons 10 meses desde o nosso término, sempre me pego pensando nele, em como exalava um cheiro de pêssego devido ao shampoo que usava, o quão fofo ele ficava quando estava irritado, o jeito delicado de arrumar meus cabelos mesmo sem eu pedir, o bico em seus lábios quando via algo que queria comer mas não podia por estar seguindo a risca uma dieta que eu particularmente achava desnecessária. Kim Sunoo era a personificação da fofura, pelo menos para mim, e me dói agora ter que admirá-lo de longe quando tinha quase todos os dias poucos centímetros de mim.
Eu gostava de dizer que éramos o casal perfeito, pois mesmo com nossas personalidades divergentes, nos dávamos muito bem. É como dizem, os opostos se atraem. Nos conhecemos no primário, segunda série para ser mais exato, naquela época Sunoo tinha acabado de ser transferido e apesar de estar em um ambiente totalmente diferente do qual ele estava acostumado não deixava de sustentar aquele sorriso brilhante que me chamou a atenção assim que o vi. Me lembro de ter apenas um lugar vago na sala, ao meu lado, parece até obra do destino, tenho uma breve recordação do seu sorriso ao se sentar ao meu lado, das bochechas gordinhas tingidas em um rosado adorável entregando sua vergonha ao se apresentar pra mim com aquela voz infantil que, mesmo eu também sendo uma criança no auge dos meus 8 anos, me dava vontade de esmagá-lo e guardá-lo no meu bolso para protegê-lo do mundo. Nos tornamos amigos muito rapidamente, graças às habilidades sociais maravilhosas dele.

Naquele ano eu descobria minha paixão por patinação artística, meus pais haviam me matriculado em aulas de patinação as quais eu ia quase todas as tardes após a escola, e Sunoo ia comigo sempre que podia, ia às minhas competições locais, me apoiava em tudo o que fazia, ele estava lá em todas as vezes em que cogitei desistir do meu sonho e quase me batia todas as vezes que eu falava que não era bom o suficiente para ficar no pódio. Quando eu caí pela primeira vez ele estava lá para dizer que estava tudo bem, fazendo com que eu me levantasse com um sorriso no rosto, porque ele era o motivo, estava feliz com o seu apoio.
Foi fácil me tornar amigo do Sunoo e foi mais fácil ainda me apaixonar por ele, seu jeito cativava qualquer um em sua volta. No começo eu estava com medo, nunca tinha me sentido assim antes principalmente com outro garoto, a princípio eu achava que era apenas o simples fato de sermos próximos que fazia eu me sentir assim, até eu ver uma garota se declarando para ele, apesar dele ter a recusado eu senti muito ciúmes naquele dia, depois disso, de algumas conversas com a minha mãe, com minha irmã, apesar dela ser mais nova que eu, e algumas pesquisas na internet foram o suficiente para que eu abrisse os olhos para o que estava bem nítido para quem quisesse ver. Eu estava perdidamente apaixonado por Kim Sunoo.

Após essa incrível descoberta, passei meses pensando no que iria fazer, poderia simplesmente contar a ele e torcer para receber no máximo um não, foi então que decidi me declarar, prometi a mim mesmo que se recebesse um ouro na minha próxima competição internacional a primeira coisa que faria quando chegasse na Coréia seria me declarar para ele e para a minha sorte (ou azar, entendam como quiserem) o ouro daquela competição voltou pra casa comigo, junto a um coração nervoso e ansioso. Me recordo de marcar de encontrá-lo na praça perto de nossas casas no dia seguinte ao meu retorno e debaixo da árvore mais afastada me confessar, de um jeito meio desengonçado, tudo o que estava guardado a sete chaves durante aqueles meses dentro de mim e para a minha surpresa, antes mesmo que eu pudesse terminar de metralhá-lo com palavras como "eu sei que é estranho" e "tudo bem você não sentir o mesmo", ele se apoiou nos meus ombros ficando na ponta dos pés, olhou para os lados e então calou minha boca com um selinho. Aquele, senhoras e senhores, tinha sido meu primeiro beijo, e se antes eu já estava apaixonado, a partir daquele dia eu poderia dizer com todas as letras que estava amando Kim Sunoo.
Muitas explicações e muitos "eu também sinto o mesmo" depois, saímos daquela praça namorando, de longe um dos melhores dias da minha vida, uma pena não ter durado para sempre como havíamos prometido um para o outro. Depois daquele dia nosso relacionamento não podia estar melhor, apesar de escondermos de todos o que éramos e o que sentíamos um pelo outro, o fato de estarmos sempre juntos não levantou suspeitas de que havia algo a mais, mas tudo começou a desandar quando minha carreira como patinador começou a exigir mais tempo do que eu realmente tinha disponível, passei a ter mais competições internacionais, meus treinos começaram a ser mais frequentes e eu já não tinha mais tempo para o Sunoo e percebia o quão magoado ele ficava por conta disso, foi aí que um dos piores dias da minha vida chegou e rápido demais para o meu agrado, diga-se de passagem. Era tarde da noite quando eu recebi uma mensagem do Sunoo pedindo para que eu o encontrasse em frente a minha casa, esse era o único horário que realmente tínhamos para conversar, mas nem sempre ele estava acordado para responder, me lembro de seu rosto quando o encontrei sentado na escada que dava para o apartamento onde eu morava com meus pais e minha irmã, essa imagem é a que eu mais quero esquecer, seus olhos estavam inchados e vermelhos, igual a ponta de seu nariz e suas bochechas, indicando que ele havia chorado, seu cabelo estava bagunçado e ele não parecia nada bem. Recordo de ter perguntado o que havia acontecido, de receber um convite para me sentar ao seu lado vindo de uma voz embargada como se ele fosse chorar a qualquer momento, e chorou. Chorou quando disse que me amava, chorou afirmou ser o melhor para nós, chorou quando disse que tínhamos que ser fortes, chorou quando disse que eu encontraria alguém melhor que ele, chorou quando terminou comigo.
E eu chorei. Chorei pedindo para que ele não dissesse aquilo, chorei prometendo que arrumaria tempo para nós, chorei quando falei que ele era a única pessoa que importava para mim, chorei falando que largaria a patinação por ele, mas não adiantou. E foi ali, em meio a lágrimas e promessas quebradas que demos nosso último beijo, que ele se levantou e foi embora sem olhar para trás mesmo após eu ter gritado dizendo que eu o amava, sem me importar se iriam me ouvir, prometi naquela noite, que nunca iria esquecê-lo e estou cumprindo pelo menos uma das promessas feitas a ele.

To: My SunShine [SunSun]Onde histórias criam vida. Descubra agora