Teatro fuleiro | Style Week

Um beijo não muda nada.

Kyle puxou gentilmente as cortinas para o lado, vendo como Kenny luta desajeitadamente com a arma contra o boneco de madeira, sentindo suas bochechas enrubescerem só de imaginar a cena final: Kenny irá realmente o beijar ou apenas deixará um beijo simples na sua bochecha sem significado algum?

Do fundo, pode-se escutar o diretor PC gritar com Kenny sobre mostrar mais masculinidade em momentos de luta, enquanto Kyle é apenas o cavaleiro fracote que por algum motivo será o motivo da desistência do personagem interpretado por Kenny.

─ O que você está vendo?-, Stan, cujo personagem é o irmão da princesa, aparece e murmura baixinho, assustando o ruivo que espionava atrás das cortinas. - Ah, seu novo namorado.-, ele diz com uma leve deceção, olhando a forma como Kenny ergue a arma no alto e pede por fôlego.

─ Ele não é meu novo namorado! -, Kyle cora ainda mais, tirando os olhos do loiro.

─ Tanto faz, você só tá' andando com o Kenny desde que descobriu seu beijo gay com ele.

─ Isso é ciúmes?-, o ruivo ri, voltando a ver o treino de Kenny.

─ Bom, claro. Estou perdendo meu melhor amigo para meu outro melhor amigo, que palhaçada.

Kyle ri novamente, cessando sua risada ao ouvir Kenny lendo seus diálogos.

"Sinto muito, princesa, mas acho que não sou capaz de casar-me contigo. Estou apaixonado por um belo rapaz, que tomou meu coração." Kenny lê com emoção, mesmo que não tire os olhos do papel.

─ Ei, não acha que está exagerando? -, o McCormick volta para o diretor de testa franzida.- Todos da escola vão tirar sarro de mim!

─ Isso não é problema meu, Kenneth.-, o homem diz, batendo com a caneta contra a coxa. - Essa escola precisa de representatividade, e não o mesmo romance heterossexual de sempre.

─ Bote Stan para esse papel, ele iria amar representar o romance com Kyle.

─ É mentira.-, Stan murmura ao ver Kyle franzir o cenho para ele.

─ Kenny, eu posso fazer você passar de ano apenas com essa peça. -, os lábios do loiro franzem, parecendo pensativo.

─ Merda, se a gente se beijar, nossa amizade nunca mais vai ser a mesma! -, Kyle agarra nos ombros do moreno, gritando em sussurros.

─ Um beijo não muda nada, Kyle.

─ Como não!?

Stan revira os olhos e afasta o melhor amigo, conectando seus lábios aos do ruivo em um beijo calmo.

De repente, nenhum dos dois está escutando Kenny ler com tanta apreensão porque estão muito focados na boca um do outro.

O Marsh se afasta novamente, vendo o rubor nas bochechas de quem está pronto para dizer "que porra?".

─ Viu? Não mudou nada na nossa amizade. -, e Stan sai pela porta, sabendo do fundo do coração que tinha sim mudado alguma coisa.

Enquanto Kenny batalhava contra Kyle, Stan olhava tudo por trás das cortinas, com o coração atordoado só de lembrar que logo eles irão se beijar. Tudo aquilo passou em segundos, Kyle já estava no chão e a princesa saía do trono. A forma como Kenny conseguiu ganhar um beijo de Wendy e em breve ganhará de Kyle, só o deixou ainda mais estressado. Que tipo de amigo era esse?

As cortinas foram fechadas novamente e ocorreu outra troca de cenário, Kyle ficava mais nervoso à medida que o tempo ia passando.

─ Ei, Ky. Você não precisa de fazer isso. -, Stan diz ao se aproximar, vendo o rubor nas suas bochechas. - Ninguém vai perceber se você der um beijinho na bochecha.

─ Stan, eu vou ter que beijar o Kenny de língua! Os pedidos só aumentam, daqui a pouco isso vai virar um pornô gay e-

Antes que Kyle possa continuar falando, Stan puxa seu corpo para si e o beija nos lábios, invadindo sua boca sem acanhamento. Estando quase todo mundo lá além de Kenny, ninguém veio para interromper o beijo longo de ambos, nem sequer Kyle fez algo para acabar com isso.

O beijo só para quando Kyle geme nos seus lábios e o empurra com as mãos nos seus ombros, olhando para os próprios sapatos.

─ N-Não precisava...

─ Se por acaso virar um pornô gay, pode me chamar. -, o Marsh sussurra e vai conversar com Wendy, deixando seu melhor amigo curioso para trás.

─ Oh, belo guerreiro, não pude parar de pensar em ti desde que derrubei-te no chão. Achei encantador teu jeito fraco para lutar e quando vi, desisti da princesa. -, Kenny declara poeticamente, ajoelhado aos pés de Kyle. - Com isto, peço-te que aceite casar-se comigo.

─ Eu aceito! -, Kyle responde, emitindo o mesmo sotaque.

Quando Kenny se levanta, Stan não consegue parar de o olhar com raiva e angústia, desejando que fosse seu corpo no lugar, seus lábios beijando os de Kyle na frente de todos os pais, suas mãos agarrando fortemente as bochechas do ruivo para que ele simplesmente não foda tudo, e claro, o olhar apaixonado de Kyle após o beijo, tão entregue ao McCormick, mesmo sabendo que não se passava de uma cena dramática. No fundo ainda podia se ouvir Sheila gritando em choque enquanto as cortinas se fechavam, mas Stan estava tão focado nos dois.

Kyle correu assim que as cortinas se fecharam por completo, abraçando Stan com força.

─ Minha mãe vai brigar comigo, Stan! -, ele disse com a voz abafada, prestes a chorar no uniforme do moreno.

─ Ela sabe que só foi pro teatro.

─ Mas todos da escola vão achar que sou gay!

─ E qual é o problema?

Kyle se afasta e olha nos olhos do melhor amigo, negando com a cabeça.

─ O problema é que eu gostei do beijo do Kenny, e do seu- então talvez isso me faça realmente gay, o que indica que irei sofrer bullying para sempre por causa disso e a culpa é toda desse teatro inútil! -, Kyle diz aceleradamente, batendo seu punho na própria cabeça várias vezes.

─ Calma, você gostou? -, Stan o afasta com um sorriso enorme no rosto.

─ As coisas nunca mais vão ser as mesmas entre nós! -, o ruivo chora, sentindo tudo em volta de si desabar.

─ Kyle, eu acho que gosto de você.

─ Quê?

─ Eu e você, estamos apaixonados. -, o moreno explica, como se soubesse de tudo.

─ Isso eu sei, idiota. Só não sei o porquê-

Stan finalmente beija verdadeiramente Kyle, deixando suas mãos caírem para sua cintura e seus olhos envolverem todo o sentimento de paixão que Kyle consegue expressar apenas pelo rosto, ambos ignorando a mãe de Kyle gritando lá fora e todos que estão dentro da sala suspirarem de choque.