Dois
— Ei garoto! Vamos, acorda... Está achando que vai dormir o dia inteiro é? Temos muito trabalho pela frente.
Abri os olhos devagar, porem assustado ao perceber a mulher de cabelos cor de rosa vestida de vermelho, com um gorro sob a cabeça que insistia que eu levantasse.
— Quem... quem é você? Espere... Onde eu estou? — Eu estava deitado sob uma cama aconchegante, o que me fez entender o porque de enrolar tanto o acordar, estava em um quarto todo em tom azul, cheio de brinquedos, livros e até mesmo um computador, a mulher estava bem a minha frente e sorria, mas parecia impaciente ao mesmo tempo.
— Você faz muitas perguntas, não lembra de nada da noite passada?
Fiz que não com a cabeça e ela revirou os olhos e sorriu logo em seguida.
— Tudo bem, vamos ter tempo... agora preciso que vá se trocar, escolha uma roupa e corra para tomar café, a mesa já está servida.
Ela saiu saltitante pelo quarto, não devia ter mais de trinta anos, e era um ser bem estranho na verdade; parecia uma versão mamãe noel pop.
Caminhei até o armário e me admirei com a quantidade de roupas ali; o garoto que morava naquela casa era um sortudo mesmo; me senti mal por estar ali, e ter pego uma bermuda preta e uma camiseta azul de seu armário, mas haviam tantas roupas ali, talvez não desse falta e depois eu voltaria ali e poderia devolver...se eu ao menos soubesse onde estava...
Caminhei á passos lentos até a cozinha, onde a mulher servia chocolate quente em xicaras enormes; a mesa estava repleta de comida; doces, bolo, torta, panquecas e rabanadas... meu estomago se revirou e logo ela notou minha presença.
— Ah, sente-se, venha comer menino Joaquim.
Tomei um lugar, um tanto desconfiado, nunca ninguém havia me tratado tão bem assim.
— Como sabe meu nome? Quem é você? E onde estamos?
— Você faz muitas perguntas...
— E você não responde nenhuma. — peguei uma fatia de bolo e levei a boca, sentindo o gosto doce e macio que tinha.
— Eu sou a Estela, é claro. — sorriu consigo mesma, levando a xicara a boca, como se tentasse esconder o riso.
— Qual é a graça? Escuta, como eu vim parar aqui? Essa casa é sua? Onde está seu filho?
Ela cuspiu sob o prato á sua frente, quase engasgando.
— Quantos anos acha que eu tenho? Eu não tenho filhos.
— Não quis ofender, mas idade pra isso hoje não significa nada sabe... Mas, pode me responder como vim parar aqui?
Ela levou a mão á cabeça, coçando a testa como se estivesse pensando no quê dizer.
— Bom... eu te trouxe pra cá, porque estava tremendo de frio, me comovi, só isso.
Estreitei os olhos, desconfiado; ninguém agia daquele modo sem esperar algo em troca, mas antes que eu falasse mais alguma coisa, Estela saiu correndo para tirar cookies do forno, e estavam com um cheiro tão apetitoso quanto a aparência, então eu me esqueci por um momento de todas as duvidas e desconfiança e ataquei a comida posta sob a mesa, seria um desperdício não aproveitar aquilo, fiquei me perguntando se ela me deixaria levar um pouco daquilo para mais tarde, sabia como seria difícil conseguir comida.
— É véspera de Natal, eu vou te levar á um lugar magico, incrível, talvez você nunca tenha ido lá... — disse ela, rindo consigo mesma, enquanto decorava os cookies e cantarolava uma musica natalina.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Era uma Vez No Natal
Short StoryJoaquim é um menino que muito cedo teve que aprender a sobreviver sozinho nas ruas; na vespera do Natal, ele tem a chance de ter seu maior desejo realizado, e recuperar assim a fé e esperança de dias melhores. Esse conto Natalino cheio de encanto, t...