Capítulo 1

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Laxus

O cheiro de sangue fresco me inundava, eu podia ouvir a morte me xingando por fazê-la trabalhar em uma quarta de manhã. O longo corredor estava iluminado por velas e decorado com corpos, que jaziam em posições diferentes, em alguns se via os furos das adagas, já outros acabaram com o pescoços quebrado.

-Lena, qual a situação? - perguntei para o rádio em minha mão

-Não vejo ninguém nas proximidades, como tá aí dentro? - a voz do outro lado era baixa e ansiosa.

-Já estou descendo, pega o carro e me encontra na porta do fundo - disse antes de virar as costas para a chacina que acabara de cometer.

Não lembro muito dos meus primeiros anos de vida, mas sei que quando aprendi a andar já fui colocado em treinos intensivos de luta, com 5 anos eu já sabia montar e desmontar armas maiores e mais pesadas do que eu, com seis anos matei pela primeira vez e com nove eu já havia parado de contar.

Admito que nasci em um ambiente complicado, em que torturas e violência eram permitidas se houvesse algo que as justificassem. Claramente esses ensinamentos me fizeram ser expulso de várias escolas, motivo pelo qual tiveram que contratar um professor particular, até porque geografia não é menos importante do que saber como montar uma M4/A4. Não costumo lembrar de muitas pessoas, mas devo dizer que o velho que foi contratado se mantém em minha memória, ele tinha uma barba branca rala e a pele preta tinha poucas rugas, seu corpo entregava que ele nunca havia tido qualquer porte físico digno, e para andar se apoiava em uma bengala de madeira.

Lembro do primeiro dia em que fomos apresentados, eu o aguardava em uma das salas da propriedade em que vivia, ele entrou caminhando com aquela bengala batendo no chão, vestia um suéter surrado e calça bege folgada, além do óculo pousado no nariz, dei uma boa risada quando o vi.

"Então foi isso que escolheram? Um velho moribundo?" - não tenho orgulho de dizer o quão egocêntrico eu era quando criança, mas ao invés de me repreender, meu professor apenas riu, uma risada rouca e sem alegria que me deixou irritado.

"Não sabe falar velho?" - insisti, querendo que ele brigasse comigo.

"Que tal começarmos com alguma matéria que você goste?" - desconversou o senhor, se aproximando de mim.

Eu era convencido demais para entender que aquele velho emanava um tipo diferente de perigo. Levantei do chão com raiva e chutei a bengala do senhor, ou pelo menos tentei, eu realmente pensei que o chute havia sido rápido o suficiente, mas aquele senhor frágil era extremamente mais ágil do que eu, e antes que pudesse perceber eu já estava caído com as costas no chão e olhando para o teto, não consegui acompanhar o que tinha acontecido.

Levantei mais quatro vezes depois da primeira queda, em meu braços já haviam hematomas, do meu nariz escorria sangue, estava suado e com o corpo doendo, quando tentei levantar pela quinta vez, senti a bengala nas minhas costas impedindo-me.

"Porque não nos sentamos?" - sugeriu o velho, cuja voz permanecia inalterada, nem um pouco ofegante. Ele não havia rido nenhuma vez das minhas quedas, nem se mostrou superior, mesmo tendo me arrebentado - "Você é jovem, tem muito mais energia do que eu, podemos brincar outra hora, que tal?"

Aquelas palavras atingiram meu peito, ele me deu um pouco de crédito depois de me humilhar? Inspirei fundo apertando a mão em punho, meu lado racional me disse que era melhor aceitar a oferta, afinal, eu não iria ganhar daquele velho, mas com certeza poderia aprender muito com ele, e então o arrebentaria.

Entre o mar e amarOnde histórias criam vida. Descubra agora