Capítulo Único

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Fitei com bastante indiferença o cliente mais persistente e ultimamente, mais habitual do bar onde trabalhava "Deadly Sins". Desde da primeira vez que nos vimos naquele balcão, começou com as tentativas de sedução. Mesmo que reconheça os meus atributos, reconheci nele o rosto ruborizado, olhos um pouco desfocados da realidade e o riso quase constante, as características básicas de um pirralho embriagado. Portanto, descartei o interesse até porque não era o primeiro e com certeza, não seria o último estudante universitário com falinhas ridículas de sedução.

Contudo, descobri com o tempo que era o mais persistente entre todos.

Porquê? Por que razão aceitei trabalhar num bar próximo a estudantes cujas hormonas ainda não tinham entrado na fase adulta? Bom, uma das razões era muito simples. Pagavam bem.

- Acho que já nos vimos antes. – Piscou-me o olho e tive que resistir à tentação de revirar os olhos, perante mais um momento que não o levaria a lado nenhum.

- Então, deves ver bastante porno gay. – Respondi num tom seco.

Após um primeiro momento de surpresa da parte dele e silêncio de ambas as partes, fez o que não esperava. Deixou escapar uma gargalhada ao balcão.

Ele realmente pensava que era uma piada? Podia ser, mas infelizmente a falta de dinheiro já me trouxe dias pouco glamourosos na vida.

- Pensas que estou a brincar, puto mimado? Aposto que os teus paizinhos devem pagar toda a faculdade e as bebedeiras que apanhas quase todas as semanas aqui. Desanda daqui, pirralho. – Falei, vendo outro cliente fazer-me sinal para ser atendido.

Pela expressão no rosto dele, parece que finalmente algum sentido tinha entrado naquela cabeça. Isso ou ter-se-ia sentido insultado pelas minhas palavras. De qualquer das formas, assim que voltei a olhar para o balcão, já não estava lá com os olhinhos de sedução barata.

Eren, assim se chamava o meu stalker no bar que se apresentou sem eu ter pedido e estava a frequentar um curso de Relações Internacionais. Entre as informações que não pedi, dizia ter-se mudado para Trost depois de ter entrado na faculdade da cidade. Vivia sozinho, apesar de ter um círculo de amigos bem ruidosos com quem normalmente vinha até ao bar e entre eles, vários dividiam quartos. O que apenas confirmava as minhas suspeitas de menino dos papás que não precisava de se preocupar com o dinheiro, pois tinha tudo facilitado.

É incrível a quantidade de coisas que me contava sem eu lhe perguntar absolutamente nada. Bom, nada também seria mentira. Às vezes, chateava tanto que cedia às tentativas de conversar comigo e pelo menos, dava-lhe a sensação de que estava a escutá-lo.

Sendo também certo que o pirralho era um idiota, mas era atraente. Definitivamente, o meu tipo se conseguisse ficar calado e deixar-me apreciar em silêncio, os olhos e aquele cabelo que já tinha puxado uma vez com o pretexto de expulsá-lo do bar. Talvez também já tivesse parado para olhar para a boca dele algumas vezes e não ter ouvido uma só palavra daqueles lábios apetecíveis.

Também tenho os meus momentos de fraqueza, ok? E é totalmente legítimo, desde que não faça nada. O meu patrão não ficaria satisfeito com esse tipo de confraternização com os clientes, apesar de que todas as noites há strippers no palco principal. Quando digo strippers, refiro-me também a alguns do sexo masculino e como é óbvio que o meu stalker e eu jogamos na mesma equipa, pensei que se sentisse distraído pelo menos nas noites de espetáculo masculino. Porém, graças à fixação dele em mim, o meu ego continuava em alta. O que não continuava tão bem era a minha perceção acerca do Eren que depois de dias sem aparecer, subitamente interpela-me à saída do bar com o ecrã do telemóvel dele à frente da minha cara.

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