Peach

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  Vamos chamar você de Peach, porque você é doce, amável, mas o seu interior não me deixa aproveitá-lo por completo.

  A minha vida estava no pico. Pico de estresse, felicidade, tranquilidade, sorte e descobertas. Era o curso, era a rotina, talvez o novo emprego, com a ajuda dos meus amigos. Eu estava no meu pico, e isso era bom e ruim ao mesmo tempo. Em meio a esse iceberg, eu enxerguei você. Foi por acaso, rápido - talvez eu teria descrevido como encontro não-o-suficiente - e eu não te conhecia. Mas três segundos encarando os seus olhos nos meus me fez pensar que talvez eu te conhecesse, mas não sabia, Peach.

  Eu sou uma pessoa que demonstra interesse, amor, carinho e cuidado por contato. É algo que eu não consigo mudar. E eu só percebi que estava fazendo isso inconscientemente quando estava vestindo os seus acessórios, que nem sei como peguei. Na verdade, eu acho que foi você quem me deu, e eu não entreguei quando normalmente faria porque queria ouvir a sua voz quando pedisse. Eu não sou rasa, mas só consigo enxergar aquele dia por completo depois de muito pensar nele por sua causa. E quando ouvi sua voz de novo fiquei com vergonha, ao invés de insistir em te conhecer. Sabia que seria difícil te ver de novo.

  Você estava ali, naquele dia, com tanta gente que eu não conhecia. E somente eu não conhecia todos que estavam ali. Mas, por Deus, eu acho que só te enxerguei. Digo isso porque quando recebi mensagens de outra pessoa que também estava ali, jurei ser você e fiquei feliz. Mas eu não sabia seu nome, era difícil distinguir a aparência e o meu julgamento não estava muito normal aquele dia. Não era você, mas eu correspondi a conversa com a mesma intensidade que faria se fosse. 

  Um dos meus amigos notou a conversa, e me deu abertura o suficiente para lançar algumas perguntas despretenciosas sobre o contato. Não era você, só ali soube, e eu fiquei sem saber o que fazer. Talvez a sua primeira impressão não tenha sido como a minha. E eu realmente gostei daquela conversa com alguém que eu poderia chamar de Watermelon - doce e viciante -, se o apelido não fosse terrível e longo. Poderia ser uma nova chance de gostar de alguém, então eu continuei. Mas eu soube exatamente que era você quando eu recebi outra mensagem de uma conta que eu não seguia. Eu senti a conexão de novo.

  Naquele chat, conversamos sobre coisas aleatórias, que comumente poderia ser uma perturbação para qualquer outra pessoa, mas eu adorava falar assim. Era mais fácil conhecer alguém pelas bordas de uma conversa simples. E eu alimentei o nosso contato, Peach, até você começar a não me corresponder mais. Não é superficialidade, mas eu não gosto da espera, de ser ignorada e de não ser correspondida da mesma intensidade, incisivamente. Você começou assim, e eu não sabia o que fazer. Se fosse qualquer outra pessoa, na próxima mensagem recebida, eu nunca mais responderia. Mas, não sei. Eu não queria fazer isso. Seria possível gostar de alguém tão facilmente? Eu estava em apuros.

  Já tinha sido avisada que você era uma pessoa triste. Mas eu também sou, então era algo fácil de burlar. Até você revelar esse lado e me ignorar em todas as vezes que eu tentava me aproximar ou ajudar. Ali eu decidi de iria te deixar seguir o seu caminho sem interferência. Eu me reconheci na sua tristeza. Eu me enxerguei nos seus olhos, naquele dia. Eu via a mesma profundidade ao olhar no espelho. E eu insisti.

  Você poderia não saber, mas eu consigo ajudar as pessoas de longe, como um imã. Eu adoto a tristeza de alguém se me concentrar bem fortemente. Eu posso definhar, mas sabia que isso funcionava. Eram as consequências de sensibilidade hereditária. Eu me concentrei todos os dias na sua melhora, e todos os dias eu estava triste, abandonada e com vontade de chorar. Se era assim que você se sentia, eu estava bem em estar também.

  Fiquei feliz com novas mensagens dizendo que você estava melhorando, Peach. Que era uma fase ruim. Mas eu sabia que não era muito passageiro, só não sabia a motivação. Eu senti a sua tristeza, e tinha gosto de amor não correspondido. E você me confessou isso em uma carta aberta à desistência de mim. Não era loucura minha, você também sentia o que eu estava sentindo, mas o seu interior já estava marcado por outra conexão. Ali eu desisti também, mas o sentimento nunca sumiu. Eu ainda tenho o impulso de te responder, te oferecer a minha mão, mesmo quando sei que vai machucar se você pegar ou recusar. Pensar em você forma um nó no meu estômago.

  Eu comecei a escrever isso depois de ontem. Tive uma noite maravilhosa, na companhia de Watermelon, mas ele fez o erro de citar você para mim, e ainda citar aquele dia, o primeiro dia da minha obsessão por você. Disse a sua versão da história, e eu soube que você sentiu o mesmo que eu logo no primeiro dia. Você me fez doente, eu não sou assim. Eu não quero reviver o que senti. Foram quase dois meses triste, e esse é o meu máximo depois de quase uma vida inteira. Me sinto mal escolhendo o fácil, o doce e viciante, ao invés de você, mas não posso insistir em alguém que não pode pertencer a mim, quando existe outra pessoa alimentando o meu amor e me fazendo ceder de bom grado.

  Você disse para outra pessoa que se apaixonou por mim naquele dia. Também me confessou isso depois. E eu confesso isoladamente, através desta, que senti o mesmo. Mas essa é a minha carta aberta a sua desistência. Eu desisto de me machucar.

  Com amor.

Carta aos meus não-amoresOnde histórias criam vida. Descubra agora