Ele a observava há aproximadamente cinco horas. Precisava se certificar que ela não estava sendo seguida, que ele não estava sendo seguido, que as pequenas pistas deixadas por ele seriam entendidas e seguidas e, como era esperado, ela desvendava e ia para o próximo passo. Avançando e rindo como uma menina que caça borboletas.
Cha young era aquela menina: alegre e saltitante pelo campo, olhando as borboletas coloridas, entendendo os padrões, parando para sorrir e não temendo o caminho a ser tomado. Ele sentia falta de observá-la. Imensamente. Em italiano, havia a palavra mancante para falar sobre algo que faz falta, que foi perdido, mas a falta que ele sentia era algo maior. ilh-eobeolin, também não traduzia.
Por entre as galerias, agora muito movimentadas, do Geumga Plaza, ela andava apressada com seus saltos elegantes, mas desconfortáveis. Ele sorriu quando ela olhou para o painel eletrônico da loja de telas no andar térreo vendo as palavras aleatórias como "sorte", "amor", "seja feliz" e o mais importante "Seochon Village,304". O endereço foi mostrado apenas uma vez
Ele deu partida na van de entrega de flores e partiu esperando que ela fizesse o mesmo em seu carro. Dirigir até a zona Oeste de Seul naquele momento não seria rápido, mas seria o ideal caso qualquer um que quisesse segui-los, o rush confundia qualquer perseguidor menos atento e sabendo que ela tomaria atalhos desconhecido. Ao chegar no bairro mais pitoresco de Seul, com seus pequenos café e floriculturas, sebos e lojas de artes antigas, manobrou e estacionou na lateral de uma viela onde em suas esquinas funcionavam uma loja de artesanatos de arrozais e uma floricultura miúda cujo dono era o um antigo amigo a quem ele sempre pedia aquele favor. Vincenzo carregou as caixas plásticas contendo orquídeas, lilases e gypsophilas e entrou confiante e ligeiramente ansioso pela porta de bambu e folhas de papel pergaminho, como as antigas construções com influência japonesa da época da ocupação.
- Sr. Yoon. - Fez uma mesura e o homem de quase cem anos, com olhos em formato de U, como se talhados em seu rosto sorriu.
Como sempre, se cumprimentavam com poucas palavras, deixando que as atitudes falassem. O homem terminou de passar o chá enquanto ele distribuía mudas e hastes pelas prateleiras e cestos de madeira antigos pelo chão. Vincenzo pegou sua xícara, fazendo outra reverência e levando a porcelana com chá fumegante para cima, onde sentava-se no tatame de palha entrelaçada e aquecida para apreciar o ginseng preparado para ele. Olhou para o céu azul claro e acinzentado através da janela com persiana de papel de arroz. Estava quente e logo seria primavera.
De todos os momentos de ansiedade, de todas as situações que exigiam dele autocontrole, frieza e uma postura egoísta, aquele era o único em que ele não conseguia fingir que não se importava com o que estava preste a acontecer
O escalade preto que um dia foi dele estacionou do outro lado da rua pelo que viu pelas frestas das persianas que eram levantadas pela brisa suave, o cabelo dela balançava com aquela brisa, assim como o diáfano vestido branco de bordado igualmente imaculado de flores miúdas. Ele riu emocionado. Era quase como se ela estivesse disfarçada. Do pequeno quarto, na parte superior de uma floricultura miúda em uma ruela de Seochon, de tanto repetirem aquele encontro, ele poderia apenas imaginar o que ela faria: Caminharia calmamente pelos estandes do sebo em frente, passaria a mão pelos tecidos das tecelagens originais do local vizinho, atravessaria a rua para ver de perto os quadros expostos na galeria de artes da esquina oposta e então ela chegaria na loja do senhor Yoon e pegaria um ramo de Gypsophila nas mãos e levaria ao nariz, não escondendo do velho homem o cheiro nada agradável dos exemplares. Tudo isso, enquanto dava tempo de verificar se estavam sendo observados ou seguidos.
- Elas deveriam cheirar tão bem quanto são bonitas! – Cha Young e sua forma direta de falar.
O Sr. Yoon ia rir com ela e convidá-la para entrar, apontando o bule de chá, uma xícara descansando no pires de porcelana pintada à mão e o outro pires igual, sem xícara. O sinal de que ele estava ali, esperando por ela. Cha Young faria uma mesura e entraria mais no ambiente, até que a luz do fim de tarde gradualmente a atingisse por completo enquanto ela chegasse até a estreita escada entre a porta dos fundos e o pequeno quintal. Vincenzo até sabia, agora, que seu coração voltaria a bater e ele seria capaz de respirar novamente, assim que ela sorrisse para ele como fazia para nenhum outro.
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A night in Seochon
FanficVincenzo estava acostumado à vida a qual foi apresentado: Itália, luxo e violência entre leis e grandes famílias mafiosas, mas ao conhecer suas origens e entender os caminhos que o levaram até ali passou a sentir um vazio incômodo, uma necessidade d...