Único

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Hermione estava preocupada. Eu via em seu rosto a cada vez que recebíamos mais um resultado negativo. Ela dava um sorriso nervoso, meio de lado, tentando esconder a aflição, mas eu a conhecia bem demais. Ela não podia me enganar. E a cada vez que algum dos meus irmãos anunciava que a família iria aumentar, eu sentia a pressão aumentar. Era inevitável e até irônico considerando o número de irmãos que eu tinha. Com o nascimento de James agora eu era o único da família que ainda não tinha dado um neto para meus pais — quer dizer, Charlie também não, mas Charlie é Charlie.

Em certo ponto chegamos a procurar ajuda médica, talvez houvesse alguma coisa de errada conosco, certo? Errado! Tudo absolutamente normal! “Acho que vocês estão estressados demais. Talvez vocês devessem procurar algum hobby ou atividade para relaxar.” Foi o que a médica trouxa disse. Relaxar! Ora, muito fácil para ela falar! Mas, tudo bem. Resolvi fazer o que ela disse não por mim, mas por Hermione — apesar de também estar me sentindo prestes a explodir.

O trabalho no Ministério me consumia demais, me cansava demais. Era obrigado a viver em alerta todos os dias. Tínhamos vencido a Guerra para viver em paz, certo? Mas a cada dia eu me sentia mais distante dessa tão sonhada paz. Harry parecia bem, como se tivesse nascido para aquela adrenalina constante; eu dava graças aos céus quando voltava para casa. Só que agora todos os dias encontrava minha esposa triste. Era um pesadelo. Então se o que a tal médica disse tinha chances de funcionar, eu precisava tentar. Foi com isso em mente que encostei numa floricultura na volta para casa e comprei algumas mudas de planta.

Escolhi flores. Pareciam mais fáceis de cuidar. Alguns bulbos de tulipas, outros de margaridas e, por fim, rosas. No começo ela torceu o nariz e foi contra:

— Oras, Ronald, se for para ter um hobby que seja um que tenha a ver com meus livros…

Mas mesmo sendo contra no começo, logo estava criando um jardim. Descobriu através da internet que as tulipas no plantio deviam ser distribuídas em buracos e deixar os lados pontudos para cima. Observei Hermione colocar a terra nos buracos juntando com as mãos. Por fim, depois de fazer tudo com a maior atenção e cuidado, ela pegou um regador e começou a regar água suavemente em cada flor.

— Regá-las suavemente após o plantio é o ponto-chave para que ela comece logo a crescer.

O “ponto-chave”. Agora minha esposa sabia os pontos-chaves de cultivo de plantas! E ela era tão delicada no regar, fazia com tanto cuidado e carinho… Sim, carinho! Coisa que eu não recebia dela há tempos. Eu olhava carrancudo para o canteiro como se ele fosse uma pessoa roubando todo o carinho de Hermione para si.

Já a margarida ela descobriu um lugar em seu canteiro que pegava boa parte do sol, já que a planta gosta de calor. Distribuiu cada muda no buraco e logo as regou, mas disse avisando:

— Margaridas precisam de água todos os dias, mas atenção se for algum dia regar meu canteiro não encharque o chão, pois muita água faz ser propício para o surgimento de fungos que matam a flor.

Agora eu não podia mais simplesmente ligar a torneira para regar uma singela margarida, senão segundo ela eu as afogaria. Logo me senti um inútil que não sabia nem observar o tanto certo de água para se colocar.

As margaridas eram outras que viviam precisando de atenção. Não bastava apenas plantar — tinha que ter o lugar certo, a quantidade de água certa. Detalhes demais! Foi assim que acordei com os berros da minha adorada esposa numa manhã de domingo.

— RONALD! Eu não acredito que você fez isso!

— Fez o quê? — Juro que não pensei em verbalizar essas três inocentes palavrinhas, mas foi tarde demais.

Ciúmes entre flores Onde histórias criam vida. Descubra agora