O clima entre nós está pesado, ninguém fala nada, na verdade ninguém nunca falou, Alexia era quem quebrava o gelo.
Passam horas e não paramos de andar, acho que no final tudo isso terá sido em vão para acabarmos morrendo por desidratação.–Esperem aqui! –Ordena Hélen com uma voz monótona de desgosto explícito.
–Por quê? –Pergunto suspeitando dela.
–Sou mais resistente que vocês, vou procurar água fiquem aqui. –Estranho tal atitude, mais resistente ela pode até ser, porém convenhamos que está longe de ser minimamente solidária.Hélen sai andando, enquanto eu e Bruce repousamos no chão. Minha boca seca começa a me incomodar, uma espécie de aflição que em certos momentos incomoda mais até mesmo do que alguma dor. Para distrair minha mente desses pensamentos resolvo puxar assunto com Bruce, mesmo sabendo que isso aumentaria minha sede, mas tentando descobrir um pouco mais sobre.
–Posso perguntar uma coisa...?
–Manda. – Ele diz cansado.
–Seus olhos brilham... brilhavam diferente quando olhavam para Alexia. Estou certa ou apenas delirando pela desidratação?
Um silêncio absurdo se instaurou ali de tal maneira que se a pena de um pássaro caísse do outro lado da arena nós seríamos capazes de ouvir. Penso em retirar a pergunta, mas na mesma hora ele me responde:
–Não eram só meus olhos que brilhavam diferente... Meu coração batia diferente toda vez que ela sorria nesse inferno, que ela colocava uma mexa de seu curto cabelo atrás da orelha, toda vez que ela chamava meu nome. –Vejo seus olhos marejarem e ele respirar fundo em meio aos leves balbucios que ele tenta controlar. –Ela se foi sem que eu tivesse a chance de contar a ela o que sentia... O que ainda sinto...
Ele seca as lágrimas com medo de parecer frágil, algo em mim sabe que as câmeras da capital estão voltadas para nós.
–Pensei que gostasse de Hélen...
–Nós até tínhamos algo no 5. Mas não há como um relacionamento sobreviver aos jogos, não quando ambos estão na arena. Acho que eu criei tanto medo de Hélen e tanta raiva disso tudo, que quando Alexia apareceu sorrindo em meio a tanto medo, eu simplesmente não sabia mais o que sentir.
–Você sente falta dela... Não é?
–Você nem imagina... –Ele suspira carregando uma tristeza que pesa o ambiente.
–E se... –Calo minha boca quando me ligo que o que quero perguntar talvez seja pesado demais até para os jogos.
–O quê?
–Esquece!
–Fala, Aisha. Mesmo doendo, falar dela me trás alguma paz... Deixar sua memória viva, pelo menos antes que Hélen volte e eu finja que nada aconteceu.
–O que... O que faria, se vocês dois fossem os últimos aqui? –Essa pergunta não tem segunda intenção alguma, mas eu como uma pessoa que nunca sentiu por ninguém o que Bruce demonstra por Alexia, queria saber até onde esse sentimento vai.
–Não sei... É tudo muito confuso... Mas com a dor que sinto agora, acho que sacrificaria minha vida por ela.
Teria aquela fala sido falsa? Algo na intenção de manipular os telespectadores e, portanto, os patrocinadores para que sintam empatia e pena de Bruce para ajuda-lo? Seria possível mesmo se apaixonar tão rápido num lugar como esse por alguém que nunca vira antes? Quer dizer, eles nunca sequer se beijaram... Talvez isso não seja preciso para amar alguém... Acho que não tenho como saber com total certeza se ele diz a verdade ou não, mas não consigo sentir mentira em suas palavras, pelo contrário...
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A 70ª edição dos Jogos Vorazes
ActionA 70ª Edição dos Jogos se aproxima... Natasha é uma menina de 16 anos que vive no distrito 4. Ela cuida de sua família desde que o pai morreu em um acidente de barco deixando-a sozinha com sua mãe, seus avós maternos e paternos e sua irmã mais nova...