A história que eu irei te contar hoje, você nunca ouviu e talvez nunca ouça outra vez, isso porque até hoje apenas eu a conhecia, mas primeiro deixe-me lhe apresentar alguns fatos. Você provavelmente já estudou sobre o governo de Atenas e como eles "revolucionaram" com um estado democrático, onde vários homens chegavam a uma decisão em conjunto. Mas existia uma mulher, e é sobre ela que contarei.
Nos arredores da cidade de Atenas, nas florestas, vivia uma linda dama. Ela era muito linda, além de muito sábia e perspicaz, muitos achavam que era uma deusa menor que quisera viver entre eles, pois ela sabia curar ferimentos e fazer plantas crescerem. Vários juravam, também, já tê-la visto falar com animais, no entanto, Alexia não era uma deusa, era apenas uma mulher que conhecia a natureza e sabia como usá-la a seu favor, mas nunca usando disso para prejudicar a mesma.
Ela era suave e calma, mas tinha algo que a incomodava profundamente, os homens ricos no poder de Atenas. Estes achavam que só por terem terras e riquezas podiam usá-las sem moderação, além disso, deixavam suas mulheres sem poder algum para discutir de igual para igual o futuro do lugar onde moravam. Por isso, Alexia sabia que um dia chegaria o momento de intervir e sempre repetia a mesma frase quando alguém que conhecia seu propósito perguntava o porquê "O fato de o mar estar calmo na superfície não significa que algo não esteja acontecendo nas profundezas".
As mulheres eram apenas símbolos naquela sociedade, quando nascia uma herdeira, o pai, assim que a menina completasse idade suficiente para se tornar apta para casar, a negociava com outras famílias. E assim que o acordo fosse fechado, o marido presenteava a esposa com uma joia com o brasão da família, um símbolo que parecia ser inofensivo e carinhoso na verdade era um significado de posse sobre ela. Este fato deixava Alexia com nojo, como o ser humano, teoricamente mais inteligente que seus companheiros animais, podia achar que outro ser vivo semelhante a ele podia ser do seu poder?
Alexia passeava pela cidade com Hecate, sua companheira loba, em um dia lindo de primavera quando soube que era hora de intervir. Lara, esposa de um dos anciões do conselho, estava parada chorando, pois seu marido a repreendia na frente de todos.
— O que você faria lendo? Sua única preocupação aqui é ser bonita o suficiente para ficar ao meu lado e me dar um herdeiro!- ele chegou mais perto dela e lhe acariciou o rosto limpando as lágrimas. — Estamos entendidos? Nada de perguntas tolas novamente.
Assim como Hecate, ela queria tirar o homem de perto da garota, mas se fizesse isso naquele momento só traria desordem. Voltou para casa em silêncio, fingindo não se incomodar com aquilo. Passaram-se um ano daquele fatídico evento, todos os dias Alexia pesquisava sobre encantamentos, poções, lendas, histórias e qualquer coisa que pudesse lhe ajudar a dar a liberdade que aquelas mulheres necessitavam, anotava tudo em seu grimório e se preparava para o que estava por vir.
Além disso, sábia como era, durante aquele um ano também havia feito amizade com as mulheres da cidade e hora ou outra contava histórias sobre grandes deusas, as ensinava a ler algumas palavras ou plantava uma semente de dúvida sobre como seriam suas vidas se não precisassem pedir permissão para tudo.
Escolheu agir no dia do solstício de verão, quando a natureza estaria em sua plenitude cheia de vida e quando ocorreria a grande assembleia para decidir o que fazer no solstício de inverno. Seu plano consistia em chegar na Eclésia e conversar com eles, ser o exemplo vivo de uma mulher independente e ainda assim, presentear-lhes com algo mostrando que eram iguais.
Chegado o dia, ela preparou tudo, conferiu mais uma vez suas anotações no grimório e foi com Hacate até a Ágora, acariciou a amiga e pediu para que ela a esperasse por ali. Aguardou pacientemente todas as formalidades, analisando o papel das mulheres ali, que era basicamente servir água e alimento aos homens fingindo serem mudas. Ela sabia que sua presença ali era claramente inusitada, causando curiosidade e, também, desconforto. Por isso, quando se levantou e foi até o meio da praça ninguém a impediu logo de cara.
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Atenas, a história que nunca te contaram
Short StoryPor séculos as pessoas estudaram e acreditaram que conheciam sobre a famosa "Democracia Ateniense" o que ninguém sabia é que existiu uma mulher que mudou essa história e é sobre ela que iremos contar. História escrita em conjunto com a @Natacha_Assis