O pior ou melhor dia.

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Yamaguchi hesitantemente abriu a porta, ouvindo o tilintar fraco da campainha atrás dele ressoar.

Seus olhos se desviaram para uma mesa distante com duas cadeiras localizadas perto da vidraça no canto direito. Em uma das cadeiras, seu namorado esperava pacientemente por ele enquanto desfrutava da companhia de um livro.

Dando o primeiro passo, ouviu os burburinhos recorrentes que recebia, geralmente focados no conceito de suas vestimentas.

Ele desenrolou um pequeno nó que se formou perto de sua orelha, deixando alguns fios verdes contíguos ao branco atrás dela, intencionalmente mostrando os inúmeros piercings escondidos naquela área.

Ele se aproximou com cautela, na esperança de surpreender seu parceiro, mas este já havia notado sua presença na entrada devido à sinalização do sino escondido dentro de um macaquinho com pratos em miniatura.

— Serei capaz de te pegar desprevenido um dia? — comentou em tom falsamente derrotado.

— Não conte com isso — seu namorado, ainda folheando cada página, retrucou.

Riu baixinho com a impiedade das palavras do loiro na frente dele, exalando um pouco de ar no processo. Ele puxou a cadeira com brevidade moderada, acomodando-se depois de mover os quadris algumas vezes.

Transcorreu sua atenção para os arredores, notando a parede em cor azul celeste, como um céu pacífico por volta do meio-dia. Ele cumprimentou sutilmente uma garçonete com uma inclinação de cabeça, esta que o encarou, caminhando com uma bandeja coberta com uma fatia de bolo de morango, batatas fritas e dois sucos verde-menta, que ele presumiu serem de abacaxi e hortelã, para contrastar.

A mulher de aparência comum aproximou-se da mesa, distribuiu os pratos pela superfície aos respectivos donos e, antes de sair, pronunciou a frase usual: "Boa refeição".

— Tomei a liberdade de pedir nossa refeição, espero que não se importe — disse o loiro, frisando onde havia parado com um marcador e colocando o livro na bolsa, voltando-se para ele. — Como está sendo seu dia?

— Cansativo — ele riu, passando os dedos pela mão do namorado, logo entrelaçando-as. — Mas me sinto mais fortalecido por poder vê-lo agora, Kei.

— Sério? — Tsukishima estampou um sorriso presunçoso no canto dos lábios, admirando a visão de suas mãos juntas sobre a mesa.

Por toda parte, era possível encontrar olhares curiosos dirigidos a este casal aparentemente tão diferente.

Tadashi Yamaguchi usava uma jaqueta de couro preta, calças rasgadas e botas de cano curto no mesmo tom. Sua blusa, justa e curta no corpo, tinha o nome de uma velha banda estampada na frente. Em contrapartida, estava Kei Tsukishima, com um visual clássico. O dourado predominante em seus olhos realçava uma cor cremosa em seu sobretudo, que caía quase até o joelho.

Ver estilos tão distintos confundiu a mente das pessoas que passavam, olhando indiscretamente para a mistura.

Mas enquanto esse julgamento acontecia bem perto deles, ali, na mesa do casal, havia outro assunto:

— Você ficou sabendo que Kageyama tentou se pagar de gênio para o Hinata de novo? — sussurrou Tadashi com um sorriso condescendente na boca. — Aparentemente, ainda existe um jogo de conquista no relacionamento deles.

— E o idiota do Hinata acreditou, não foi? — Tsukishima falou, seguindo a provocação de seu parceiro.

— Que maldade, Tsukki — embora soasse como uma reprimenda, Tadashi gargalhou abertamente. Ele adorava os comentários ácidos de Kei. — Mas você está certo. Para testar isso, ele até pediu a Kageyama que resolvesse algumas equações.

— Suponho que o Rei demorou muito para isso — Kei deu uma risada baixa e curta, imaginando Kageyama com uma expressão atordoada enquanto era pressionado por Hinata.

— Você sempre prediz as coisas.

Fios lisos caíram para o lado com a inclinação de sua cabeça, provocando um sorriso em seus olhos escuros, tão profundos quanto um abismo. A expressão dele dizia ao namorado que seu fascínio se transformava na tentação de beijá-lo. Yamaguchi alcançou o rosto do loiro, acariciou a maçã do rosto com o polegar até encontrar o caminho para o lábio inferior, puxando-o sutilmente.

Tsukishima baixou a visão, um pouco envergonhado com a vermelhidão que o dominava. Conquanto, ele manteve as mãos enlaçadas, apertando-as com relativa força.

Não obstante, o clima foi brutalmente interrompido quando o alarme de Kei tocou, indicando que o intervalo para o almoço havia acabado.

As mãos, automaticamente, se afastaram, no entanto, outrora, eles se levantaram e se aproximaram do rosto um do outro, tocando brevemente seus lábios relativamente entreabertos.

— Eu tenho que ir — Kei murmurou, separando suas testas antes coladas.

— Você vai passar no meu apartamento quando terminar seu trabalho? — perguntou Yamaguchi, envolvendo os braços em volta da cintura do mais alto.

— Deixe a chave dentro do vaso de flores — ele o beijou novamente, desta vez um pouco mais demorado.

O loiro girou nos calcanhares, dispensando-o sem olhar para trás. O som de pratos batendo uns contra os outros sinalizou a saída de seu namorado do estabelecimento.

Finalmente, ele respirou, jogando seu peso corporal contra o acolchoamento da cadeira. Tirou uma caixinha do bolso e ponderou: Amanhã será o pior ou o melhor dia da minha vida.

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