6.

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— Tem certeza que tá tudo bem, Nari? — Yumi perguntou pela terceira vez, com aquele olhar preocupado que só ela sabia fazer. — Eu posso muito bem ir lá na sala do chefe, fazer um show dramático e conseguir uma folga em nome da nossa amizade e do bolo de sorvete que deveríamos devorar juntas hoje à noite.

Ela apertava as alças da mala como se estivesse pronta para largá-las e ficar, mesmo sabendo que não tinha escolha. Era o trabalho dela, e, no fundo, eu sabia disso.

— Tá tudo bem, Yumi. — Sorri, tentando soar convincente. — Já passei outros aniversários sozinha, não é o fim do mundo. Mas obrigada por se preocupar.

Antes que ela pudesse protestar, a puxei para um abraço apertado. Sentir os braços dela ao meu redor me deu um conforto que eu sabia que não teria mais nas próximas 48 horas. Yumi não era apenas minha colega de trabalho. Ela era minha família, a irmã que nunca tive, e em momentos como aquele, era ainda mais evidente.

— Você se cuida nestes dois dias, ouviu? — Ela disse, se afastando e segurando meus ombros com firmeza. — Beba água, escute música alta no fone de ouvido, cante no chuveiro, coma muito bolo e maratone Friends até decorar todas as falas.

Eu ri, mesmo que o peso no peito não diminuísse.

Eu te amo. — Respondi em português, minha voz baixa mas sincera.

Eu te amo. — Ela tentou repetir, embolando as palavras de um jeito tão fofo que me fez rir de verdade. Yumi me deu um último sorriso antes de agarrar as malas ao lado da porta. Ela hesitou, olhou para mim novamente, e então saiu, fechando a porta atrás dela.

O silêncio que tomou conta do apartamento foi quase ensurdecedor. Suspirei, encostando-me à porta por alguns segundos, deixando a realidade me atingir. Era meu aniversário de 22 anos. E eu estava completamente sozinha.

Parabéns pra mim.

Nunca senti tanta raiva de uma promoção. De todas as datas possíveis para o Twice ir ao Japão, tinha que ser logo no meu aniversário? Qual é, eu tinha toda uma coreografia planejada para 22 da Taylor Swift, pronta para encenar com Yumi. Nós cantaríamos juntas, pulando pelo apartamento com colheres como microfones e glitter imaginário voando pelo ar.

Mas não. Estava tudo por água abaixo.

Fui até a cozinha, decidida a afogar minha frustração no bolo de sorvete que tínhamos comprado dias antes. Abri o freezer, peguei o bolo e uma colher grande — porque, sinceramente, quem precisa de pratos quando se está sozinha?

Levei o bolo para a sala e liguei a TV. Friends estava lá, como Yumi havia sugerido. Apertei o play no episódio onde Chandler e Monica ficam juntos, mas minha mente mal conseguia se concentrar. A cada risada da plateia, o vazio parecia ficar maior.

Olhei para o celular. Nada. Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação. Será que todo mundo tinha esquecido?

Suspirei, pegando mais uma colherada de bolo. Talvez fosse o destino tentando me ensinar alguma lição sobre independência ou algo assim.

De repente, o som de uma notificação quebrou o silêncio. Meu coração deu um salto.

Peguei o celular rapidamente, esperando que fosse algo significativo.

"Feliz aniversário, Nari! 🎉"

Era uma mensagem automática de uma loja de roupas que eu nem lembrava de ter feito cadastro.

— Ótimo. — Murmurei, jogando o celular no sofá.

Mas antes que pudesse voltar ao meu mergulho no bolo de sorvete, outra notificação apareceu. E depois outra. E mais outra.

𝑬𝑭𝑭𝑶𝑹𝑻𝑳𝑬𝑺𝑺𝒀, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯 [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora