여섯

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— Err, boa noite?

O encarei séria.

— Você sabe que horas são? E porque estava no frio desse jeito? — Cubro-o com o casaco que trouxe e o puxo para dentro do prédio pela mão, percebendo o quanto estava fria. Meu instinto protetor já passava dos 100%.

— Achei que a única pergunta seria como consegui seu número de telefone. — Ele brinca.

— Eu tenho essa e mais mil! Você sabe que não pode sair assim e voltar tão tarde, ainda mais sem ninguém saber. — Suavizo meu olhar severo quando percebo o nariz de Chan vermelhinho na ponta por causa do frio e seu rosto arrependido. Não acredito que vou boiolar agora, por favor, agora não!

— Eu sei, me desculpe! Mas todo o trabalho do comeback me deixou um pouco estressado, precisei sair um pouco pra relaxar e pensar. — Suspira. — E eu sei que você entende e se preocupa... por isso eu tenho seu número, pedi pro Felix, o seu protegido, porque sabia que seria a única pessoa que não iria me julgar se me encontrasse preso do lado de fora do prédio.

— Não vou te julgar, mas você precisa ser mais... Argh, não acredito que tô dando um sermão em você, pelo amor de Deus, você é mais responsável que eu. — Chan ri alto e eu tapo a sua boca tão rápido quanto o som de sua risada perambula pelos corredores vazios.

— Precisamos ser silenciosos! — Ele acena em silêncio concordando comigo.

Clico no botão para que as portas do elevador se abram, e adentramos silenciosamente, com medo de que alguma evidência termine deduzindo no meu salário ou em alguma punição educativa para Chan.

— O que você fazia acordada, Nari? — Chan interrompe meus pensamentos.

— Nada de especial, só fazendo maratonas de filmes com a Yumi, que por sinal, ainda deve estar desmaiada depois de todo aquele vinho. — Respondo risonha.

O elevador se abre e eu o acompanho ainda dando alguns sermões baixos até que Chan alcance a porta de seu dormitório.

— Me desculpe de novo, eu poderia ter metido você em muitos problemas, agora que paro pra pensar sobre isso... — Ele sorri culpado e eu aceno com a cabeça, uma cúmplice total.

Em uma fração de segundos, enquanto nossos olhares se encontram, ouço passos no corredor vindo em nossa direção, cada vez mais altos. Só pode ser brincadeira. Em um ato reflexo, Chan me puxa para dentro do apartamento e fecha a porta, me pressionando contra ela, causando uma aproximação perigosa. Porque parece que o universo sempre nos coloca em situações passíveis de demissão para mim?

Os passos no corredor tomaram seu rumo depois de não encontrar ninguém, mas do outro lado da porta minha mente consegue flutuar. Consigo sentir o cheiro de baunilha, e talvez um leve toque de pimenta? Nunca soube o que é estar bêbada, mas penso que deve se aproximar da sensação que tenho agora, inebriada pela aproximação e cheiros. Fora de foco, olho no olho. Antes que eu consiga compreender o mundo ao meu redor e comece a tomar minhas decisões racionais de sempre, os lábios que antes eu assistia de longe, conversando de forma confortável com todos ao seu redor ou até mesmo proferindo frases reflexivas que vão além do meu entendimento em músicas, se encostaram nos meus. Nada nunca pareceu tão certo, tão no seu lugar. Tão Christopher. E eu daria qualquer coisa para que aquele momento parasse, como uma linda moldura que eu pudesse guardar e admirar antes de dormir.

Só um encostar de lábios, um beijo calmo e quente que terminou antes do que eu previa e gostei mais do que jamais admitiria. E agora, o momento constrangedor, não é como nos doramas em que uma música super legal e romântica começa a tocar no fundo, é como se mil frases desconexas começassem a nos rodear perto daquela bendita porta: "o que isso significa?" 

𝑬𝑭𝑭𝑶𝑹𝑻𝑳𝑬𝑺𝑺𝒀, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora