Capítulo I

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Jimin não conseguia lembrar exatamente quando a briga entre as famílias Park e Min começou. Ele se lembrava de brincar com Yoongi na escola, os dois quase sempre iam à casa um do outro, mas então eles começaram a brigar. O meu pai disse que você não toma banho, um começava. E o meu pai disse que você ainda dorme com chupeta, e o outro retrucava. Uma briga inflamada pelos desejos dos mais velhos e que as crianças não compreendiam.

Ofensas infantis contadas no telefone sem fio dos adultos se tornaram pesadas e rancorosas à medida que eles cresciam.

Até que pararam de se falar totalmente. Sequer se xingar. Apenas trocavam olhares de repulsa quando se encontravam. Dois herdeiros de grandes empresas rivais. Essa era a única relação entre eles.

Porém, em noites como essa, quando a chuva caía pesada do lado de fora, Jimin percebia o quão vazio o seu quarto era. Mesmo cheio de coisas espalhadas, ele abria o guarda-roupa e procurava na escuridão uma caixa branca meio velha, que, entre, outros bens especiais, abrigava um gato de chita de pelúcia. Mesmo que os anos tenham se passado, o enchimento ainda era macio e aconchegante.

— Será que ele ainda se lembra? — Ele sussurrou para o vazio. — Será que ele ainda pensa em mim? Ou eu sou o unico idiota preso no pasado?

Foi no seu aniversário, o último que eles passaram juntos. Yoongi chegou à lanchonete com a pelúcia em um embrulho amarelo. Jimin desceu rapidamente do escorregador quando viu o amigo.

Abre, Jimin!, Yoongi pediu animado, depois deles se abraçarem e ele ter dado o presente. Eu pensei em você!

Jimin precisou da ajuda da mãe para conseguir tirar o laço.

Um gatinho!, gritou contente com o boneco em mãos. É lindo, hyung!

Você não pode ter um gato de verdade, então eu pensei em te dar um! Ele precisa de um nome. Qual vai ser, Jimin?

— Suga. — Disse, como se fosse a primeira vez que o fazia, como se ainda fosse uma criança fazendo aniversário no McDonald’s, com uma coroa maior que a própria cabeça sobre os cabelos escuros e o seu melhor amigo ao lado. — Porra de nome idiota — virou-se na cama, procurando uma posição mais confortável.

Yoongi estava na cama, os olhos vidrados no teto, sem conseguir dormir. O quarto parecia abafado, quase claustrofóbico apesar do tamanho, pensamentos preenchiam todo o espaço, sem espaço para o ar. Dias que deveriam ter sido esquecidos, mas ainda voltavam a assombrá-lo, escondidos nos cantos escuros de sua mente, esperando o momento certo para arrancarem o que lhe resta de sanidade.

— Qual era o nome dele? — Sussurrou para si.

A porta do seu quarto foi aberta com um estrondo, a luz do corredor iluminando o lugar e fazendo os seus olhos arderem. Ele não se mexeu, apenas olhou o pai com a visão periférica.

— Você não vai acreditar, filho! — O tom era animado, estranho para aquela hora da noite, mas Yoongi não estava surpreso. Não demonstrava nada. — Eu te trago uma notícia em primeira mão! Vamos ter um concurso de Ação de Graças, só para as famílias mais influentes do país. E eles fizeram uma caridade colocando os Park.

— Nós estamos na Coreia, devo lembrar — murmurou ainda olhando para cima.

— E?

— E nós não comemoramos Ação de Graças — respondeu o óbvio, com rispidez. — E o ponto de Ação de Graças não era agradecer? Thanksgiving? Dar agradecimentos, coisas do tipo?

— Pense nisso como um segundo Chuseok! — Andou pelo quarto, olhando a decoração com certa dificuldade. — Agora voltando ao concurso, nós vamos a uma floresta e a família que pegar o maior peru ganha!

— Isso não tem nada haver com o Chuseok — Yoongi sussurrou. — Ganhar o quê?

— Eu não sei, mas o importante é que nós vamos ganhar dos Park. Você é um caçador nato!

— Eu pesco. Teve uma vez você me obrigou a caçar. E desde quando tem perus aqui?

Ser melhor do que os Park era tentador, mas, depois de anos, estava começando a se tornar cansativo.

O que eles queriam provar, no final?

— Isso importa, Yoongi? Agora nós vamos ter. E é claro que você vai vencer, até porque você tem que vencer aquele Park mimadinho. Qual o nome dele mesmo? Jiwon? Jinhwan?

Bingo!

— Jimin — finalmente sentou na cama. — O nome dele é Jimin. Ele foi capa de uma revista qualquer, Vogue ou sei lá e está estampado em outdoors. — Tentou se justificar.

— Jimin, Jumin, que seja. Nós precisamos conseguir o apoio dos Kim antes que eles consigam.

— Eu particularmente duvido que os Kim escolham um lado. Eles se beneficiam de nós dois, então não acho que se aliem a um só, nunca fizeram isso. Algo grande tem que acontecer.

— Vai ser um grande peru.

— Você é idiota? — Yoongi nem gaguejou para ofender o pai. Ele faria isso mais vezes se o senso já tivesse sido totalmente destroçado.

— Amanhã, às cinco da manhã, nós vamos treinar. Na próxima semana, nós vamos viajar para o sul, onde será a briga.

— Amanhã é a minha folga.

— Exatamente — disse, por fim, e bateu a porta, saindo do quarto como se nada tivesse acontecido.

— Pai! — Yoongi gritou para o nada, então fechou a mão com força, irritado, sentindo as unhas contra a pele até quase cortá-la. Ele olhou em volta na escuridão, procurando por algo que não estava lá.

Algum dia esteve? Ou era apenas sua mente pregando-lhe peças novamente?

Vencido, ele se deitou.

Meu pai disse que nós não podemos ser mais amigos.

As sombras saíram dos seus cantos mais uma vez. Mesmo depois de anos, seu coração continuava partido, nunca se recuperou. Porém, também era culpa sua por não ter corrido atrás, ele não tentou mudar nada.

— Suga… O nome daquele gato idiota. Ele provavelmente o queimou. Nos queimou. Suga está morto — disse para si mais uma vez.

Repetir as palavras não as tornavam reais, apenas enterravam a dor.





Essa história é uma obra em conjunto com as escritoras da equipe Chimmy por smileyoonmin 💗

@Yum1u @Nuari @fha_ym @mini_mins

Entre a Faca e o PeruOnde histórias criam vida. Descubra agora