Prodígios

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A pequena praça à extremidade norte da cidade era o refúgio daqueles três. Ninguém nunca ia ali, talvez tivesse até sido esquecida pelos habitantes. Durante o dia ela estava posicionada perfeitamente para receber os melhores raios de sol e durante a noite as constelações podiam ser vistas com clareza.

-Sabem, este é o nosso ultimo ano do ensino médio, o que significa... – Ohm girava sem muita força no gira-gira, enquanto observava Nanon e Chimon sentados em um banco a poucos metros de distância.

-Significa que é a nossa ultima chance de vencer o Unitorial e provar pra nossas famílias que somos dignos de algo? – Nanon se entrepôs na fala de seu amigo, trazendo a tona um assunto que queriam esquecer, mas que teriam de falar sobre mais cedo ou mais tarde.

-É... na verdade eu ia dizer que é minha ultima oportunidade de conseguir um romance. De verdade, sabe, sem...

-Sem ter que persuadi-los a te beijar pra depois te largarem em uma semana? É, eu já vi esse filme... algumas vezes. – Chimon mordia calmamente sua maçã, pausando de vez em quando suas falas para engolir. – Mas o Nanon está certo. Precisamos usar nossos talentos com mais precisão e responsabilidade. Meu pai está... muito insatisfeito com meu desempenho em comparação ao... deles.

-Seu pai nunca está satisfeito com nada. Você tem literalmente as melhores notas da escola, não se cobre tanto.

-Isso não vale de nada pra ele se não conseguimos ganhar o Unitorial há 2 anos seguidos. Como estamos no último ano, ele quer que eu me candidate a líder dessa edição. – Chimon não tinha nem um pouco de animo em sua voz. Na verdade, a cada vez que citava seu pai, o timbre parecia mais melancólico, e as feições em seu rosto tomavam ar de preocupação como se estivesse pensando sobre algo mais.

-Ele pode ser rabugento, mas acho que dessa vez está certo. O seu talento de superinteligência te tornaria o melhor líder já visto em todas as edições do Unitorial. Sabe você pode ser útil, diferente de mim. – Ohm se referia ao seu talento persuasivo. Seus olhos eram tão encantadores que qualquer um que os encarassem faria qualquer coisa que ele pedisse... ou mandasse.

-Você poderia explorar mais os potencias do seu talento se não gastasse tempo só paquerando por aí. – Nanon conhecia bem o complexo narcisista de Ohm. Na verdade, Nanon sabia tudo que envolvesse os sentimentos de qualquer um. Seu talento de empata permitia-o influenciar, sentir e até mesmo ver os sentimentos alheios através de uma aura que rodeia seus corpos. Por isso, Nanon podia sentir a aflição especial de Chimon sobre o assunto do Unitorial e das famílias, havia algo mais além daquilo, mas não iria perguntar nada sobre naquele momento.

Acontece que a cidade de Bangcoper é influenciada por 6 famílias desde sua fundação: Pawat, Korapat, Wachirawait, Jumpol, Atthaphan e Dechkorn. As três primeiras famílias foram também as primeiras a formar a chamada "aliança de influência" que unia a dita influencia de todas elas para tornar seu poder político e econômico maior. Logo em seguida as 3 ultimas famílias decidiram fazer o mesmo, formando um pé de guerra de 3X3 que dura há décadas.

-E você poderia explorar melhor o seu talento se usasse ele pra analisar a si mesmo ao invés de dar palpite no que os outros sentem. – Ohm rebateu, e Nanon apenas revirou os olhos. Não é a primeira vez que tinham aquele tipo de discussão, e provavelmente não seria a última. Chimon apenas ignorou, acostumado com a situação, e prosseguiu:

-Bom, o problema é que se eu falhar a reputação das nossas famílias pode acabar de vez. Este Unitorial é o mais importante para nós, se perdemos não teremos pontos de prestígio suficientes para seguir carreira política...

-Se encerrarmos os legados políticos de nossas famílias provavelmente seremos banidos delas... -Nanon encarou o chão com olhar triste, como se só agora tivesse pensando sobre aquilo. E realmente, ele não estava contando quantos pontos de prestígio havia acumulado ao longo de sua carreira escolar.