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A campainha ecoou pela casa e Ohm se assustou em um pulo enquanto cantava no banho. Pegou a primeira toalha que viu pela frente e amarrou no quadril, andando com velocidade pelos corredores do segundo andar até a escada, até a porta, deixando um rastro de pegadas molhadas para trás.-Atrasado como sempre. - Chimon disse já entrando, empurrando Ohm para o lado sem muita força. Nanon veio logo atrás.-Vocês estão UMA HORA adiantados, no mínimo. Esqueceram que estou sozinho em casa porque meus pais foram viajar à trabalho? Eu tenho muita coisa pra cuidar.-Sim, tipo forrar a cama quando você acorda, né? Poxa isso deve demorar tanto, não sei como sua mão ainda não caiu. - Nanon diz com sarcasmo, tirando boas risadas de Chimon enquanto deixa Ohm vermelho de vergonha.- É o primeiro dia, vá terminar de se arrumar. Se chegarmos atrasados nunca mais te damos carona - Chimon já empurrava Ohm de volta para o banheiro enquanto reclamava. Assim que ele desapareceu de vista no segundo andar, Nanon foi até a cozinha seguindo pela direita.-E então, quando vocês dois vão realmente sentar e conversar sobre o que tem rolado? Desde o ano passado estão se bicando! Você tem algo pra me dizer? - Chimon vem logo atrás de Nanon, montando um interrogatório enquanto ele já está pegando leite na geladeira. Ele bate a porta e abre a garrafa.- Você realmente não se sente triste vendo ele gastar mais da metade do tempo correndo atrás de qualquer menino ou menina do que aproveitar mais tempo com a gente? Sabe, nós podíamos treinar nossos talentos juntos, ou se esforçar para obter pontos de prestigio juntos. Ele não quer saber de nada. - Nanon da uma golada generosa na garrafa, como se quissese lubrificar após ter falado tanto e ininterruptamente. - Você devia pegar mais leve, não é porque ele não tem os mesmos focos que eu ou você que não se importe conosco. Nós ainda somos os mesmos desde o fundamental, não podemos... Deixar que o ensino médio... Acabe com o que somos.Nanon cerra os olhos, e a aura rosa em torno de Chimon começa a emanar um pouco de cinza nas bordas. Era sempre assim com Chimon quando ele estava com Nanon: A aura rosa que representava o carinho e a consideração por uma amizade de longa data, o que demonstrava o genuíno apreço e afeto que ele possuía. Dessa vez, o cinza tinha o mesmo tom que Chimon havia emanado no parque ao falar de seu pai. Nanon logo vê uma brecha.-Claro, você esta certo... mas, sobre o ensino médio... tá tudo bem com você na sua casa? - Nanon claramente não estava disposto a falar sobre o que estava acontecendo entre ele e Ohm. -É... é o seu pai, não é? - Nanon abaixa o tom de voz para algo mais reconfortante, quase um sussurro. - Como Presidente da câmara ele deve estar botando mais pressão do que nunca... A borda acinzentada da aura começa a assumir um tom azul de tristeza, rapidamente passando a engolir as tonalidades de rosa. Falar sobre aquilo estava deixando Chimon claramente triste, apesar de ele tentar não demonstrar em suas expressões. Ele sabe, porém, que é inútil não demonstrar, pois também tem ciência de que Nanon saberia o que ele está sentindo de qualquer maneira. O Empata deixa a garrafa de leite na bancada ao lado, dá dois passos em direção ao amigo e o puxa pela cintura para um caloroso e demorado abraço. Chimon apenas retribui, sentindo que pode desabar ali, porque ali ele tem um porto seguro. -Ele só... não sabe medir o tom e gravidade do que ele fala, as vezes. - Chimon diz ainda abraçado à Nanon, referindo-se a seu pai. - Mas tudo bem, vai passar. Não há com o que se preocupar. Nanon sabia que Chimon ainda estava escondendo algo, e não precisava do seu talento para deduzir isso. Mas ele não iria forçar o amigo a desabafar sobre aquilo. Na outra mão, Chimon sabia que Nanon e Ohm estavam escondendo alguma coisa também. Em algum ponto no meio do ano anterior, ambos começaram a se estranhar em relação aos seus talentos, levando a climas tensos que acabavam em discussão quando os dois estavam sozinhos. Quando os três estavam juntos, o clima era sempre de extroversão, alegria e companheirismo. Eles se amavam, e aquilo era nítido. Os três iam além do que uma simples aliança entre famílias. Mas há algumas semanas, mesmo estando entre três estas pequenas brigas vinham à tona de qualquer forma.- Desculpa atrapalhar o momento, mas queria anunciar que estou pronto. - Ohm diz da porta da cozinha, observando a cena dos dois se abraçando. Eles logo se separam ao ouvir a voz do dono da casa, e Nanon quase derruba a garrafa de leite. Ohm ri da cena e da cara dos dois parecendo um pimentão após se envergonharem. - E então, vamos?//-------------------------------------------------//O sinal toca, anunciando o fim do primeiro período. Nanon apenas sai da sala, sem esperar por Chimon e Ohm. Nos corredores, ele da de cara com Drake, que caiu em outra sala este ano. -A sala não é a mesma coisa sem você pra me encher o saco - Nanon comenta, recebendo tapinhas nas costas de Drake, ambos seguindo até o refeitório.-Nada tem a mesma vibe sem mim depois que você me conhece, Na, já deveria saber. - Drake diz aquilo em tom de piada e logo solta uma risada. Nanon apenas revira os olhos com um sorriso de canto, mas ele sente que aquelas palavras sejam verdade. As coisas sem o Drake perdem a graça. -Eu não... não sei como vou sobreviver se você for estudar no exterior, eu confesso. - Drake para. Seus olhos se voltam rapidamente para Nanon, que está com a beirada da pupila vermelha como se ameaçase lacrimejar. A rampa que leva ao primeiro andar, onde ambos estão parados agora, está vazia. Todos os alunos ja passaram para o refeitório.-Ei - Drake começa, tentando esboçar um sorriso para acalma-lo - você sabe que não é verdade. Eu não consigo nem fazer um macarrão instantâneo sem a sua ajuda, cara. - Nanon ri sem jeito, e o sorriso de Drake se abre ainda mais. - sou eu quem não conseguiria viver sem você. - O rosto dele fica levemente corado, os olhos levemente mais abertos. - Mas nós não precisamos viver sem o outro. Não vou ficar lá pra sempre, e você também... Você realmente precisa seguir essa carreira politica?Nanon se surpreende um pouco. -Eu... preciso. - ele excita muito em concluir. - Eu não sei o que é viver sem eles. Minha conexão com eles também esta diretamente ligada ao Chimon e ao Ohm. E se eu não puder mais ter contato com esses dois? É ai que eu não sobrevivo mesmo. - eles voltam a andar aos poucos.-Mas eles realmente podem te impedir de viver sem aqueles que você gosta? Eles vão te enjaular? - Drake não consegue compreender a complexidade de famílias políticas com seus egos enormes e frágeis. Nem Nanon conseguia entender as vezes.-Bom, me enjaular não, mas com certeza meu pai me impediria de ter contato com eles, de alguma forma. Ou.. sei lá, só sei que ele iria querer me punir, e muito.- Amor de família é tudo de bom, né? -Nem me fale. Antes que pudessem passar pelo corredor que leva direto ao refeitório, um conhecido os para, acompanhado por uma garota.-Ei, Nanon! - Tay cumprimenta ambos com um aperto de mão. - Posso falar com você um segundo?Nanon e Drake trocam olhares, e Drake acena levemente com a cabeça.-Claro.\\Eles se afastam um pouco, deixando Drake e a menina a alguns metros de distancia, longe o suficiente para que não pudessem ouvir. Tay é um menino do terceiro ano, da unidade oposta a qual Nanon está, intitulada de unidade Rubi. Nanon, assim como Ohm, Chimon e Drake estão na unidade Safira. Apesar de estarem em unidades opostas, Tay sempre foi educado e gentil, nunca se enfiou em uma briga ou discussão.Ele sempre via sua aura em tons alaranjados, ao menos no ambiente escolar, o que significava que Tay estava sempre meio descontraído ao ambiente, bem extrovertido.-Nanon, você sabe se o Drake está apaixonado por alguém? Nanon não soube como interpretar direito a pergunta. Todos sabiam sobre os talentos dos meninos prodígios da cidade, então ele deduziu que Tay estava perguntando se ele conseguia sentir algum sentimento de amor ou paixão vindo de Drake. Nanon porém nunca contou a ninguém, nem ao próprio Drake, que o talento de empatia simplesmente não funcionava nele. -É.. Não, ele não está, não. - Nanon não sabia se era verdade, mas preferiu manter a pose. - Por que, você está interessado? - Nanon sorriu, e Tay arqueou a sobrancelha.- Não, eu não. A Pa, por outro lado...-Quem?- Pa, a garota que estava comigo. Minha irmã mais velha é madrinha dela, e agora que ele está no primeiro ano, estou cuidando dela nesse novo mundo de ensino médio. Nanon observa atrás de Tay. Drake e Pa estão conversando e dando algumas risadas.-Enfim, eu só queria saber se ela teria chance de investir nele. Não quero que ela tenha os sentimentos feridos. Vou falar que o caminho está livre, então. Obrigado, Nanon!Tay sai em direção a Pa, e logo eles se despedem de Drake e seguem seu rumo. Drake também volta a se aproximar de Nanon.O empata, parado no mesmo lugar, apenas observa seu amigo vindo em sua direção, tentando raciocinar o que era aquela sensação estranha que preenchia o seu peito. Apesar de ser bom lendo o sentimento alheio, Nanon era péssimo em analisar a si mesmo. Seu punho estava cerrado, as narinas um pouco abertas. Talvez aquilo fosse ciúme, mas ele não tinha certeza.

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⏰ Última atualização: Jan 06, 2022 ⏰

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