It's not about the crown

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O horário era inusual mesmo para um lugar onde a noite era uma constante. Ulquiorra caminhava para sua acomodação, silêncio ecoando pelos corredores, o que não impediu o quarta Espada de perceber a presença que se mantinha em seu encalço. Ele deu mais alguns passos antes de deter-se, girando a cabeça parcialmente, sua face inexpressiva encarando o que para alguns não passaria de escuridão. Os olhos de Ulquiorra identificaram facilmente os de Grimmjow, o brilho sinistro, ameaçador, que apenas um caçador possuía. O sorriso dele cortou a noite, afiado como sua lâmina.

Tch, parece que fui descoberto.

Grimmjow aproximou-se ainda mais, a luz lunar banhando a lateral esquerda de seu corpo de modos agora relaxados. Uma das mãos descansava no bolso — aquela que Orihime curou há algum tempo.

— O que quer, Grimmjow?

— Sem papo furado, hm?

Ulquiorra apenas o encarou.

Grimmjow não suportava Ulquiorra e seus olhos mortos ou a forma como se portava e obedecia cegamente às ordens de Aizen. Sua existência transigente lhe era uma ofensa. A mandíbula ameaçou trincar, mas controlou-se, apenas permitindo que seu sorriso morresse.

— Mande a mulher até a sala do trono.

— Por que eu deveria?

— Porque essa é a ordem do seu rei, e sua maldita função é obedecê-la — justificou grosseiramente.

O sexta Espada não esperou por resposta, apenas deu um passo para trás, retornando para a escuridão de onde viera.

Na meia hora seguinte, Orihime se dirigia para a sala do trono. Os braços envolvendo-a, como se aquela fosse sua única forma de proteção. A situação não lhe era nada agradável. Aizen nunca a chamou tão tarde da noite, ou ordenou que o encontrasse sem a presença de Ulquiorra. Imaginava que fosse um teste de lealdade, o qual ela teria certeza de passar, afinal, tinha que se manter viva até... até o quê?

Aproximando-se de uma das janelas, apoiou a mão no parapeito. Altas demais para que se arriscasse a pular, mas talvez com seus poderes...

Seus dedos se apertaram antes que ela terminasse o pensamento. Não tinha para onde fugir ou onde se esconder. Orihime era uma prisioneira, prisioneira de Aizen e de si mesma.

Orihime soltou o ar lentamente, desviando o rosto daquela falsa sensação de liberdade. Ela estava desacompanhada, mas em Las Noches alguém considerada como uma presa nunca está realmente sozinha. Voltou a caminhar, mais rápido desta vez. Não queria ser advertida. Embora as advertências de Aizen parecessem inócuas, seus olhos jamais demonstravam o mesmo.

A porta agigantou-se diante da ruiva. Seus dedos hesitantes a empurraram lentamente após uma breve batida sem resposta. Nenhum ruído além da respiração dela lhe chegava aos ouvidos. Estava escuro lá dentro, mas conseguia identificar uma presença sobre o trono, as vestes brancas. Fechou a porta, recostando-se contra ela apenas por um minuto, a fim de que seus olhos se acostumassem com as trevas, e seus pés ganhassem confiança para se manterem firmes. Foram necessárias algumas tentativas até que se movesse.

De cabeça baixa, Orihime aproximou-se e esperou.

— Está atrasada, mulher.

Orihime sobressaltou-se, seus olhos surpresos buscando o topo do trono antes que pudesse evitar. Aquela maneira brusca, aquele tom exasperado...

— Grimmjow?!

— Esperava alguém diferente?

— Mas Ulquiorra disse-...

Crownless KingOnde histórias criam vida. Descubra agora