II

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Uma semana depois que eu havia chegado em território ioniano, as coisas não pareciam ter mudado muito por aqui. Em troca da hospitalidade de Naoy, a mulher vastaya que havia me oferecido abrigo, eu a ajudava nas idas ao mercado até a cidade e completava tarefas dentro da pousada. Já, com Sett, não trocávamos mais que o essencial de palavras e seu comportamento era neutro. Dado ao fato da história que Naoy havia me contado sobre os dois, ele tinha uma boa relação apenas com ela.

Desde aquele dia em que vi Noctum, eu fiquei pensando em uma forma de conseguir obte-lá daquele mercador. E minha única esperança até então era somente o Placídio de Navori, mas era longe e nada fácil de chegar.

Naquela tarde, enquanto eu arrumava meus pertences no quarto onde dormia, ouvi batidas de leve na porta. Era Naoy.

- Aphelios? Posso entrar? - ela perguntou. - Peço desculpas se estiver lhe atrapalhando.

- Não. De forma alguma. - abri a porta e lhe dei espaço para passar. - Entre.

- Bom... - ela parou em minha frente, mantendo uma distância. - Gostaria de pedir um favor a você. Se não for muito.

- Claro. - assenti. - Pode falar.

- Gostaria que fosse até a cidade para mim. Tenho uma lista com o que preciso, mas não posso deixar a pousada por enquanto.

- Tudo bem. Eu vou. Do que precisa? - perguntei.

Ela me entregou uma lista escrita em tinta preta, com algumas frutas e ingredientes que precisavam ser repostos, me entregando em seguida as moedas.

- Aqui. Você pode ficar com o que sobrar. - Naoy sorriu.

Eu apenas assenti mais uma vez. Ela caminhou em direção a porta e foi embora, fechando-a atrás dela. Eu me vesti adequadamente e saí em seguida, passando pelo saguão até chegar na parte exterior da pousada. O sol ainda estava alto, então deduzi que fosse o começo da tarde. Naoy estava me esperando no jardim e à alguns metros dali, Sett estava trazendo os cavalos do estábulo para colocá-los na carroça.

- Sett vai junto até o mercado? - perguntei inquieto.

- Sim. - a vastaya direcionou um sorriso a mim. - Ele irá trabalhar, então achei uma boa ideia vocês irem na mesma viagem.

- Ah. Mas como irei voltar com a carroça? Nunca fiz isso.

- Não se preocupe. Ele vai te ajudar. Sett é um ótimo rapaz.

Naoy sorriu mais uma vez e fez sinal para que eu a seguisse até a carroça. Sett havia terminado de preparar os cavalos e a vastaya foi até ele. Sett se curvou e sua mãe lhe depositou um beijo na testa.

- Eu voltarei até a noite. - Sett abraçou Naoy.

Eu desviei o olhar. A relação dos dois era extremamente forte. Era impressionante o quão vulnerável ele ficava perto da mãe e nem ligava. Os dois me faziam lembrar de Alune e como éramos próximos. Somos. Ainda somos.

- Vai ficar aí parado?

A voz rouca de Sett fez-me desligar daqueles pensamentos.

Sentei ao lado do vastayês na carroça e ele estalou as rédeas, fazendo com que os cavalos começassem a trotar.

Um pouco mais longe da pousada, Sett soltou as rédeas e as entregou em minha mão.

- Tem certeza que quer que eu faça isso? - o encarei.

- Precisa aprender. Se não, vai voltar a pé. - Sett baixou o olhar até as rédeas e depois voltou a me encarar. - Você decide.

Engoli em seco e então as peguei, enrolando-as em minhas mãos.

𝐟𝐫𝐞𝐞𝐝𝐨𝐦 𝐛𝐞𝐭𝐰𝐞𝐞𝐧 𝐡𝐞𝐚𝐫𝐭𝐬 | 𝐚𝐩𝐡𝐞𝐥𝐢𝐨𝐬 𝐱 𝐬𝐞𝐭𝐭 | 𝐚𝐮Onde histórias criam vida. Descubra agora