Pleine lune

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Em uma gostosa brisa noturna, nas ruas de
Vieille Ville, Paris, andava a moça.
Com seu nome de poder, Roseline, carregava o sobrenome de uma familia nobre da época, os Davillier.
A mãe de Roseline era uma poeta sem reconhecimento, faleceu em 1810, quando Rose tinha seus oito anos de idade.
O doutor Leon Davillier, pai de Rose, cuidou do casamento da menina, com 18 anos.
Casaria  com um homem mais velho, cujo sobrenome de nobreza seria Goulaine. Senhor Goulaine e tinha 56 anos, era um velho barbudo que não se cuidava, aos domingos jogava xadrez no bordel da esquina de sua residência.
Era um homem problemático, burro e contra os direitos humanos, tinha dois filhos com sua ex mulher, esta que morreu no parto de seu filho mais novo.
[...]

Seu lindo cabelo preto carregava um penteado feito por sua dama de companhia, Roseline usava um vestido azul, azul real.
Seu pai orientou os empregados da mansão, era sempre que dizia : _ De Pressa, façam tudo com perfeição!
Rose por outro lado, com seu semblante sério e relaxado, apenas deixou que seu pai escolhesse tudo, até mesmo seu buquê, era de peônias azuis, as preferidas de sua mãe.
A moça não gostava de flores, não as daquele cenário infernal,também odiava casamentos, espartilhos, plataformas chiques, homens mais velhos, Roseline gostava da calmaria da floresta.
Foi muito bem preparada a cerimônia, lá na igreja estariam todos, incluindo todos os filhos de Charles Goulaine.
O mais novo era alto, forte e extrovertido, alguns traços de seu pai estavam presentes em sua personalidade.
O mais velho, este era calmo, possuia uma delicadeza feita por seriedade que chamava a atenção de Roseline.
Os rapazes usavam ternos formosos, as damas seus vestidos, onde faziam questão de explicar a origem dos panos, Roseline revirou os olhos em desinteresse.
E tudo seguiu contra o gosto de Rose, fizeram suas falsas promessas diante do padre, a noiva fora obrigada a beijar os lábios asquerosos de Charles, desejou dizer não.
Assim que o casamento acabou, ela decidiu que moraria perto do lago, viveria na paz, perto do túmulo de sua mãe, se fosse morta estaria junto a ela.
Casou-se, uma cerimônia fria, sem amor e sem o afeto.
Ainda com seu vestido, mas sem o véu, carregou seu candinheiro até os fundos, saiu pelo jardim do quintal, sua cadelinha viu-se contente em ver Rose e acompanhou-a até a floresta.
A pouca luz e o silêncio tranquilizava a moça, Rose mandou sua cadelinha voltar para casa, ela voltou choramingando.
Não entendeu de primeira, cherie estava assustada e Rose não sentia sua pele.
Tocou seu rosto, seu braço, mas não havia mais pele e com a pouca luz da vela viu seus ossos, sentiu todos e não sentia dor, nem ardência de uma pele recém puxada.
Agora não via os olhos semelhantes aos de sua mãe, via um vão em breu, mas ainda sim exergava, sentia e podia ouvir os grilos que ali conversavam.
Não podia voltar assim e não queria, Rose continuou andando até que encontrou um poço, sentindo o cheiro do lago e da noite selvagem, aproximou-se desse poço.
Se andasse mais a frente encontraria a lápide de sua mãe, mas se jogou no poço.
E caindo Roseline foi, parecia sem fundo e era sem luz, sentiu a água gelada molhar seu vestido, seu cabelo.
Angustiante a sensação de cair e nunca chegar a um fim, de saber que cai.
Mas se Rose não tivesse olhado o poço, ela não poderia, já que era tarde demais. Roseline não caiu, mas enquanto olhava para o escuro, se via caindo. Sua mente a derrubou no poço, concretizou-se seu medo.
Exceto que Rose sentiu seu corpo girar em um redemoinho, morta porém tonta, uma luz acendeu aquele poço, via-se as paredes quase verdes lima, e se olhasse para cima, a lua cheia encarava Rose.

E assim tudo ficou escuro novamente.
[...]
Senhor Leon andava na varanda da casa do sítio, em uma tarde de domingo aconchegante, Sua mulher brasileira, cujo nome era Catarina, fazia café e biscoitos de canela, preferidos da pequena Roseline.

_Rose querida, venha comer os biscoitos!_ A bela Catarina dizia secando suas mãos no avental.

_ Já estou indo mamãe!_ então Rose guardou Luci, sua boneca, e correu para a cozinha.

_ Lave as mãos amor...

_Sim mamãe._ Rose sorriu para sua amada mãe, em seguida se esticou na enorme pia para lavar suas mãozinhas.
Sentadas na mesa velha da cozinha, os biscoitos da mamãe, os melhores, sua mãe sorria cansada, uma pálidez, reclamava de dores no corpo e seu cabelo caia.

_Coma também mamãe._ Rose dizia tomando seu leite quente.
_Já comi meu amor..._ Senhora Catarina alisou o cabelo escuro da garotinha.
 

             
Fora do poço, mas dentro dele, Roseline, sem pele e sem carne, sem olhos e sem língua, estava em um lugar sereno, não era o paraíso, mas seu coração se aliviou ao ver que saira do poço.

Sqᥙᥱᥣᥱttᥱ᥉Onde histórias criam vida. Descubra agora