Not Uncomfortable

21 6 37
                                    


Cheguei no rinque um pouco antes da hora que a treinadora Kovac havia nos dado de limite, já que a neve de janeiro não ajudava com o trânsito. Depois de receber um sermão, fui para os vestiários me trocar. Estava mais tranquila do que deveria, já que sabíamos que se perdêssemos aquele jogo nós seríamos eliminadas da competição nacional. Nosso time havia se dado muito bem durante a temporada toda, mas alguns outros times haviam se dado melhor, e isso nos deixava na porta de entrada da competição nacional de hóquei feminino do segundo grau, mas não com uma vaga garantida.

Ao entrar nos vestiários, pude sentir a tensão no ar. Nós que não estávamos nos últimos dois anos da escola dificilmente entrávamos nesse tipo de jogo, por conta da pressão que nós mais novas não estávamos tão acostumadas. Por conta disso podia sentir uma tensão muito maior vindo de nossas veteranas, que conversavam sobre algumas táticas ensaiadas enquanto colocavam seus equipamentos.

Me sentei ao lado de uma de minhas colegas, vendo que ela também percebia a tensão.

— Espero que não me botem pra jogar... — ela disse botando suas caneleiras.

— Idem. — respondi já me apressando para me trocar. — Não sinto que tenho habilidade o suficiente nem pra entrar no rinque hoje, vou cair igual uma idiota.

Continuamos conversando enquanto terminávamos de nos arrumar, e logo a treinadora nos chamou, fazendo com que a tensão, que já estava altíssima, aumentasse ainda mais. Nos sentamos nos bancos e Charlie, a capitã, falou um pouco com o time, tentando aumentar a confiança das mais velhas. Tentava prestar a atenção, mas enquanto olhava para a arquibancada distraidamente, notei um rosto conhecido. Um rosto que definitivamente não queria ver naquele momento.

Edith estava sentada perto do vidro que protegia o público, e ela claramente estava me vendo, pois acenava incessantemente para mim. Odiava que meus amigos viessem para meus jogos de hóquei, especialmente os jogos mais decisivos. Desviei o olhar tentando voltar minha atenção para a capitã, que agora falava que nós mais novas só entraríamos em caso de emergência, mas que não era para levar pro pessoal, coisa que todas entendíamos numa boa. Quando o juíz veio falar com nossa treinadora para saber se estávamos prontas, voltei meu olhar para Edith de forma discreta, esperando que ela não estivesse mais me olhando, mas assim que a olhei, nossos olhos se encontraram e ela abriu um sorriso.

— É tua namorada? — uma das veteranas do time perguntou me empurrando levemente enquanto sorria, o que me fez mais nervosa do que eu esperava.

— Não! — falei alto, chamando a atenção de algumas garotas, o que fez minha colega rir.

— Tá de boa Cora, não to aqui pra julgar, é fofo que ela tenha vindo te ver. — ela falou com um sorriso sincero. — Mesmo que tu não vá entrar.

— É sério, ela não é minha namorada. — a olhei nos olhos, ainda um pouco ruborizada.

— Ainda. — ela voltou a rir, me fazendo suspirar.

Voltei minha atenção para meu taco, tentando afastar qualquer pensamento que estivesse tentando me sabotar. Não queria nem pensar no que aconteceria se eu tivesse que entrar em campo naquele estado. Me sentiria uma pateta pelo resto de minha vida e teria que me resignar de meu cargo no time imediatamente. Já me sentia idiota o suficiente só por ter esses pensamentos sobre ela, não precisava de mais vergonha na minha vida.

O primeiro tempo passou voando para mim, que não precisou fazer nada além de torcer. Já estávamos perdendo por um ponto, mas apesar disso ainda tínhamos chance de virar. Quando o juíz apitou o intervalo, minha atenção, que antes estava completamente na partida, logo se perdeu nas arquibancadas. Era difícil fazer com que meus olhos não procurassem por Edith, já que meu coração já estava decidido do que queria e minha cabeça tinha dificuldade de se manter a par. Quando olhei para onde ela estava antes, não a vi, e por um momento meu coração doeu, o que me deixava furiosa. Eu não iria começar a gostar de uma garota hétero agora, não de novo, e muito menos por uma que já havia gostado antes.

FreezeOnde histórias criam vida. Descubra agora