O dia amanhece. Estou deitado na cama
olhando para o teto. Raios tímidos de luz atravessam as frestas da janela, o escuro dormente até então se dissipa como vapor. Os primeiros traços da cor do teto começam a nascer, a cor irradia para um cinza pálido, talvez morto, tão morto que consigo que consigo ver sua alma clareando conforme os raios vão adentrando. Agora já são 6:10 da
manhã, e o teto já se apresenta branco, mas é uma branquitude melancólica, onde não há espaço para uma paleta de cores. Ascendo um cigarro. Observo a fumaça se entrelaçar com a branquitude do meu teto. Esse movimento; este maldito movimento, que me lembra as
noitadas em motéis baratos, após o sexo a fumaça do cigarro faz movimentos leves, como se estivessem desviando de algo e rapidamente se chocam com o teto. Assim sumindo como se nunca tivessem existido, deixando só o cheiro de tabaco queimado como vestígio de sua existência. Vejo minha existência nessas fumaças. Estou deitado na minha cama me desviando dos segundos e minutos que asseguram minha existência neste
mundo, esperando me dissipar como uma fumaça tragada. Mas tenho medo dos rastros que deixarei aqui, pois esses rastros estão mais para um rastejo mórbido, já que sinto a dor de
um ferimento chamada liberdade.
Finalmente sinto coragem para levantar da cama. Não dormi. Maldita insônia. Parece que meu corpo foi atropelado por um caminhão.
Quem me dera se eu tivesse um pouco de cocaína. Mas mesmo que tivesse, eu já teria acabado com tudo durante à noite. Preciso de outra substancia. Cafeína e aspirina. Um combo perfeito para uma noite não dormida. Assim me preparo para mais um dia vazio, como a fumaça
dispersando no teto. Coitada da sua existência. Tragada, expelida, jogada ao mundo e depois some como se nada tivesse acontecido