Capítulo 2

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- Um artista local. Trouton.

- São lindos. Tornam extraordinário um objeto comum - diz ela de forma sonhadora, absorta na sofisticada destreza da obra de Trouton.

Seu perfil é delicado - nariz arrebitado, lábios macios, carnudos -e, com suas palavras, ela captou meus sentimentos com exatidão. Tornam extraordinário um objeto comum. É uma observação sagaz. A Srta. Tannhaus é inteligente.

Concordo e observo, fascinada, aquele rubor se insinuar lentamente em sua pele mais uma vez. Quando me sento diante dela, tento controlar meus pensamentos. Ela tira de sua bolsa grande uns papéis amassados e um gravador digital. É toda atrapalhada, deixando o maldito objeto cair duas vezes na minha mesa de centro Bauhaus. É óbvio que nunca fez isso, mas por alguma razão que não consigo entender, acho divertido. Em circunstâncias normais, seu jeito estabanado me irritaria, mas no momento estou escondendo meu sorriso com indicador e resisto ao desejo de configurar o gravador para ela.

Enquanto ela se atrapalha e vai ficando cada vez mais nervosa, penso que eu poderia aprimorar suas habilidades motoras com ajuda de um chicote de montaria. Bem usado, é algo que pode controlar até a mais assustadiça das pessoas. O pensamento errático faz com que eu me remexa na cadeira. Ela me olha e morde o lábio inferior carnudo.

Merda! Como não notei quão convidativa é essa boca?

- Desculpe. Não estou acostumada com isso.

Dá para ver, babygirl, mas agora não estou nem aí porque não consigo tirar os olhos da sua boca.

- Não tenha pressa, Srta. Tannhaus. - preciso de mais um instante para organizar meus pensamentos.

Eilish... pare com isso, já.

- A senhora se incomoda se eu gravar a entrevista? - pergunta ela, a expressão sincera e expectante.

Fico com vontade de rir.

- Depois de todo esse esforço para configurar o gravador, é agora que me pergunta?

Ela pisca, os olhos arregalados e perdidos por um instante, e sou tomada por uma pontada de culpa com a qual não estou familiarizada.

Deixe de ser tão chata, Eilish.

- Não, não me importo. - não quero ser responsável por aquele olhar.

- Clau, quer dizer, a Srta. Sulewski, explicou-lhe para o que era a entrevista?

- Sim. Para sair na edição de formatura do jornal da faculdade, já que eu vou entregar o diploma na cerimônia de graduação deste ano.

Por que cargas d'água concordei com isso, não sei. Dan, da assessoria de imprensa, me disse que o departamento de ciências ambientais da WSU precisa de publicidade para atrair financiamentos adicionais e chegar a altura da doação que fiz para eles. Dan faz qualquer coisa por exposição na mídia.

A Srta. Tannhaus pisca mais uma vez, como se isso fosse novidade para ela, e parece desaprovar. Será que não fez nenhuma pesquisa para entrevista? Devia saber disso. A ideia me desanima. É desagradável, e não é o que eu esperava de alguém que está abusando do meu tempo.

- Ótimo. Tem algumas perguntas, Sra. Eilish. - ela põe uma mecha de cabelo atrás da orelha, distraindo-me da minha irritação.

- Achei que poderia ter. - digo secamente.

Vamos fazê-la se contorcer. Obsequiosamente, é o que ela faz, depois se apruma e direita os ombros. Ela pretende trabalhar. Indicando-se à frente, aperta o botão do gravador enquanto olha para suas anotações amassadas.

Eilish - Billie Eilish | Cinquenta Tons de Cinza.Onde histórias criam vida. Descubra agora