Capítulo 1

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#Codigo021

Não gostar de coxinha devia ser considerado um desvio de caráter.

Eu desci o vidigal empenhado em estudar e dar orgulho pra minha mãe e meu pai de olho puxado que me deu o nome mais esquisito para um carioca que tá acostumado com Enzos e vários Miguel pelas quebradas: Taehyung.

Nem eu sei pronunciar direito.

Mamãe foi sagaz, assim como a favela mandava e o carioquês permitia, meteu logo um Luan bem gostosinho no começo e de acordo com ela, não sossegou até meu pai dizer: Meu deus! Brasileiro não desiste nunca!

E então eis me aqui, Luan Taehyung, descendo o vidigal. 

O funk estourando no fone de ouvido, VAI LUAAAANNNN, METE SEU FILHO DA PUTA… Ei pera lá, eu faço com carinho.

Hehehe, brincadeiras a parte.

Já que desci o vidigal disposto a dar orgulho, tô eu lá de boas na cantina desse fundão que Deus deu, longe pra porra e ainda tem que pegar ônibus dentro do campus! Enfim, tô de boa comendo uma coxinha com Guaravita que antes eu pagava 2,50 no combo e agora eu pago 7 conto. Os mais pesados da face da Terra. 

Tudo culpa da puta! Tô falando de tu bozonaro.

Uma, duas e… Foram só duas mordidas mesmo. Minúsculas as coitadas. Espero aguentar um dia inteiro com ela no estômago se não fodeu. 

Enquanto ainda tô chorando a morte da bezerra cara, dois carinhas assim como eu, de olho puxado, sabe? Param na cantina e perguntam o que tinha pra comer. Tá que eu fui gentil comigo mesmo, eles não pareciam comigo em NADA. Tirando a parte que eles tem descendência asiática, os mesmos não se vestiam malandramente, eles era engomados. A porra de uns playba bem nariz em pé. Tinham nem cara de que limpavam a própria bunda. Lacostada ardia o olho. Porque o jacaré é pequeno assim como mandava a bíblia, os meus e dos menó' do morro faltava carregar a gente de tão gigante.

Vambora lacraste.

Mas voltando a cantina, a tia disse que tinha aqueles salgados lá, joelho, empadão, cigarette (como eu AMOOO) e coxinha.

— Coxinha? – Um dos mauricinhos falou.

— Sim. – a tia respondeu. — com Guaravita. Tá saindo a sete reais, filho. 

— Não gosto. Você teria shimeji? Ou algo com sushi? – a tia negou. — ok então. 

O QUEEEE!!! Pelo amor de deus quem come sushi nesse sol raspando a cabeça no RIO. DE. JANEIRO? 

Eu quis voar nele. Uma pessoa que não curte uma coxinha com Guaravita tá morta por dentro! Ele com certeza estava, ou aquele jacaré na blusa dele havia comido o pouquinho de clareza que faltava naquele ser.

Fiquei triste. Coxinha é mó bom.

Tava desorientado e acabei esbarrando em alguém tão pequeno que eu tive que coçar os olhos pra poder enxergar. Brincadeira hehehe. Um garoto loirinho com uma bolsa carteiro muito foda cheio de aqueles trecos que eu nunca sei o nome – mas eu não tenho nenhum–, que tem alfinete e tal, enfim! Acho que ele tava prestando atenção em mim. Logo, os dois garotos se afastaram reclamando em uma língua que eu não entendi nada, mas ouvi uma palavra que papai falava muito em coreano, eles estavam xingando.

Pé na areia - jjk + kthOnde histórias criam vida. Descubra agora