Capítulo Único

321 32 4
                                    


Ele acordou. Veste o moletom laranja. Bocejo. Abre as cortinas. Neve. Arrasta os pés dentro das pantufas de coelho brancas até o banheiro, onde escova os dentes e arruma os cabelos loiros. Os olhos azuis piscam diversas vezes, tentando se adaptar à luz clara da manhã. Os outros ainda não acordaram. Nenhum deles.

Ele liga a cafeteira que descansa perto ds janela e espera o café passar. É sábado de manhã. Será que o jornal já foi entregue? Ele então se dirige até a porta, pondo a mão na maçaneta dourada e girando-a. A porta se abre. Ao longe, uma pistola é carregada.

Opa, ainda não pôs as calças. Fecha a porta novamente e dá meia-volta no calcanhar, subindo as escadas e procurando as calças pelo quarto extremamente bagunçado e pouco iluminado apenas pela luz do sol que adentram o local por entre as nuvens acinzentadas daquela manhã de inverno. Coloca-as e faz todo o percurso novamente, descendo as escadas e indo até a cozinha.

O café já está pronto. O garoto então pega uma caneca, servindo-se. Um gole. O jornal chegou. Outro gole. Senta-se e bebe todo o café, lentamente, observando a serenidade da cozinha vazia e escura, sendo iluminada somente pela luz que saía de dentre as cortinas cor-de-mel da janela acima da pia de mármore. Ele se levanta e vai até a porta novamente, desta vez para pegar o jornal. Pega a maçaneta e a gira, abrindo a porta e dando um passo para fora.

Alguém põe um dedo no gatilho.

Ele dá outro passo. Onde largaram o jornal?

Quase lá.

Outro passo. Ali está!

Disparou.

Ele cai no chão. Parece cena de filme.

O mundo gira em câmera lenta à sua volta.

Sangue se espalha, o vermelho misturando-se à neve fria e sem cor no chão.

Alguém que passa por ali vê a cena.

"Porra, eles mataram o Kenny!"

Bala Perdida (PT/BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora