Camélias francesas - 1

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  Naquela sala escura, de paredes lascadas e sem janelas, encontrava-se plácido e coberto de poeira, um grande piano de cauda, solitário e silencioso, mesmo no centro daquele cubo sombrio. A porta abriu-se, e Anthony arrastou-se pelo pavimento de madeira até chegar ao piano, onde se posicionou com uma respiração pesada, já habitual consequência da sua asma que piorava com a idade. Abriu a tampa do instrumento e endireitou as costas, iniciando uma melodia oscilante entre o leve e o pesado, o rápido e o lento. E à medida que tocava, um monstro familiar crescia dentro de si. Um monstro que, docemente, inspirou Vivian na sua coçada memória. 

 O quarto dela cheirava a camélias, um cheiro atraente, que invadiu as narinas de Anthony num convite subtil para cheirar de mais perto o perfume cravado no pescoço nu da presa francesa. Continuou a tocar a melodia bipolar, impulsionado pela paixão ansiosa nas suas mãos que, na recordação, percorriam o corpo da amante de baixo até cima, enquanto o monstro crescia mais e mais dentro de si. Ultrapassou o umbigo e percorreu os abdominais, ao mesmo tempo que ela se roçava nele, comandada pelo formigueiro latejante entre as suas pernas. 

  A música tocava devagar e leve, e tocando um Dó mais pesado, Anthony apertou-a contra si, deixando que as costas quentes da francesa se colassem inteiramente no seu corpo ávido. Ansiosa, a mão dele subiu, envolvendo-lhe o pescoço perfumado e, a arfar, beijou-lhe o ombro, cego de ânsia. Vivian, possuída de prazer, soltou um gemido, e Anthony tremeu num sôfrego doentio, descontrolando-se com a força do monstro que se debatia sedento dentro de si. Não desprendeu as mãos do pescoço dela quando o gemido se desdobrou numa tosse fraca de socorro, que murchava nos seus rendidos lábios roxos. Pelo contrário, possuiu-a sem parar, até se vir dentro dela , louco de prazer.

AnthonyOnde histórias criam vida. Descubra agora