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Existe uma linha tênue entre a morte e a vida. É necessário buscar o equilíbrio, se não, você ultrapassa essa linha.
Caminho lentamente até o trabalho.
Bem, nem eu sei como eu entrei nessa vida, quando dei por mim, estava em um pole dance dançado pra dezenas de homens.
Quando eu tinha oito anos, minha mãe me inscreveu no ballet. Na rua 365, na escola profissional Danúbia Albuquerque. Uma senhora de 64 anos, insuportavelmente chata. Mas com ela eu aprendi muitas coisas, principalmente a nunca baixar a cabeça.
Quando eu estava com quinze anos, o câncer da minha mãe atingiu os pulmões, os rins e o fígado, logo em seguida, o cérebro. Com infecção generalizada, ela veio a óbito em uma sexta feita, as 21:40. Desde esse dia, passei a odiar as sextas feiras.
Sem minha mãe e sem a verba, passei a procurar formas de conseguir dinheiro, pra sustentar o sonho do ballet.
Mas em 2017, após uma proposta de ir dançar no exterior, tive que procurar um novo meio de conseguir dinheiro mais rápido. E foi ali, no restaurante que eu trabalhava como garçom que surgiu essa maravilhosa proposta. De dançar em uma boate noturna, ganharia um valor, mais a gorjeta. Quando entrei nesse mundo, me deslumbrei pelo dinheiro facil e abandonei completamente a vida de dançarina de ballet clássico.
Durante esses cinco anos, nunca fiz programa. Mas é claro que uma vez ou outra, rola umas mãos bobas.
Entro na boate pela porta de trás, caminho lentamente até o Hall.
- Boa tarde, Vitor. - Falo jogando minha bolsa em qualquer canto.
- Oi purpurina! - Vitor fala animado.
- Nossa, sua animação me anima tanto. - Falo me sentando, totalmente desanimada.
- Aí florzinha. - Ele vem até mim, que estou em uma das mesas espalhadas pelo salão de festa.
- Tá tendo uma movimentação estranha aqui. - Ele fala sussurrando olhando pros lados.
- Tá falando de que? - Me aproximo me animando no assunto.
- Não sei, mas tá estranho. - Ele fala.
- Viado safado, nem pra dar a informação completa. - Bato nele.
- Homofóbica! - Ele grita batendo palma e eu caio na risada.
- Preparada pra mais um show? - Ele pergunta.
- Depois de um tempo, tudo se torna mais fácil. - Falo suspirando.
- Desistiu mesmo da vida de Ballet? - Ele pergunta.
- Era um sonho mais da minha mãe, do que meu. - Falo engolindo as lágrimas.
Ele ia falar, mas a Carol o interrompe.
- Valeska, você vai primeiro e depois o Vitor entra começando a noite dos drags. - Ela fala.
- Você sabe, noite de drag você ganha pouco. - Ela fala e sai do salão.
Vitor revira os olhos.
- Não gosto dessa filhote de cruz credo. - Ele fala.
- Para, vai. Ela que faz o pagamento. - Falo.
- Mas ela só faz isso mesmo, porquê não serve pra mais nada. - Ele fala e mais uma vez caio na risada.

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Agora me preparo para entrar no palco, retoco a maquiagem e vou até o início do palco.
Quando as luzes se apagam, é meu momento.
Vou até o meio do palco e as luzes se ascendem, e eis aqui o espetáculo de minha queda.
Abandono a Amanda e incorporo a Valeska, alguém totalmente diferente de quem eu sou.
Início todo o jogo de sedução durante a dança, olhos famintos me encaram em êxtase, mas olhos de vaga-lumes chamam minha atenção em meio aquela multidão de homens esfomeados.
Devido a luz, não consigo enxergar seu rosto, somente seus olhos de vaga-lumes em minha direção.
Naquele momento, danço exclusivamente para aqueles olhos.
Poderia congelar esse momento, pra todo o sempre.
Mãos passeiam pelo meu corpo e eu não me importo, olho somente para aqueles olhos.
Notas são jogadas no chão do palco.
Quando enfim a música acaba, me despeço daqueles olhos em meio a multidão e entro no camarim.
- Amiga, foi melhor que todas as outras noite! - Vitor vem me cumprimentar.
- É amigo. - Falo sem graça.
Ele vai até o palco para fazer o seu show, e eu vou direto retirar toda essa produção.

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⏰ Última atualização: Jan 24 ⏰

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