.perguntas.

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— Appa, o que é amar?

Talvez essa fosse a pergunta mais difícil que Namjoon ouviu ou ouviria em toda sua vida.

Não era como saber o significado de qualquer coisa ou até mesmo como saber fazer algo. Era sobre sentir, era sobre amor. E amar nunca é qualquer coisa.

Ainda mais para um dia frio como aquele, que gelava o dedão do pé ao último fio de cabelo. Que fazia tremer até com três casacos pesados. Amar era sobre fogo ardente, paixão latente e coração caloroso. E tudo isso era demais para uma criança.

— Qual o motivo da pergunta? — O pai o observou atento do retrovisor interno do carro.

— Ouvi falar hoje na escolinha....— O menininho brincava com os dedos, sentado na cadeira alta no banco de trás. — A professora tava contando uma historinha e falou. Achei uma palavra legal!

— E o que você acha que ela significa? — Namjoon perguntou novamente, de fato interessado na pergunta, mas na verdade lhe dando mais tempo para formular uma possível resposta.

— Não sei! Acho que é de comer... — Encarou o homem à sua frente com um olhar curioso. — Diz logo o que é, appa!

Namjoon só pensava que o garoto tinha apenas seis anos de idade, sabe? Seria difícil ele entender o que era aquele sentimento ou como ele deveria ser sentido, principalmente quando se tratava de amar outra pessoa.

Amar, apesar de intenso, era capaz de entristecer. Apesar de forte, era capaz de machucar. Apesar de bonito, era capaz de perder o encanto uma hora.

O pai do garoto, para explicar, primeiro não poderia ser simplista, mas ao máximo compreensível. O menino tinha muito pela frente, com certeza não há escola melhor para se aprender sobre o amor do que a vida.

Namjoon suspirou. — Amar é um sentimento, querido.

— O que é sentimento? — Era a vez da réplica.

Atento aos sinais da rua, passou a mão no cabelo castanhos, já um pouco desmanchado, e pensou no exemplo mais fácil. — Quando se está sem comer há muito tempo, você...

— Fica com fome. — Ele respondeu, agora observando os olhos do pai pelo espelho retrovisor também.

— Então, é tipo isso. — Disse e logo riu da careta de dúvida do moleque.

— Então amar é tipo ficar com fome?

— Não. — Riu da comparação. — Mas é parecido.

— Como assim parecido? — O menor cruzou os braços, emburrado. — Não sabe dizer?

Namjoon dedilhou o volante. Aquilo era difícil mesmo, afinal qualquer coisa que se diz a uma criança, basicamente é o que ela leva para vida até começar a de fato ter percepção de mundo. Tinha então que ter cuidado ao escolher qualquer palavra que fosse.

Para se convencer de fato sobre o que entendia quanto ao amor e a amar, lembrou de sua história, de sua vida, de quando o conheceu. A mente teria de rebobinar dez anos atrás, e era como se todos aqueles anos tivessem passado somente no dia ontem.

Era vívido na memória. O primeiro verdadeiro amor a gente nunca esquece. Portanto, a conclusão para Namjoon é que não foi difícil amar Park Jimin.

Ele jurava que talvez tenha se apaixonado pela postura adorável e sorridente. Ou pela forma como ele se encaixava em seu abraço, já que sempre era correspondido com um aperto na cintura devido a diferença de altura. Ou de como suas mãos se entrelaçam, sempre a de Jimin sendo a mais quente. Era louco como tudo nele abalava todo e qualquer juízo que Namjoon ainda tinha.

Mesmo com o tempo, e agora com o garoto curioso em suas vidas, Namjoon jurava poder confessar de peito aberto que Park Jimin tinha o semblante mais bonito do mundo, o sorriso mais doce do universo e que todos os dias experimentava o renovo de seu sentimento por ele através do garoto, que materializava o sentimento mais incrível do mundo em alguém.

Com Jimin, amar era simples. Era leve, era bom. Namjoon sentia que poderia enfrentar o mundo por ele e ao lado dele — e como, de fato, precisaram. Era óbvio que seu amor por Park Jimin aumentou ainda mais nas circunstâncias ruins, pois foi por ele que Namjoon decidiu superá-las. E o melhor é que hoje Namjoon podia olhar para trás e, se fosse necessário repetir tudo, faria sem hesitar.

Amar é quando a gente gosta tanto de alguém, que acha que pode fazer de tudo por aquela pessoa. — O pai falou por fim. — O que o appa Ji sempre diz para você quando te coloca para dormir?

O garoto parou para pensar por um instante. — Eu te amo.

— E o que eu sempre digo quando te deixo na porta da escola?

— Se comporta e estuda bastante.

Namjoon revirou os olhos. Sabia que fazia o papel do pai preocupado. — E o que mais?

Eu te amo.

— Então quando a gente gosta muito, mas muito de alguém, significa que você ama essa pessoa. Eu e o appa Jimin te amamos, tanto que faríamos qualquer coisa por você.

No banco de trás, ele ainda parecia pensativo. Talvez formulando todos aqueles significados na pequena cabecinha.

— Mas na história, o menininho amava uma flor...

— Lembra quando te contei sobre meu bonsai, o TinTin? — O pai o lembrou e ele concordou. — Eu também o amava muito.

Então a gente pode amar qualquer coisa? — Ele coçou a cabeleira de fios pretos.

— Pode. — Namjoon o respondeu sem olhar, para fazer a curva em uma das ruas. — Mas coisas boas, que fazem a gente feliz! E é mais legal ainda quando a "coisa" também ama a gente.

— Será que o Lester gosta de mim então? — Perguntou inocentemente. — Eu gosto dele.

— Claro que sim! — Parou no semáforo e logo em seguida virou-se para o banco traseiro, onde assentiu para o menino. — Então você o ama, certo?

— Sim! — Respondeu alegre, mostrando os dentes quadradinhos e pequenos, o qual se destacava a falta de dois na frente por terem caído. — Ele é um cachorrinho fofo.

— Então ele também ama você. — Namjoon sorriu com o rumo da conversa. — E o appa Joon, você ama também?

— Também, appa, também.

Namjoon riu ainda mais com a sinceridade, se colocando de volta ao lugar. — Eu também te amo, meu bem, muito mesmo!

Se deu conta que nunca tinha ouvido aquilo dele, era literalmente a primeira vez. Desde que ele e Jimin decidiram adotar o garoto, logo de primeira sentiram o lado fraterno crescer em seus corações. Era tão inexplicável e surreal que era capaz de os fazer transbordar de amor.

Jimin quem o diga, já que faltava soluçar de chorar quando o menino pôde passar as primeiras noites na casa deles, no quarto que eles haviam planejado com todo amor e carinho.

— E eu também amo o Ji appa! — Ele disse como se tivesse esquecido algo muito importante.

— E o que você mais ama nele? — O pai perguntou, curioso.

— Quando ele mexe no meu cabelo me contando historinha.

— É mesmo?! — Namjoon o viu assentir repetidas vezes com a cabeça. — Então quando chegarmos, conta isso pra ele antes de dormir. Tá bom?

— Tá bom, vou falar!

Namjoon sabia que Jimin ficaria feliz com aquilo e possivelmente choraria, como sempre. E foi ali, no silêncio que se instaurou no carro, que o outro pai também pensou nas inúmeras coisas que o fez amar Jimin... E que se fosse contar, deveria começar com os motivos desde o início.

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