Enquanto Você Dormia

Paixão desconhecida.

Mais um dia que aparentava se passar em câmera lenta — os segundos arrastavam-se na mais densa tortura já experimentada para alguém que estava acordada desde as cinco horas da manhã, trabalhando presa e solitária dentro de uma pequena cabine, em uma pouco movimentada estação de trem, onde não podia sequer ter um espaço de lazer para distrair-se, seja desenhando, como costumava fazer em períodos infindáveis de tédio, ou fazendo qualquer outra coisa que não fosse observar a neve pálida aos poucos indo de encontro ao chão.

Tanto era seu tédio que mal reparou quando dedos compridos e delicados adentraram o pequeno espaço que jazia no final do vidro da cabine para a troca de dinheiro e fichas, somente reparando posteriormente a quem estes pertenciam. Quando ergueu o seu olhar, percebera finalmente a presença da morena que há algum tempo roubara seu coração completamente para si, sem a menor sombra de piedade.

Os fios negros de cabelo caíam com graça por seus ombros devidamente largos, e havia um pequeno sorriso discreto brincando em seus lábios ao analisar a face cansada da loira em sua frente, que prontamente tratou de arrumar sua postura para entregar a ficha de passagem à mulher que aguardava sem qualquer resquício de pressa. Jinsoul chegara a abrir a boca para cumprimentá-la com um tímido "olá", mas notou ser tarde quando seu olhar se perdeu nas costas chamativas daquela que parecia brincar consigo.

Este era um dos motivos pelos quais Jinsoul não se importava tanto de trabalhar; desde que pudesse ver a jovem sem nome, toda arrumada em ternos aparentemente caros e bem costurados, posando de uma imensa maestria até mesmo para o mais simples gesto, como o caminhar agradável de quem não precisa apressar-se para não perder o trem, estaria bem para mais um dia monótono enfurnada naquela cabine pavorosa.

Não fora preciso fazer muita coisa até a hora de ir embora. Jinsoul estava contando os minutos, desde que acordara naquele dia, para finalmente poder voltar ao aconchego quente e receptivo de sua casa, jogar-se sobre o colchão macio que ocupava metade do pequeno quarto, onde poderia ficar deitada com sua pequena gatinha, Lola. Esta era a definição de um bom dia para a jovem solitária.

Finalmente em seu apartamento, após uma ducha gostosa de um banho morno, para distrair-se um pouco, juntou alguns itens antigos de enfeites natalinos para começar a organizar a sua árvore de natal do ano.

Esta época era um pouco mais fria e sensível para a Jung, quando há um espaço para pensar na solidão que nutre todos os dias um pouco mais. É um pouco cansativo às vezes retornar para casa, porque a garota sabe que não há ninguém a lhe esperar. Exceto, é claro, por Lola; o que já representava muita coisa para si. Ainda assim, havia desejo para algo além. Em noites frias como esta, na qual encontrava-se presa, padecia de um carinho morno oferecido por alguém que amasse — não há necessidade de romantismo neste ato, visto que o toque de uma mãe muito se assemelharia com o que Jinsoul precisava. Estava encarando uma fase problemática de sua vida; tornar-se adulto era assustador, e o mais assustador, para si, era saber que não havia ninguém com quem pudesse contar, uma vez que a loira acabara de perder seu pai e não pôde chegar a conhecer sua mãe, que morrera quando a Jung ainda era pequena.

Não se deixava abalar pelos momentos únicos de tristeza e carência, não. Ao invés disso, a garota optara dar um lugar mais valioso ao sentimento de liberdade e independência, que clamavam cada vez mais fortes em seu peito e em sua vida. Estava se tornando uma mulher de quem seus pais se orgulhariam, sabia disto. Sabia do quão esforçada era para conseguir tudo aquilo que lhe era de direito, e Jinsoul sabia merecer o mundo.

Antes que pudesse afogar-se em pensamentos, no entanto, o som de mãos batendo contra a sua porta chamara sua atenção. Trilhou um curto caminho até alcançar a maçaneta, apenas para girá-la e dar de cara com Jiwoo, a filha do dono do apartamento em que morava. Bufou em um tom baixo, imperceptível, e rolou os olhos em puro tédio, já sabendo do que se tratava.