Segunda-feira, 10 de Setembro, 2019
6:45 AM
Todo mundo tem um segredo na vida. Nem mesmo o Papa é totalmente fiel. Como eu sei disso? Porque eu também tinha um.
Eu vivia em um mundo onde os segredos são como um motor para sociedade. Ninguém é totalmente sincero, nem com seus pais. Esses mesmos, que não sabem nada sobre os filhos. Nem os melhores amigos são realmente melhores amigos. Nem os primos, nem tios, nem ninguém!
Fazia dois meses que eu havia saído daquela imundice de Universidade e ainda assim a perseguição contra minha sexualidade não tinha acabado.
Ser um garoto de vinte anos que acabou de entrar na faculdade, gay e travesti, não é um título muito aceitável pelas pessoas da minha cidade natal, nem mesmo no nosso país. Existem milhões de segredos no mundo, milhões que não podemos nem contar. E o meu? Esperava que ninguém naquela nova cidade o descobrisse enquanto eu vivesse.
Naquele dia, fazia um mês que havia chegado na faculdade de Seul. Eu não queria ir para lá, mas a situação da minha vida em Incheon não estava nem um pouco fácil, muito menos suportável; ou eu mudava de cidade, ou eu deixava de viver.
Chutei uma pedrinha no caminho para a faculdade. Graças a Buda eu morava perto dos prédios universitários, e como eu sou um pobre desgraçado, sem mãe ou pai, tinha que ir a pé. Mal tinha dinheiro para bancar minhas próprias coisas, como aluguel e comida, não tinha tempo, disponibilidade ou dinheiro algum para gastar com lazer.
Entrei na sala vazia. O fone de ouvido plugado no celular já tocava a música no último volume. Apenas encaixei os fones devidamente em cada ouvido, tirando a mochila das costas e sentando na última carteira da sala como de costume.
Mexendo no telefone, recebi uma mensagem da única pessoa com a qual socializei na Universidade inteira: Park Seonghwa. Embora éramos próximos, não chegávamos a ser totalmente amigos. Sua mensagem dizia que iria chegar atrasado e pediu para guardar um lugar para si. Um sorriso se ergueu apenas do lado esquerdo dos meus lábios. Droga. Eu tenho que parar com isso, pensei comigo.
Seonghwa era hétero! E já tinha deixado bem claro que odiava tudo que envolvia homoafetividade. Pelas poucas conversas que tivemos, pude notar isso, ainda mais que, com seu perfil másculo, eu não ousaria tocar no assunto com ele. Uma vez ouvi boatos de que ele já bateu em um transexual na escola quando mais jovem. Mas isso não me interessava, e embora ele fosse auto-suficiente, parecia ser uma boa pessoa. Não acho que ele teria coragem de bater em alguém assim.
Apesar de eu não ter medo dele, não ousaria contar sobre a minha… "identidade", se assim posso dizer. Pelo menos eu não achava necessário.
Logo a sala se encheu e junto com eles o professor chegou. A primeira aula do dia era álgebra linear, e minha nossa, o professor não estava nos seus melhores dias. Seonghwa iria pegar uma bronca bonita.
— Hoje vamos sair um pouco da zona de conforto de vetores e espaços. Encaminhem-se até a sala de mecânica da computação. Vamos aprender a transformação de matriz na prática.
Misericórdia!
Eu não venho de uma família evangélica, nem tive a ousadia de pisar em uma igreja, mas eu sabia que eu precisava orar naquele momento. O dia só havia começado e eu já estava me arrependendo de ter levantado da cama naquela manhã.
Seonghwa apareceu, finalmente, na porta da sala pedindo licença ao professor, e como eu havia previsto, o Sr. Yang lhe disse que não queria vê-lo atrasado novamente. O Park curvou o corpo rapidamente, pedindo perdão algumas vezes.
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Totalmente Insano
RandomPark Seonghwa não imaginava que Kang Yeosang pudesse se esconder debaixo de uma saia tão bem a ponto de parecer realmente uma mulher. O baixinho acreditava que seu segredo estaria consigo até o túmulo, mas o Park era mais rápido! Todos têm segredos...