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Sidney, Austrália Antes

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Sidney, Austrália
Antes.

A passagem do tempo é algo que me assusta muito, muito mesmo.
Me assusta o modo como sempre buscamos mais tempo, mais uma hora, mais um minuto, mais um segundo, e o tempo parece sempre escorrer entre nossos dedos. Apesar de me assustar, a passagem do tempo também me fascina. Em apenas minutos, ou segundos, nossa vida pode mudar completamente. De 8 a 80, num piscar de olhos. Tudo que conhecemos pode se tornar desconhecido, tudo que antes fazia sentido pode simplesmente não fazer mais.

Esses pensamentos ecoam em minha mente enquanto estou parada em meu quarto agora vazio. As paredes pintadas em um tom de azul pastel, só não perderam totalmente sua personalidade devido aos desenhos pintados de partitura branca na parede, feitos pelo meu tio logo que cheguei aqui. O quarto que, antes era cheio das minhas bugigangas — maneira que meu tio,carinhosamente apelidou minhas coisas — , agora só possuía os móveis padrões de um quarto feminino.
Hoje é meu último dia em Sidney, cidade onde vivo desde os meus quatorze anos. Em poucas horas, deixarei para trás parte da minha história, deixarei para trás um capítulo significativo da minha vida. Daqui a poucas horas, parto para uma pequena cidade na Escócia, para estudar em um renomado conservatório de lá. Sidney, daqui a uns dias, será apenas uma lembrança. E a Escócia será meu futuro. Infinitas possibilidades.
Sempre que meu tio me visitava quando eu morava em Paris, antes de dormir ele me contava histórias. Lembro de sempre ficar ansiosa porque eram sempre histórias diferentes, cada noite cheua de infinitas possibilidades  únicas. Agora, anos depois, entrando na vida adulta, sinto esse mesmo sentimento. Novo país, nova cidade, nova história, infinitas possibilidades. Tanto possibilidades boas quanto ruins. Infinitas chances, porque a vida só está começando e isso é muito assustador

—Pie, sabe que detesto te apressar, mas o táxi já está esperando lá embaixo. — Tio Drew, que muito provavelmente está na porta de casa, grita tentando ser ouvido.

Sem responder, apenas pego a última caixa de minhas coisas da escrivaninha, dou uma última olhada no quarto e desço as escadas. Lá embaixo, vejo Tio Drew, um homem de meia-idade, alto, com cabelos grisalhos e um físico atlético muito charmoso para sua idade, está parado à porta. Ele se aproxima quando me vê, pega a caixa que estou segurando e a leva em direção ao carro, o sigo e quando chegamos no carro, vejo que  o porta-malas já está quase lotado com minhas coisas.

Depois de colocar a caixa no porta-malas, Drew olha para mim com melancolia.

— Você sabe que estarei sempre aqui, não é? Mesmo em outro continente, pode contar comigo para tudo.

Sorrio, pois sei disso. Tio Drew é uma das poucas pessoas em quem posso confiar e contar, não importa o quão ruim seja a situação que eu me meti. Sei que ele sempre daria um jeito de me salvar e me colocar em segurança novamente. Ele atravessaria planta terra se fosse necessário para me salvar.

— Claro que sei. — Minha resposta o faz sorrir levemente. Drew leva uma mão aos olhos, tentando disfarçadamente secar as lágrimas que teimam em escorrer, dou um tapa leve em seu ombro. — Ei, não precisa de tanto drama. Não vou morrerer, sumir ou algo do tipo.

Drew solta uma risada trêmula.

— Você é bem convencida, Petit. Não estava chorando, só tinha caído um cisco nos olhos. — Ele diz com ironia.

Solto um risinho e o abraço. Ele retribui o gesto. Não sei por quanto tempo ficamos assim, abraçados, tentando prolongar o momento o máximo possível. Até que Drew deposita um beijo em meus cabelos e sussurra:

— Te amo, Pequena Pie.

Nos separamos e sorrio para ele.

— Eu até gosto um pouquinho do senhor. — Faço um gesto com os dedos indicando uma pequena quantidade. — Bem pouquinho.

Consegui arrancar uma risada dele.

— Está bem, vou entender isso como um "Eu também te amo, Titio".

Era exatamente o que eu quis dizer.

— Antes de ir, preciso que me prometa uma coisa.

— O que você quiser, petit.

— Me prometa que não vai falar onde eu estou para você-sabe-quem. — Tio Drew me encara, esse assunto já foi motivo de divergências entre nós várias outras vezes, o olho com o olhar mais suplicante que consigo e insisto no meu pedido. — Por favor, só me prometa isso. — ele suspira, muito provavelmente cansado por ter que tocar nesse assunto outra vez.

— Não posso lhe prometer nada. Você-sabe-quem é bem persuasiva quando quer. — Lhe encaro com um olhar que diz "Ah, qual é tio. Esse é o melhor que um ex-agente da polícia consegue fazer?" Drew, que me conhece muito bem, arrisco dizer que até mais do que eu mesmo me conheço, parece entender com todas as letras o que meu olhar quis lhe dizer.
— Está bem, minha boca é um túmulo. Apesar de não concordar com sua decisão,a decisão é sua. Então, irei respeitar.

Depois disso meu tio abre a porta para eu embarcar no carro. Assim que o motorista começa a dar partida, aceno para Drew, que já desistiu de segurar as lágrimas. Ele acena de volta, até que o carro continua seguindo e Drew some do meu campo de visão. Me inclino para a parte de trás do carro, olhando-o pelo vidro traseiro. Segundos depois, não consigo mais vê-lo, ele se torna apenas um pontinho. Quando isso acontece, me acomodo novamente no banco. Coloco meus fones de ouvido, inclino minha cabeça sobre o encosto do banco e fecho meus olhos, concentrando-me na suave melodia de violino que toca nos fones.

Escócia, aí vou eu.

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⏰ Última atualização: Feb 11 ⏰

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