O rei esquecido (livro 1)

Capitulo 5

Dias se passaram.

Dias frios e longos.

Eram mais do mesmo, longas caminhadas  sem conversas, noites geladas compartilhadas numa cama com um homem nu que tinha mais força em seu corpo do que dois cavalo juntos.

Eu não espiei novamente debaixo das cobertas, mas não era como se tivesse esquecido o que já tinha visto.

Como eu poderia esquecer?

Estava com um punhado de homens, mas nenhum deles se parecia com ele. Nenhum tinha aquele tamanho. Mesmo os guardas do castelo não tinham a mesma masculinidade.

Mastodonte superava todos eles.

Finalmente apareceu uma luz no fundo do túnel. Era sutil, mas estava lá.

"Oh, graças a Deus."

Ian segurou a tocha e sorriu.

"Você diz isso agora..."

"Estou confiante de que não vou ter saudades deste lugar", falei, ansiosa pelo sol de verão tocar na minha pele.

A luz ficou cada vez mais brilhante, um farol de calor e esperança, um fim para este túnel escuro interminável. O início da jornada foi tenso porque eu tinha sido capturada, mas depois se transformou em medo por diferentes razões. Estar no subsolo... foi tortura. Sem sol. Sem árvores. Sem céu.

Foi insuportável.

Mas à medida que nos aproximamos, o calor não me atingiu na cara.

Ficou frio—gelo.

A luz branca ficou cada vez mais brilhante, me incandescendo. Levantei a mão na frente do meu rosto para torná-la mais suportável, para lançar uma sombra afim que fosse mais fácil ver o que estava na minha frente.

As tochas foram apagadas e lançadas na entrada da caverna. Havia outras lá também, prontas para serem usadas de volta ao topo do penhasco.

Olhei para o mundo a minha volta—e não era nada além de neve.

Um mar de gelo.

Inverno.

Um inverno para o qual eu não estava vestida para enfrentar.

A luz aparecia através da atmosfera nublada, reflexiva e brilhante, mas não quente.

Olhei em volta, o cenário se expandindo para lá do horizonte, um manto gelado sem fim. Uma rajada de vento passou e me atingiu no rosto.

"Que lugar é esse...?"

Mastodonte passou por mim, suas botas pesadas triturando a neve, sua capa preta dançando com o vento.

"O mundo real."

****

COM OS PENHASCOS ATRÁS DE NÓS, nos aventuramos mais fundo no deserto frio. Os pinheiros altos estavam cobertos com neve fresca, que começou a se acumular cada vez mais à medida que viajávamos, chegando até a minha cintura e entorpecendo meu corpo.

Eu não reclamei, mesmo que provavelmente fosse morrer.

Ian olhou para mim algumas vezes, sua altura sendo mais fácil para ele enfrentar a neve, especialmente com sua armadura e roupas. Ele olhou para o irmão, mas não disse uma palavra.

Mastodonte não olhou para mim, mesmo quando eu tropecei e caí em uma pilha de neve.

Quando meu rosto bateu no gelo, senti um arrepio.

"Ok... Sinto falta da caverna."

Os homens continuaram a seguir em frente, nem um pouco preocupados que eu fugisse ou os atacasse pela retaguarda. Me considerava uma oponente decente, mas o clima frio não ajudava, e me deixou completamente paralisada.