Dérma, o andar de músculos.O chão era como se fosse carne viva. Pulsando, sangrando e fazendo sons grotescos. Aquele andar era o que mais me causava náuseas e nojo. Nesse tempo, só tinha sobrado eu e dois companheiros, que logo mais tarde seriam o motivo de eu ainda poder escrever esse livro. Tive o desprazer de presenciar ambos sendo devorados por um corpo gelatinoso de cor escura. Após absorvidos, seus olhos eram estampados no peito da criatura, que tomava para si, partes humanas em seu corpo. A primeira delas desenvolveu uma musculatura humana de sua cintura para baixo, deixando a mostra toda a carne vermelha que antes pertencera ao meu amigo, Jeff. Quanto ao segundo corpo gelatinoso, ele assumiu os braços, torso e pescoço de Sullivan. Tremendo e em dúvidas se me desabava aos prantos ou fugia por minha vida, acabei sendo perseguido pelas criaturas.
Enquanto corria sem rumo e aos tropeços, notei que subitamente o ar havia mudado e as criaturas, não mais me seguiam, pelo contrário, elas fugiam de mim. Apoiei minhas mãos ao joelho, com uma respiração instável. O ar do local era rarefeito, fazendo alusão que era o topo da dimensão... um terceiro andar. Engoli em seco e olhei para o cenário atrás de mim. O que seria assustador ao ponto de assustar um monstro?Vazio, o pináculo da insanidade.
Diferente dos outros locais, este não tinha sequer sinais de vida ou que alguma vez já tenha sobrevivido um organismo sequer. Uma paisagem plana, deserta e inteiramente sedimentar. Conforme andava pelo cenário apocalíptico, notei alguns padrões e características do andar: o céu era nublado, indo de tons vermelho-sangue ao cinza gradativamente (cerca de 1h até completar o ciclo total). Suas rochas possuíam cores majoritariamente cinzas e um tom escuro avermelhado. O ambiente só possuía duas cores, dando um tom vazio e mórbido ao local.
Não sei por quantas horas eu andei. Não me sinto exausto fisicamente, mas cada vez que ando nessa paisagem sem cor, mais insano eu me sentia. No começo eu olhava constantemente para minhas mãos e vestimentas, lavando meus olhos com a cor de pele e o marrom chamativo de minhas vestes, mas gradativamente elas tem se tornado cada vez mais cinzas. Aqui não tem cheiro, fim ou sequer um som além de minhas respirações profundas e os batimentos do meu próprio coração. O lugar era assustador ao ponto de que se eu me concentrasse, ouviria mesmo minha corrente sanguínea trabalhando. Preciso sair daqui antes que eu busque a morte.
Não sei há quanto tempo estou caminhando, mas sinto que talvez façam dias ou mesmo meses. O céu não mostra o ciclo diurno e noturno, as paisagens não mudam nem mesmo a cadeia de morros e planícies. Meu cérebro estava fritando, era consequência de um processo semelhante a uma tortura dos elfos, apelidada de "tortura branca". O processo consistia em trazer o alvo para uma sala inteiramente branca, o fazer usar vestimentas brancas, dar somente comidas brancas, deixar uma temperatura fria para o deixar pálido e mesmo tingir seus cabelos de branco. Conforme só vivenciava uma única cor, seu cérebro e sanidade eram gradualmente danificados. Dizem que mesmo um clérigo não poderia reparar as sequelas pós-procedimento.Quando finalmente desisti de andar, me atirei ao solo arenoso, fechando meus olhos e buscando o preto da escuridão. Conforme fiquei, escutei um barulho depois de meses ou anos de caminhada...um raio partira os céus. Abri meus olhos no mesmo instante, olhando desesperado para as nuvens, buscando as cores azuis ou amareladas do raio. Sem respostas por um tempo.
Fiquei horas olhando para o céu, até que novamente um raio dividiria os céus em dois. Dei uma longa risada aliviado, que logo mais tarde seria substituído por um trauma que me perseguira a vida toda. Notei que as nuvens pouco a pouco se agitavam, formando um padrão semi-circular com retas paralelas dentro da área da figura. Separada em duas metades, as retas apontavam para s direção contrária da outra metade. Me assustei com os repentinos símbolos, mas engoli em seco e continuei a observar. Pouco a pouco, algumas nuvens formavam símbolos arcaicos ao redor da figura geométrica, formando palavras que nunca havia sequer imaginado que poderiam ser escritas. As runas eram desenhados de formas tão tortas e com dimensões estranhas que sequer penso que um humano poderia ter tal proeza de copiar. Quando as nuvens pararam de se mover, um raio partiu a figura ao meio, mas mantendo uma forma peculiar. O raio tinha um formato de um tridente de duas pontas, que atravessava a figura. Vendo agora, é como se o semi-circulo fosse um olho de uma anatomia nunca antes sequer imaginada.
Olhei com pavor os símbolos, tremendo ao imaginar o quão antigo sequer era a existência que conhecia aquele símbolo. Engoli em seco o meu medo, desviando o olhar e voltando a caminhar por aquele lugar.(Parte rasgada)
...uma espécie de corpo circular inteiramente negro ocupava os céus, sugando tudo até sua atmosfera. Me agarrei ao solo com todas as forças que tinha, rezando e gritando para uma existência divina me proteger. Após segundos, minhas unhas eram pouco a pouco arrancadas e presas ao solo, me permitindo ser puxado até aquela coisa. O corpo preto logo estava mais próximo, onde pude ver que o preto não era o corpo inteiro, mas somente sua boca aberta.
(Parte rasgada)
Acordei do que parecia ter sido um longo sono. Verifiquei no espelho e ambiente e era o mesmo dia que desenvolvi o artefato regressor. Me apoiei a pia e chorei em agonia, tremendo e mesmo defecando de medo ao lembrar da experiência cósmica que havia sofrido. Aquela, tinha sido a primeira vez...que eu regressei no tempo e me encontrei com o Monstro sem nome
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O Mal Comum
HorrorUm dos livrinhos do meu rpg de mesa. Livros esses que contam parte da história da mitologia do mesmo. Escritos e publicados por Clóvis, mas ordenados e vivenciados por Charles Hills, uma figura certamente misteriosa e perturbada. Drakhein é um un...