CAPÍTULO 05

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Gabriel não voltou a vê-la, pelo menos não sozinho. Eles acabaram por se cruzar na prometida reunião, que contava com a presença dos Anciãos para a irritação de Ariel.

Mas Lola não estava reclamando de não ter encontrado com Gabriel sozinha. Afinal, ele não podia ser para sempre o psicólogo dela. Entretanto, havia um bilhete sobre a sua pilha de livros que ficava sobre sua cômoda em seu quarto quando Lola finalmente pode respirar com tranquilidade.

Vá até ela, era tudo que dizia o bilhete, na caligrafia apertada de Gabriel. Não era preciso que ele especificasse quem era o "ela", e mesmo que fosse, o Ministro jamais o faria, pois, o bilhete passaria a insinuar grave traição.

A "ela" misteriosa se tratava da Rainha Maria Piazza, que fazia parte da Corte Hexagonal e era a mulher que estava a mais tempo com a coroa sob a cabeça — isso porque, diferentemente da Rainha Bruna e Elena, Maria nasceu com uma coroa sob a cabeça. Era a herdeira do Reino Fall e, ao que tudo indicava, logo assumiria o trono do pai.

Ninguém, além de Gabriel, tinha conhecimento que Maria e Lola ainda mantinham contato, pois jamais seria perdoada. Ariel sabia apenas que sua Imperatriz tinha um ponto fraco com a Rainha Maria e nunca admitia a crueldade dela, mas a loira não fazia ideia que Lola era uma espiã tão boa quanto os seus funcionários.

Em alguns momentos bem planejados, na calada da noite e antes de o sol nascer, Lola invadia o palácio Hexagonal para visitar a amiga. Claro que ela contava com o apoio de Gabriel para passar despercebida, mas seu apoio só se estendia até certo ponto e, já no palácio, Lola ficava por conta própria.

Conversar com a velha amiga seria de grande ajuda em um momento como aquele, pensou Lola, segurando o bilhete com força. Maria poderia revelar algo importante — se os Hexagonais realmente planejavam invadir e se ela ia deixar mesmo sua coroa em Wanadi pela coroa em Fall. Caso alguma dessas duas suposições fosse verdadeira, Maria poderia dar alguns pontos de vantagens para Átria.

Gabriel, para a surpresa de Lola, confia plenamente na palavra da Rainha Maria. Embora os dois nunca haviam interagido pessoalmente, Gabriel já ficou responsável por receber e ler cartas da Rainha no lugar da Imperatriz e ele nunca se demonstrou desconfiado das interações.

A Rainha Maria sempre foi conhecida como A Benévola, mesmo antes de todo o conflito ditatorial, e corriam boatos que ela continuava benevolente, mesmo que em uma escala menor.

Lola se sentia mal às vezes por ainda ser amiga dela, sabendo que apesar de não concordar, ela deixava que os outros Reis mantivessem toda a tirania sobre o Reino, mas ela era simplesmente uma alma amorosa e era completamente encantada em seus amigos e amigas da Corte.

Na primeira vez que se encontraram depois da concretização da separação de Wanadi e Átria, Lola questionou a amiga sobre a situação ditatorial e, porque ela não se opunha aos outros Reis. Assim que Maria entendeu a pergunta, ela se pôs a chorar, caindo em desespero no colo da amiga das terras rebeldes.

— Não posso me opor a eles, Lola, — soluçou ela — Eles são minha família; como posso não apoiá-los em tudo? Eu apoio você também, não percebe? Contei-lhe sobre os nossos acampamentos de guerra, e vou continuar te contando o que for preciso para você continuar com a Revolta. Não tiro sua razão no que faz, mas você não pode me pedir para tirar a razão deles. Igor e Bruna só querem o melhor para Wanadi, assim como você. Vocês só têm formas diferentes de fazer acontecer.

Lola não pode ficar por mais tempo com a amiga naquele encontro, portanto, a oportunidade de pressioná-la mais acabou perdida, pois a Imperatriz não teve coragem de voltar a questioná-la.

No fim das contas, Lola estava grata de saber que sua primeira amiga na vida a apoiava, mesmo com todas as diferenças. O fato de Maria também apoiar os demais Hexagonais pareceu insignificante e ela entendia o quão difícil era ir contra Rei Igor, o Esperto, que era o mais prepotente de todos da Corte. Ele era argiloso, calculador e muitas vezes soava frio. Ariel culpava ele pela decadência dos Hexagonais.

A Ditadura HexagonalOnde histórias criam vida. Descubra agora