congelado

10 1 0
                                    


                                       🦋

             Jungkook sorriu. Sorriu porque era dezembro, suas últimas férias como um estudante do ensino médio. Sorriu, pois, de alguma forma, saberia que seria um ótimo final de ano. De ciclo, de calmaria. Jungkook sorriu porque estava crescendo para o mundo.

           Como uma lagarta que se transforma, tinha pavor mas anseio de descobrir as coisas. O tato, o sentimento vívido da brisa morna dos finais de tarde naquele mês tão quente. Tinha medo, muito receio, mas adorava andar na corda bamba, balançando o corpo, a cabeça, os pés em um só ritmo desesperador. O de não ser como o mesmo dos outros onze meses que haviam se passado.

          Sorriu mas logo derramou uma lágrima porque não era tão fácil assim, tão rápido de se saber como agir ou como pensar agora que já era quase um adulto. Um ano e alguns meses e se tornaria outra coisa, outra vida. E chorou. Chorou de medo por saber exatamente o que fazia quando sentou para tomar sorvete de morango ao lado de seu irmão mais novo.

         É que ele também não entenderia, ainda estava no sétimo ano, era o seu bebê. Jungkook tinha medo de se mostrar assim a ele, já que, para Jimin, seu irmão mais velho era como uma bela rocha que sabia perfeitamente por onde rolar e às vezes permanecer parada quando houvesse perigo. Que sabia, mesmo que não quisesse, como a vida se transformava em todos os toques e momentos que passavam juntos na garagem de casa, enquanto uma mangueira espirrando água era a mais bela sintonia de felicidade que já conheceram.

           E Jungkook teve medo do trovão que de repente cruzou o céu da pequena cidade que observavam do bairro mais alto, onde moravam com a mãe desde que o pai mudara de estado. Ainda mantinham contato por mensagens e ligações, mas não era como antes. Ele precisava disso mais do que nunca. Precisaria dele na primeira inscrição de vestibular, na primeira aprovação como treineiro ou nos dias cansativos que ficaria integralmente na escola. Nos almoços com os amigos, nas marmitas requentadas e nas latas de coca de café que dividia com o melhor amigo na mesa do pátio. Na mesa branca das cadeiras pretas. Quatro cadeiras. E quatro amigos.

          Então, como esperado, choveu a noite inteira.

          É que, naquela hora, naquela última primeira quarta-feira das férias de dezembro, ele reconheceu que talvez, só talvez, não soubesse para onde ir. Qual curso, cidade, em quanto tempo deveria saber como ser um adulto. Ainda iria fazer dezessete anos, muito longe de dezembro, mas que o assustavam. Porque se aproximava dos dezoito, depois dos vinte e por fim dos trinta. E queria saber como era esse lance de viver e degustar no mais aguçado paladar de melancolia a efemeridade dos seus anos como um bobo adolescente.

           Pisava torto, ouvia músicas antigas e tomava picolé sempre que podia. Andava pelo centro da cidade e comia pastel às terças-feiras, mesmo que o sol escaldante o bronzeasse sempre que saia sem passar protetor solar nas bochechas fofas. Ia a festas, trilhas e passava as longas tardes nas casas dos amigos, principalmente se tivesse uma gelada piscina para aproveitar. E como amava tudo isso, essa euforia de se alastrar em um espaço e receber o beijo da Roda da Fortuna.

          Mas todos agora também tinham medo, todos se afastaram naquele dezembro ensolarado. Entendia como ninguém o que acontecia com eles quando a ficha caía, por umas cinco ou sete vezes por dia. Quando rolava as redes sociais e se perguntava o que poderia estar fazendo que fosse mais produtivo, mais dedicado como aquelas pessoas do Instagram. Mais felizes, mais gratas por tudo. E se culpava em um martírio calado e mórbido que cessava apenas no outro dia de manhã, ao acordar e prometer-se que faria diferente naquelas férias.

        Mas nunca fazia.

         E desgastando, Jungkook foi se corroendo em lamúrias durante dezembro e janeiro, quando retornou às aulas e tudo havia mudado. Os colegas estavam mais bonitos, mais unidos e os professores os ensinaram naquela primeira semana que tudo bem que Jungkook fosse o Jungkook. Mesmo que negasse, recusasse quem fosse, ainda teria de enfrentar as curvas contínuas da vida de um adolescente para um adulto. E tentava manter isso na sua mais conhecida esperança dentro do peito.
 

         Antes que explodisse em milhões de borboletas que, por sua vez, também não sabiam para onde ir ou em qual flor pousar, apenas eram livres para voarem até se esgotarem entre tantas possibilidades.

     

                                     🦋

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 28, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

december.Onde histórias criam vida. Descubra agora