"Dios mío, vida"

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               Todos estavam com os olhos pregados na silhueta jogada na grama. Alguns jogadores da Argentina gritavam com o árbitro, outros tentavam conversar com Lionel, mas o capitão estava ocupado demais com a dor aguda em suas costas. Depois de receber uma joelhada em sua coluna, Léo não sentia mais nada além da vontade de acabar com aquela dor. Sua garganta estava dolorida de tanto gritar contra o gramado sintético.

"Messi!" O locutor esbravejava no microfone, o estádio inteiro tinha parado para ver o craque jogado no chão.

               Os torcedores da Argentina estavam a loucura, com diversos xingamentos para o árbitro e o jogador da Seleção Portuguesa, culpado pela lesão. Os paramédicos corriam pelo campo com a intenção de analisar o ocorrido primeiro, mas a atenção logo se voltou para a Seleção Portuguesa, nada mais que Cristiano Ronaldo partindo para cima do jogador, o que assustou seus colegas que tentaram intervir. Lionel não presenciou a cena, só conseguia ouvir zumbidos abafados da torcida e de pessoas próximas a ele, para seu próprio alívio, sentiu quando tocaram em suas costas e pernas, isso significava que seus sentidos estão funcionando, certo?

               A dor estava alucinante que nem conseguia mais gritar, apernas cobrir suas lágrimas já bastava. Sem escolha, um carrinho entra em campo pronto para tira-lo daquele ambiente. Quando finalmente foi levantado pelos paramédicos, teve a necessidade de olhar para seu namorado, procurando um apoio em seu olhar, porém a visão era de Cristiano sendo segurado por quatro jogadores enquanto gritava com o responsável da queda de Messi. O homem estava assustado como todos ali, em toda a carreira do português, ninguém o viu daquela maneira. Lionel não conseguia fazer nada, não podia chama-lo com todo aquele barulho e nem forças tinha para isso, antes de voltar a cobrir seu rosto, viu de relance o cartão vermelho erguido para alguma direção. De qualquer maneira, sua saúde estava em prioridade no momento.

— Cristiano! Porra, para! — um dos jogadores diz, o puxando para trás. — Ele vai te expulsar! — se refere ao árbitro que não estava com uma cara nada boa.

— Ele tem que expulsá-lo! — grita, advertindo o árbitro. — Me larguem, eu não vou fazer nada! — mexe seus braços tentando se desvencilhar dos jogadores.

               Ronaldo é solto, mas ainda é vigiado pelos companheiros e jogadores da Argentina. Frustrado, olha para onde Lionel estava, mas só encontra o carrinho indo para fora de campo com seu namorado morrendo de dor. Ele se preocupou em atacar o responsável ao invés de ajudar seu namorado. O jogador que derrubou o argentino foi expulso do campo - já que foi de modo intencional com consequências graves -, Cristiano levou um cartão amarelo pela inconveniência. Mas isso não o abalou. Quando viu que Messi foi substituído só o deixou mais desesperado, sabia que o jogo estava prestes a continuar e seu ruivinho poderia estar sofrendo em uma maca da enfermaria do estádio, ou pior, indo para o hospital.

               Messi, por outro lado, estava de bruços sendo coberto de bolsas congeladas para amenizar a dor enquanto esperavam uma ambulância. Sem perceber o tempo voar. O argentino é colocado com maestria dentro do veículo, sendo cuidadosos com os fãs fora do estádio. Lógico, é estranho ver uma ambulância sair do estádio depois de ver seu ídolo ser machucado em campo, então não foram totalmente despercebidos. Os canais de notícia não descansavam, procurando incansavelmente onde Lionel Messi poderia estar.

               O argentino não estava sofrendo como antes, a dor estava miúda. Por sorte, seus sentidos estavam bem, não teria grandes sequelas e as menores não prejudicariam seu jogo. Contudo, sua mente estava no jogo na TV, já estabilizado, pediu a enfermeira que ligasse a TV e colocasse no jogo para que ele acompanhasse o andamento. Sempre a mesma coisa, passavam o replay de sua queda mais vezes que o necessário, sempre o relembrando da própria falha, ele poderia ter desviado, mas foi pego de surpresa pela audácia do jogador. Logo a câmera muda para seus companheiros de time e finalmente para Cristiano Ronaldo, os comentaristas debatiam sobre a atitude dele em campo, estranhando o ataque repentino contra o parceiro de time.

"Trató de avanzar sobre su propio compañero de equipo". Um dos comentaristas relata.

"Muy valiente, estar fuera de su tierra natal lo afectó de alguna manera". O outro ri. Messi bufou irritado, odiava quando destratavam Cristiano por conta da rivalidade entre os dois.

"Fingir defender al enemigo no es la mejor idea. ¡Pero mira! ¿Lo que él está haciendo?". Messi volta sua atenção a partida. A câmera mostra seu namorado correndo para fora de campo, deixando todos confusos. Por um momento, Lionel olha a sua volta, procurando seus pertences, que obviamente ficaram em seu armário. Sem nenhum contato com Cristiano, não poderia perguntar o que diabos deu nele.

— Dios mío, vida — o argentino murmura, preocupado com o namorado.

               Lionel se acomodou na cama, gemendo de dor com o movimento. Talvez seu namorado tenha passado mal, ou foi resolver algo com seu técnico. Talvez um cochilo o ajudasse a ficar mais calmo. Com os olhos pesados, adormece rapidamente.

— ¡Señor! — uma voz é ouvida. — ¡No se puede pasar!
               Messi coça seus olhos, acordando lentamente com os barulhos.

— Desculpe, preciso vê-lo!

               A voz que Messi conhece bem se aproxima. Com um sorriso maroto, olha para a porta que é aberta vagarosamente, mas quando o português o vê, abre-a com força e a fecha da mesma maneira.

— Você é louco, sabia? — Lionel se arrisca em seu portunhol, como sempre fazia na presença de Cristiano.

— Por tu — responde baixo, se aproximando da cama e de Messi que já tentava se arrumar para abraça-lo. — Não se levante! Não quero que piore — o português delicadamente o impede de levantar. Com um sorriso pequeno, Cristiano toca suas testas de olhos fechados respirando fundo. — Você me assustou baixinho.

— Estou bem agora — Lionel alisa a bochecha macia do bronzeado. — Você não precisava abandonar o jogo.

— Eu fiquei com medo — admite se afastando para pegar uma cadeira. — Ver você gritando de dor, foi horrível — coloca a cadeira perto da cama, para segurar a mão do argentino.

— Cariño... — o apelido que Messi deu ao namorado. Com seu sotaque. O português adorava ouvi-lo. — O que te ocorreu no campo? — a pergunta pegou o maior de surpresa, pensava que Lionel não o tinha visto descontrolado.

— Nada que tenha que se preocupar, Léo — afirma. — Ele fez errado, eu apenas dei um aviso.

               Messi sorri devolvendo o aperto de mão. Mesmo com a costa debilitada, tinha o melhor namorado ao seu lado. 

ıllıllı - ıllıllı

Inspirado na lesão de Neymar na Copa de 2014

Descontrole Elegante | Messi x CR7Onde histórias criam vida. Descubra agora