Sorriso.

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Dazai estava em mais uma crise, não que isso fosse incomum. Ele roía suas unhas e arrancava os cabelos com os dedos trêmulos, seu corpo inteiro tremia em frente ao banheiro - agora infestado por um cheiro pútrido - e de sua boca seca saíam palavras desconexas. O garoto frágil se balançava para frente e para trás, tentando consolar a si próprio do estrago que acabara de fazer.

Por que havia feito aquilo de novo? Estava indo tão bem nesses últimos dias, mas agora o sangue já fluía pelo chão e sua barriga estava vazia. Chorava compulsivamente abraçando a si próprio, "eu só queria ser perfeito". Qual era seu problema afinal? Carência? Egocentrismo? Narcisismo? Ele tinha que parar de fazer drama.

Mesmo sabendo disso, ele continuava. Seu drama incomodava a todos. Toda sua auto-mutilação e vômitos forçados eram feitos por exibição. Ele nem sequer estava triste, Dazai se dizia um homem feliz, era alguém muito feliz. Mas... se tudo aquilo era por atenção...


Porque não havia ninguém olhando?

Seus olhos marejados olhavam para todos os lados buscando por ajuda, por uma salvação. Por anjo ou demônio que o tirasse daquele poço sem fundo. Algo que o agarrasse, nem que fosse pelos cabelos, e o tirasse dali. Algo que o afastasse da própria mente suja e pecaminosa.

Seus dedos ensaguentados foram levados novamente aos lábios e ser afundou ali, buscando o ponto mais frágil. Aquele ponto que ele sabia que iria ativar um pequeno botão e o faria cuspir todo aquele veneno que é o peso de se sentir inútil. Cuspir aquele podre sentimento quer o fazia querer arrancar sua própria carne com os dentes.

Mas era só atenção, não é? E daí que ele estava trancafiado no banheiro escuro e ninguém poderia o ver ali? E daí que ele nunca contaria a ninguém? E daí que a lâmina que ele cortou seus pedaços de carne seria incinerada logo depois que terminasse? E daí que os vestígios de pele que ele havia arrancado seria posto no lixo depois? E daí que ninguém nunca iria saber sobre aquilo? Dazai sempre queria atenção, era o que diziam.

— Dazai?

O moreno congelou seus movimentos, a tesoura indo de encontro a mais um pedaço de sua coxa. "Chuuya?". Rapidamente colocou tudo na lixeira e passou água pelo corpo, estava todo vermelho.

— Chibi?

— Abre a porra da porta. E eu já disse que eu tenho um nome.

Com as mãos geladas e tremelicas, Osamu abriu a trava e a maçaneta, a porta foi aberta. O garoto estava pálido, cortes por toda parte, pedaços de carne faltando e sujo de vômito em alguns lugares, sem falar nas olheiras extremamente profundas embaixo de seus olhos cansados e lacrimejantes. Os lábios finos do ruivo se abriram em tom de surpresa, "que porra?". Ele o olhou de cima a baixo, ele estava sujo para um caralho, mas mesmo assim abriu os braços e deixou que o moreno molhasse seu traje com suas lágrimas sofridas.

— Eu to aqui agora, seu idiota. Responda o telefone da próxima vez.

— Chibi-chan é tão rude às vezes.

— Fica quietinho, anjo - deixou que o apelido escorregasse de sua boca - Só... saiba que quero estar ao seu lado - deixaria o lado arrogante para depois.

— ...banho - disse envergonhado da sua aparência no momento.

— Fica na cama que eu vou preparar um para você.

Nakahara foi minucioso, colocou água morna e um aroma de lavanda. Roupas limpas e leves em cima da pia - que havia limpado - para que o outro se vestisse e não sentisse nenhum incômodo depois. Saiu do cômodo e caminhou até a cama de casal bagunçada, chamou Dazai e o levou pela mão, o acomodando na banheira. Foi preparar a janta.

Seus dotes culinários não eram os melhores, mas conseguia não colocar fogo na cozinha. Porém, havia um prato que sabia de cor e salteado, que era o favorito de Osamu. Caranguejos com molho doce. Era o que fazia sempre quando o moreno estava mal, valia a pena ver o sorriso satisfeito. Saber que Dazai comia sua comida, por mais que seus transtornos alimentares atrapalhassem um pouco, fazia o ruivo genuinamente humano.

Humano.

Dazai surgiu na porta com as roupas limpas e deu um sorriso contido em direção ao Nakahara, o cheiro estava bom. Logo se sentou na mesa pequena e esperou que fosse servido, o que rapidamente foi feito. Um prato com caranguejinhos fritos e um potinho com molho de maracujá do lado. Sorriu e sentiu-se amado e perfeito aos olhos de Chuuya, já que mesmo depois de tudo, ele ainda o preparava sua comida predileta.

Amado e perfeito

— É por isso que eu amo o Chibi-chan - cantarolou tímido.

— Por causa da comida? - deu um beliscão fraco em seu braço.

— Não Chibi, porque você me faz me sentir melhor e amado. Você é a razão por eu continuar tentando. Chibi-chan ainda será minha noiva.

O mais baixo ficou vermelho de raiva e vergonha, nunca haviam conversado sobre aquilo. O amor era palpável, mas oh meu deus, ter ouvido finalmente era tão bom. Chegou pertinho do detetive e acariciou seus cabelos molhados e cheirosos, queria beijá-lo. Oh sim, queria muito. Quando será que o momento certo virá? Se ajoelhou ao lado do homem sentado e desceu a carícia para as bochechas arranhadas por causa da crise.

— Então quando nos casarmos, você vai para de tentar? - perguntou com um nó na garganta.

— Chibi-chan é tão tolo às vezes. Claro que não, quero ser um bom marido - falou com aquele sorriso que o ruivo odiava tanto, tanto que se pudesse arrancá-lo com um soco bem-dado, o faria. Porém, não o fez.

Arrancou-o com os lábios.


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E aí meus amores?
O que acharam????
Deixem sua estrelinha se gostaram!!!
Amo vcs, até a próxima ❤️

Caranguejos com molho doce Onde histórias criam vida. Descubra agora