Sexta de manhã, Chris acordou antes do despertador tocar, ouvindo sons de passos pelo corredor. Ele teve um sono terrivelmente leve desde sempre e não foi porque ele saiu de casa e se livrou de irmãos mais novos para cuidar que esse hábito mudou.
Ele gemeu de frustração e enfiou a cabeça sob o travesseiro. Não era incomum ter estudantes dando voltas pelo prédio dos dormitórios pela madrugada, eles estavam geralmente bêbados ou voltando de alguma festa qualquer no campus, mas Chris não podia deixar de ignorar o barulho e rolou na cama algumas vezes até escutar batidas irregulares na porta.
— Só pode ser brincadeira. – murmurou consigo mesmo, ainda de olhos fechados, esperando que a pessoa percebesse o quão errada ela estava e desse o fora.
Mas as próximas duas batidas vieram fracas, inseguras, e uma voz chamou seu nome. Nessa hora, Chris levantou de qualquer jeito e correu aos tropeços até a porta, reconhecendo a voz do melhor amigo em qualquer lugar no mundo.
— Greg? – perguntou, antes mesmo de vê-lo. Greg caiu em seus braços quando a porta deixou de sustentá-lo, ele vestia uma jaqueta de couro preta e calças jeans que, junto com o cheiro de álcool e cigarros, indicavam que ele tinha adiantado a bebedeira do final de semana pra uma quinta a noite. Chris o segurou como pôde e o ajudou a ficar em pé de novo. Quando achou que ele iria conseguir se manter sozinho, Chris envolveu o rosto de Greg com as mãos e sua voz saiu mais gentil e baixa do que ele gostaria. — O que você pensa que está fazendo?
Uma parte dele queria brigar e passar outro sermão daqueles. Desde que aprenderam a beber, Chris percebeu que o amigo tinha uma certa tendência a exagerar, era claro que ele gostava da sensação de estar fora de si e de perder a inibição por algumas horas. Por causa disso, Chris fazia questão de acompanhá-lo e ficar de olho na quantidade de copos que ele tomava. Era injusto que Greg tenha ido encher a cara sozinho e ainda ir correndo atrás dele no meio da maldita madrugada dessa maneira. A outra parte queria colocar Greg no bolso e consertar pedaço por pedaço.
— Chris … – o rapaz deu um passo para frente, mas se enganchou nos próprios pés e se desequilibrou mais uma vez. Entretanto, ao invés de apenas cair no amigo de novo, Greg o envolveu pelos ombros e, em um impulso único, grudou seus lábios nos dele. Não foi algo bonito. Chris sentiu como se estivesse levando um murro na boca, por causa da queda e o peso de Greg, fora o cheiro intenso de tequila e a força com que ele enfiava as unhas nas costas dele para se segurar.
Nem em um milhão de anos ele saberia como reagir a isso.
Por sorte, não foi necessário fazer nada de imediato, porque logo Greg perdeu os sentidos e amoleceu em cima de Chris, que teve que praticamente arrastá-lo até a cama. O deixou do jeito que ele caiu no colchão e se afastou. Ficou em pé no meio do quarto, com o coração correndo uma maratona dentro no peito e a respiração irregular.
O silêncio noturno voltou a reinar, como se nada tivesse acontecido, perturbado apenas pelo ressonar baixo de Greg, mas Chris mal conseguia registrar essa parte. Ele sentou no sofá velho que mantinha no canto do quarto e passou as mãos na cabeça com certa raiva, tentando entender por que diabos Greg achava que tinha o direito de ferrar com ele desse jeito.
Chris não queria ter que lidar com isso. Ele não podia manter tudo como antes se começasse a pensar por esse ângulo.
A droga de um beijo. Um esboço de algo que Greg, provavelmente, vinha escondendo sabe-se lá há quanto tempo e que tinha explodido junto com o álcool.
O despertador começou a tocar e o corpo inerte na cama continuou inerte, sem mover um músculo com o barulho irritante que enchia o ambiente. Chris suspirou derrotado e desligou o celular, determinado a não deixar que esse evento fatídico o afetasse. Greg estava bêbado demais para saber o que estava fazendo e, com certeza, não se lembraria de nada do que fez no dia seguinte. Talvez ele nem tivesse a intenção de se jogar naquele beijo.
De qualquer modo, Chris precisava fazer alguma coisa antes que sua cabeça explodisse e começou a se arrumar para o dia. Não era a primeira vez que ele sairia e deixaria Greg babando em seu travesseiro, eles até mesmo já dividiram a cama quando ficavam até tarde da noite conversando ou ajudando o outro a estudar. Na verdade, a presença do amigo sempre foi natural e esperado que Chris sentia certa dor no peito por estar desconfortável, por não conseguir circular em seu próprio quarto sem estimular estar ridiculamente consciente de Greg ali. Seu coração começou a disparar de novo, sabendo que alguma coisa no quebra cabeças de sua vida tinha mudado de lugar por causa de um selinho idiota.
— Droga, Greg. – Praguejou, já pronto pra sair, com a mão na maçaneta, dando uma última olhada para trás. Nesse momento, Chris percebeu que queria, mas não conseguia, sentir raiva. Pelo visto, seu coração passaria o dia agindo como um louco, ou acelerado ou apertado ou com essa dorzinha nova que ele não sabia o que significava.
Largou a mochila no chão e voltou. Tirou os coturnos e a jaqueta de Greg e os jogou no canto da parede. Viu o amigo se ajeitar melhor no espaço e se sentiu menos mal por deixá-lo largado ali. Chris saiu com a certeza de que não conseguiria pensar em outra coisa o dia inteiro.
Greg acordou com gosto de podre na boca. Tossiu algumas vezes e teve dificuldades para abrir os olhos, especialmente com o sol que queimava seu rosto. Terminou de se cobrir por inteiro, evitando a luz que provavelmente o faria derreter ou explodir em sal, e escorregou das cobertas para o chão frio, se arrastando até o banheiro no piloto automático.
O fato de que estava no quarto de Chris era perturbador, mas não o suficiente para fazê-lo entrar em pânico ou interromper seu processo de fazer xixi, lavar o rosto e respirar fundo vezes necessárias para conter a vontade de vomitar. Acontecia. Greg só tinha esse lugar para ir quando se sentia especialmente desamparado.
Os primeiros passos que deu depois disso foram instáveis, como se estivesse caminhando em um barco à deriva e o mundo balançasse de um lado para o outro em um ritmo constante.
— Puta que pariu … – murmurou, sentindo o cheiro de álcool e suor na própria jaqueta e lutando contra o desejo de atear fogo nela.
Foi saindo pelo corredor, carregando suas coisas e se esforçando para não cair no chão como o babaca que ele era, que Greg se lembrou do que tinha feito na noite anterior. Quer dizer, ele realmente tinha beijado Chris? Só o pensamento fez seu sangue congelar e um suor frio fazê-lo estremecer. Esse era o tipo de impulso que precisava ser contido, ele podia até ouvir a voz de sua terapeuta o perguntando onde diabos ele tinha enfiado os dez passos de autocontrole que ela vinha tentando lhe ensinar desde que ele tinha onze anos.
"Eu não sei." Greg diria dando de ombros e pensando no quão pouco controle ele tinha quando estava com Chris. Mas ele merecia fogos e parabenizações, porque a paixão pelo melhor amigo começou no Corleone, antes mesmo de Tasha se mudar para a casa ao lado. Esperar todo esse tempo para dar um selinho bêbado pedia um prêmio.
Mas claro que a ideia de que Chris o odiaria depois disso o deixou terrivelmente nervoso, ele não tinha vomitado ainda, mas agora achava que não tinha outra opção. As borboletas que moravam em seu estômago se assanharam de medo e o vaso de plantas do corredor seis foi o contemplado para provar esse sentimento.
Quando finalmente chegou em seu próprio quarto, Greg se jogou na cama e trabalhou mentalmente na ideia de que o que supostamente havia acontecido não se passava de uma alucinação induzida pela tequila. Nada mudou. Chris, provavelmente, iria aparecer dali a algumas horas com café e aspirinas, encheria o saco sobre o quanto ele foi imprudente e o universo iria continuar funcionando como sempre. Chris sendo o garoto maravilhoso, brilhante e com suas namoradas feias e Greg com o coração rachado e dolorido. Só o normal da vida.
Várias horas depois, quando acordou ainda cheio de ressaca, Chris não tinha aparecido. Ele se encolheu. Então, a última pessoa no mundo que acreditava nele tinha desistido.
Greg não estava surpreso. Só triste.
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Friends for Lovers | Chris e Greg
FanfictionChris finalmente consegue domar as redes da própria vida. A única peça que ainda lhe causa dor cabeça é Greg, que parece incapaz de lidar consigo mesmo. Ele vai descobrir que essa peça só está encaixada no lugar errado. Desculpe universo. Essa histó...