Art

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Mais uma linha curvada nos lábios levemente fartos do belo jovem no papel em preto e branco.

Eu poderia deixar assim mesmo.

Um sorriso mínimo se formou em meus lábios, quase tão fartos como os do homem no papel, face jovial, olhares fixos em algum que nem eu mesma sabia.

Mas como sou idiota, vou arriscar destacar um pouquinho mais essa parte aqui.

E comecei a traçar os riscos, cada um delicadamente, tentando não mostrar o quão minhas mão tremulas e suadas demonstravam e expressavam meu coração disparado e ansioso. Se eu errasse, estragaria tudo.

Minha respiração pesou de repente.

Meu peito começou a subir e descer rápido, mas lento – essa sensação sempre foi estranha a meu ver; se assemelhava a grandes correntes presas aos meus ombros, pesadas como bolas de ferro pesando toneladas.

Algum girou no meu estomago, me deixando agoniada.

Minhas mãos formigaram e novamente a camada fina de suor estava ali para ser lembrada, se por acaso passasse minhas mãos textura contra textura no papel, estragaria tudo.

Borraria e isso me causaria mais estresse.

Ainda mais no final do desenho!

Seria uma grande frustração, sinceramente.

Apertei minhas mãos, fechando elas em um punho e senti minhas articulações estralarem – era assim sempre que ficava ansiosa.

Ajustei as mangas do cardigan vermelho vinho, os subindo em minhas mãos.

Assim não vão borrar meu trabalho!

Fitei minhas mãos por um tempo, e como um déjà vu, fui transferida para memórias vagas, vazias e solitárias, presas a cada neurônio que pudesse existir ali, cada memória tinha um pouquinho da outra.

Uma pequena dor latejou em meu peito, afundando, parecia que alguém estava o esmagando. E como veio, misteriosamente, passou.

Desviei meu olhar das minhas mãos, agora quais seguravam um lápis tão firmemente que jurei poder o quebrar em dois, ao mesmo tempo que meus olhos despencaram sobre a folha de papel dobrada que auxiliava a mim não borrar o desenho. Antes, o papel branco, tinha poucas manchas de pó de lápis, mas... Algum chamou minha atenção.

"Agora a senhora e meu

pai não precisão

mais brigar. "

~ Pétalas brancas.

Eu fiz isso?

Foi o que me perguntei.

Minha mente tinha ido tão fundo que arriscou a pensar em uma bela lamina, brilhante e como os lábios do jovem rapaz no meu desenho, sorria ladino.

Parecia... me chamar?

Minhas mãos fizeram o trabalho de, sozinhas – era bom ressaltar –, escreverem meu bilhete de despedida.

Três linhas, com a letra curvada, quase transparente, assinada por mim.

Uma unica frase que poderia ser minhas ultimas palavras (bom... levando em consideração que estavam escritas), Portando, meus últimos pensamentos, pois nem na hora do ultimo suspiro eu teria alguém.

Uma unica frase que seria eternizada no tempo interrompido por um possível erro.

E o pior, dirigida a pessoa que eu amo, mas tinha serias duvidas se ela também me amava. Ou era apenas manipulação? Afinal, eu nasci, cresci e fui criada em uma família que diz "É o seu gosto, compre o que quiser" apontando para a roupa com uma mão e com o outro dedo indicador apontando para o vestiário.

Toda vez, com um sorriso, o sorriso mais falso do mundo, mas que enganava até mesmo um detetive de alto nível da CIA. E que, eu, tive que aprender a dar também.

Meus olhos brilharam e senti que poderia chorar, novamente meu peito ricocheteou com uma dor conhecida, minha garganta foi laçada com um nó firme e lá estava a respiração ofegante de novo.

Fechei os olhos, só tinha alguns segundos para me recompor sem ninguém perceber e fazer a pergunta que somos ensinados a responder sempre com um "Estou bem".

Encarei o vasto breu das minhas pálpebras, vendo cada lembrança surgir rápido e sumir –ficando tempo suficiente para me fazer as relembrar – respirei fundo e suspirei.

Parecia que um tornado havia saído dos meus pulmões.

Esses 14 dias não serão nada fáceis.

– Os remédios – Falou a voz da minha mãe ao lado, me tirando num puxão dos meus pensamentos.

– Já vou. – Afirmei me levantando.

Antes de dar as costas ao meu desenho e receber as três pílulas em minha palma aberta, notei que ainda segurava o lápis e que minha mão se encontrava pálida. Soltei o lápis de uma vez e, percebi no mesmo segundo, um erro grande de minha parte.

Desci a mascara e mostrei meu melhor sorriso.

– Está bonito? – Perguntei apontando para o papel com o desenho em finalização e, com as pontas dos dedos, ajustei a manga melhor na palma que segurou o lápis.

– Está ficando bonito.

Assenti e enfim, recebi as pílulas.

Mar RevoltoOnde histórias criam vida. Descubra agora