O som abafado dos gritos da plateia deixavam meu corpo estático. Ao notar o grande flash de luz que se mantinha no centro do palco, debrucei meu olhar às minhas mãos molhadas, as colocando em meus bolsos para tentar secá-las. Eu conseguia sentir o meu coração palpitando cada vez mais forte ao som estrondoso daquele lugar. Os ouvia cada vez mais alto, em coro, as vozes roucas que se mesclavam com as palmas.
Fechei os olhos, buscando me concentrar na exorbitante sensação de estar fazendo o meu melhor. Entrei no fluxo de cada batida de bateria que o ritmo de meus pés me guiavam para o dever...
— Ei! Garota! Precisamos de alguém aqui! – os chacoalhes me manteriam alerta novamente — Estão chamando eles para o palco e não temos muito tempo, rápido! – minhas mãos tomaram seu celular e uma caixa de primeiros socorros.
— Essa não...– revirei os olhos, embalando meus pés à correrem o mais rápido que conseguiria.
Adentrei a sala improvisada do camarim, observando os enormes garotos em um semicírculo.
— Por que a demora?! – o ruivo elevou as mãos afoitamente em seus cabelos.
— Vou chamar o assessor de vocês – escorei meu olhar, tentando discernir quem havia se machucado — Se vocês ao menos estivessem quietos... – minha exaustão se compilou à minha voz, saindo em um sussurro claramente ouvido pelo garoto à minha frente. A sua feição de desgosto foi sentida em minhas entranhas. Aquele nem seria meu trabalho, mas passar dos limites da educação não era meu comportamento corriqueiro.
A tensão que os dias de shows causavam eram imensas. Todas as raízes dos esforços diários de meses eram postos à prova. A única diferença era que os únicos que nunca seriam culpados pelos erros eram aqueles quatro garotos.
— Por que não faz o seu trabalho? – os olhos fulminantes me acertaram em cheio. No que eu estava me metendo? Abaixei o olhar, atentando-me aos números de segurança do rádio em minhas mãos.
— Temos um problema aqui com um dos meninos – minha voz saía aos poucos, sendo sussurrada à espera do grande colapso. Não demorou muito para ouvir a voz do senhor T.J se sobressair às vibrações do comunicador. O ruivo agora desviava seu olhar carrancudo de mim e, apesar das palavras serem ditas à mim, não conseguia disfarças um breve sorriso ao notar a culpa em seus olhos — Cinco minutos e ele estará aqui. O que aconteceu?
— Estávamos ensaiando e Fred torceu o pé.
— Sabe que vocês têm hora para ensaios e...
— Querida, nós sabemos o que fazemos – a tensão novamente se instaurou em sua face, agora dando alguns passos mais firmes em minha direção. Acompanhei o mesmo movimento, marchando em ré, até sentir minhas costas encostarem em um corpo mais rígido.
— Temos algum problema aqui? – o som da voz trouxe um tom reflexivo em mim, precisava notar algum detalhe para conseguir respirar um pouco mais aliviada. Notei as mãos tatuadas encostarem em meu ombro, fazendo-o relaxar instantaneamente. Agradeci por Oliver ter chego a tempo de tentar colocar algum controle em toda a situação.
— Fred torceu o joelho – suspirei, contorcendo meu olhar ao observar a ira ainda contida nos olhos do ruivo.
— Pé – irritadiço, me corrigiu entre os dentes.
— O quê?! Mas que mer... – Oliver soltou meu ombro, passando suas mãos freneticamente em seus cabelos negros.
— Cara, talvez precisaremos de você – não havia ânimo no garoto ao dizer as palavras à Oliver — Vamos esperar o Simon, mas...
— Não posso ficar no lugar do Fred. Quer dizer, o estádio inteiro caíra em cima de mim e depois da GW2.
— Não fale como se eu não soubesse disso. GW2 só é uma banda, se todos estiverem no show.
Não pude esconder o riso ao ouvi-lo dizer tão seriamente o quanto a banda era uma união. Sabia que, inegavelmente, Oliver tocava baixo tão bem quanto Fred, o joelho ralado. Assim como a euforia poderia ser comparada, também. Percebia as gotas de suor caindo sob as têmporas de Oliver, notando que o fizeram ele percorrer o palco inteiro atrás do problemas que os inconsequentes se colocaram.
— Ei, mas que caraco aconteceu aqui? Você – apontou prontamente à Oliver — Vá imediatamente para direção de som, e faça aquele show acontecer. Nicco, vá chamar o fisioterapeuta, rápido e – os olhos verdes e brilhantes tomaram a forma mais depreciativa de me notar — Você... Volte e faça seu trabalho – antes de concentrar seu foco nos meninos, retirou de minhas mãos a caixa vermelha.
Conduzi meus passos à porta, sentindo uma pressão mais bruta em meu braço e visando os passos mais alarmados de Nicco. Poderia sustentar minha raiva por mais alguns instantes, mas vaiaria sua voz à primeira nota da noite.
Minha cabeça permeou à direção de Oliver que assim o fez. Assentiu, observando minuciosamente o garoto que corria à nossa frente. Torneou sua cabeça em direção ao palco.
— Você é da produção – entreolhei, tentando assimilar suas palavras — Não tenho como ir para sala de controle e pedir para que avisem os fãs do contratempo.
— Contratempo? Nem sabemos se Fred conseguirá subir ao palco! – não consegui segurar o nervosismo ao ouvi-lo tão calmamente. Fiz Oliver ficar tão preocupado quanto eu, mas notei seus dedos dedilharem entre si — Tive uma ideia – apertei a sessão de Maria, apresentadora da banda naquela noite — Oi! Temos algum show de abertura? Um dos meninos teve um problema e eles irão atrasar, mas acho que encontrei a solução perfeita.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Burn it Out
RomanceUma oportunidade dos sonhos fez Luiza seguir seus sonhos internacionais como produtora musical. Contudo, ao que poderia ser o sonho de muitas garotas trabalhar com a banda GW2, torna-se um pesadelo quando ela enfrenta a realidade por de trás das câm...