Chenle e Yizhuo não eram um casal exatamente "normal". Claro que pareciam bobos juntos, passavam todo o tempo possível lado-a-lado, conversavam sobre tudo, tinham seu próprio mundinho. À primeira vista, eram apenas dois adolescentes, prestes a virar jovens adultos, desesperadamente apaixonados. Mas essa impressão acabava quando alguém passava a conhecer eles um pouco mais.
Para começar: eles se conheceram em uma terapia em grupo para pessoas com transtornos de humor. Dentre todas as dez pessoas, eles eram os únicos que tinham algum problema relacionado à comida, o que fez ambos se identificarem logo. Enquanto Chenle tentava se livrar do vício em machucar a si mesmo e comer três vezes mais que seu corpo pedia para depois passar fome, Yizhuo se segurava em qualquer mínimo de esperança para não continuar com seu suicídio lento. Eles pensavam que poderiam parar com a dor um do outro, mesmo que temporariamente. Mal sabiam eles dos três anos de sentimentos confusos, tristezas, lutas, vitórias e derrotas que se seguiriam.
"ela precisa de você, agora" fora a mensagem enviada pela amiga da namorada em plena duas da manhã. Chenle sabia o que aquilo significava, principalmente depois dela ficar dias sem dar um sinal de vida. Graças a Aeri, ele sabia que Yizhuo estava em segurança, ao menos fisicamente, mas quando algo saia do controle e a japonesa mandava aquele tipo de mensagens, ela precisava de um apoio emocional maior ainda.
Fora assim que ele saiu de casa com uma mochila nas costas, deixando um bilhete na cama ao lado de sua mãe avisando do problema antes disso. Uma corrida rápida se fez necessária, mas ele conseguiu chegar ao apartamento em sete minutos. Aeri logo atendeu a porta e explicou que ela estava em hipomania desde o início da semana, mas naquela noite seu estado depressivo voltou com uma força absurda e ela apenas repetia alguma coisa em mandarim. Ele agradeceu e ficou em frente à porta dela, hesitando um pouco antes de finalmente segurar na maçaneta e entrar no cômodo.
"méi yòng" Yizhuo repetia aquela palavra enquanto tremia e puxava os próprios cabelos, encolhida, com a cabeça entre os joelhos. Seu choro era evidente, apesar do cabelo cobrir todo seu rosto. Calmamente, ele se aproximou e tentou fazer sua presença conhecida, ainda que de longe. Depois de alguns poucos minutos, Chenle ficou de joelhos em sua frente e tocou levemente no seu tornozelo, assustando-a um pouco, mas ela logo se acalmou quando levantou o olhar e viu quem estava ali. Dois segundos se passaram antes dela abraçá-lo e deixar tudo aquilo fluir novamente.
"Você não é nada disso, ok?" ele falava enquanto levantava a mesma. "Você não é inútil, Ning." Ela chorava com o corpo inteiro, mas especialmente com os altos soluços que eram ouvidos na sala, mesmo com a porta fechada.
"Lele-" Chamou-o.
"Sim, Ning?"
"Faz isso parar, por favor."
Oh, como isso doeu. A voz frágil dela apenas aumentou a tristeza do Zhong. Ele sabia exatamente o que ela pensava, o que ela faria se não estivesse acompanhada, o quão desamparada ela se sentia. Principalmente, o cansaço mental.
"Shhh, quando você dormir isso vai passar, eu prometo." foi tudo o que conseguiu falar. Ela assentiu, incerta se podia acreditar nele, mas ultimamente concordando.
"Pega meu remédio?"
"Claro que sim." Ele respondeu e pegou o celular com a mão que estava em cima da perna dela, para, pouco tempo depois, Aeri chegar com o medicamento. Pouco depois de tomar, ela se permitiu entrar no estado de inconsciência. Chenle a ajeitou na cama e rapidamente pegou os itens necessários para ele dormir no sofá.
"Se quiser qualquer coisa, pode me chamar." a japonesa falou logo antes de fechar a porta do seu quarto. Chenle murmurou um "sim" e se ajeitou no sofá, deixando sua mente se perder em qualquer lugar que não fossem os soluços horríveis e desesperados da Ning.
