Capítulo único

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  Enquanto Ana Catarina arrumava os cabelos ondulados e ruivos em frente ao espelho de sua penteadeira ela pensava em todas as possibilidades daquela noite, mas de uma coisa ela tinha certeza. A noite não acabaria com um beijo, até porque quem ela queria beijar só a chamava de amiga.
  Ana Catarina já sabia que era lésbica e não fazia questão de esconder isso de ninguém, até porque para ela e para sua família isso não era problema algum, muito menos um segredo vergonhoso que deveria ser escondido.
  - Amiga, cê acha que vai ficar legal se eu usar esse cropped branco?- Ana Catarina voltou de seus devaneios e se virou para avaliar a roupa da dita cuja que só a chamava de amiga. Elizabeth era linda, linda não, maravilhosa, ela tinha os cabelos
cacheados e pintados de um tom bem forte de rosa que combinavam muito bem com a pele negra da garota. Sem contar em todo o seu carisma e inteligência.
  - Vai ficar lindo Bê, ainda mais com o macacão - Ela respondeu enquanto voltava a se olhar no espelho para começar a fazer sua maquiagem - Só não esquece de levar uma blusa de frio, você sabe que é friorenta e insiste que tá muito calor e que
dessa vez não precisa de blusa. - Elizabeth ri e vai para o banheiro para trocar de roupa.

                                 ***

  - Ok Bê, a Fernanda não vai poder vir porque ficou cuidando do irmão, o Rafael tá com preguiça de andar até aqui e a Paloma decidiu ficar na casa do Rafael - A ruiva leu o que estava escrito nas mensagens que os amigos enviaram de última hora no
grupo de whatsapp deles.
   - Então somos só nós - Elizabeth disse fazendo biquinho, mas o desfazendo logo em seguida para dar lugar a um lindo sorriso - Bora na barca? - O rolê de ir no parque itinerante que estava na cidade foi combinado semanas antes quando
Elizabeth entrou na sala de aula falando como ela amava parques itinerantes e como todos os amigos deveriam ir juntos para aproveitar os brinquedos de procedência duvidosa e pagar caro em comidas simples que com certeza eles pagariam muito menos se elas não estivessem sido compradas dentro do parque.
  - Claro - Ana respondeu sendo puxada pela outra garota para a fila do brinquedo.
  Depois da barca elas foram no carrinho bate-bate, no La bamba e na montanha russa que tinha a cara de uma lagarta assustadora.
  - Esse é o nosso último brinquedo, temos que escolher com sabedoria - Disse Ana.
  - Acho que devemos ir na roda gigante para fechar a noite com grande estilo - Respondeu Elizabeth.
  - Ou podemos ir de novo no La Bamba, já que ele é o meu brinquedo favorito - Ana retrucou enquanto tentava convencer a cacheada fazendo uma cara de Cachorro que
caiu da mudança.
  - Ai amiga, a gente já foi lá, desperdício ir duas vezes no mesmo brinquedo.
  - Eu concordo em ir na roda gigante se você fizer o trabalho de filosofia por nós duas. - Ana sugeriu sabendo que a amiga não ia aceitar a proposta, já que Elizabeth odiava as aulas de filosofia mais do que ela mesma.

  - Ok, agora vamos aproveitar que tá sem fila lá. - Ana seguiu a cacheada, porque por mais que ela quisesse muito voltar para o La Bamba ela queria muito mais se livrar daquele trabalho estúpido.
 

As duas se sentaram na cadeira da roda gigante e o passeio começou.  Para Ana não tinha nada de interessante naquela paisagem, ela estava gostando muito mais
de ver como o vento batia de um jeito bonito no cabelo de Elizabeth e como era fofo ver ela colocando o cabelo atrás da orelha mesmo sabendo que segundos depois o vento voltaria e o tiraria do lugar novamente.
  Naquele momento Ana percebeu que o que ela sentia pela Elizabeth não era só um crush bobo que ia passar depois que elas se beijassem e isso a assustou.
  -E aí, no que você tá pensando? Cê tá com carinha de quem tá apaixonada. - Elizabeth puxou assunto, a amiga já estava há muito tempo calada perdida nos próprios pensamentos.
  - Eu gosto de você - A frase acabou escapando da boca da ruiva que imediatamente se arrependeu. - Desculpa, desculpa, eu não queria dizer isso, não quero estragar
nossa amiza... - Ela foi interrompida por um toque suave dos dedos de Elizabeth em seus lábios.
  - Shiii, não estraga o momento - Elizabeth disse de uma forma calma o que tranquilizou Ana. - Eu também gosto de você.
  As duas ficaram ali paradas, olhando nos olhos uma da outra, com um misto de medo e expectativa. O contato visual foi cortado por Elizabeth que fechou os olhos e
respirou profundamente. Quando voltou a abrir os olhos, Elizabeth começou a se proximar lentamente de Ana colocando sua mão na nuca daquela que ela pretendia parar de chamar de amiga. Ana percebendo a aproximação fechou os olhos e
começou a fazer o mesmo trajeto. Os lábios das duas se encontraram no meio do caminho, o beijo foi lento e cheio de um amor que foi escondido por muito tempo.

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