1 - Redenção

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(Save Your Tears - The Weeknd)

Guilherme


Flávia, onde você está?

Bebi o suficiente para me considerar um tanto bêbado no momento. Não bêbado o bastante para não ser capaz de digitar algumas coisas no celular e enviar, o que é um tremendo alívio.

— O doutor quer ir para casa agora? — Odailson questiona no banco do motorista. Pelo pouco que consegui prestar atenção, ele estava dando voltas para lugar nenhum, gastando a minha gasolina.

— Ainda não. Preciso passar em outro lugar primeiro — respondo com certa impaciência e passo a mão pelo rosto. Não tiro os olhos da tela do meu celular, ansioso por uma resposta. Poderia ser qualquer coisa. Até uma figura ofensiva.

— Qual lugar?

— Se eu soubesse, já teria te falado — digo, me arrependendo em seguida. — Desculpe. Eu não estou nada bem...

— Ah, doutor. Não faz bem beber desse jeito, não, viu? Ainda mais o senhor, sendo todo certinho — respondeu ele, calmo, e me olhando pelo retrovisor. Dava para sentir a pena vinda do tom de voz dele.

É claro que o Odailson tem razão. Seja sobre eu ser médico e orientar as pessoas ou sobre encher a cara, mas eu atingi um limite. Tenho atingido muitos limites desde que aquele maldito avião caiu. Em todo caso, eu não teria conhecido a Flávia se não fosse pelo acidente, e eu já nem sei se ela tem estado tão grata assim por ter me conhecido.

Meu celular toca e eu deslizo depressa o dedo pela tela para ler a mensagem.

Não tem muitos lugares onde eu poderia estar.

Estou franzindo a testa, pensando no que responder, mas também feliz por ter sido respondido razoavelmente depressa. Digito novamente:

Preciso falar com você. Está na boate?

Começo a bater o pé no chão de maneira um tanto frenética. Detesto os efeitos que a bebida causa em momentos assim. Sinto-me mais desesperado, ao mesmo tempo em que tudo parece mais lento.

Venha e descubra.

É o que tenho como resposta, seguido de uma carinha sorridente. Fico encarando aquele sorriso tosco enquanto digo ao Odailson para ir até a Pulp Fiction.

— Outra vez, doutor? — ele pergunta.

Não respondo com palavras, mas faço dois gestos com a mão para que ele siga de uma vez. Flávia poderia muito bem estar me indicando um lugar óbvio e errado de propósito. Não a culpo. Ela pode fazer o que quiser comigo.



Estou sozinho quando entro no estabelecimento. Odailson já havia feito muito por mim, praticamente me resgatando do local em que eu estava bebendo. Ele insistiu em vir comigo, mas eu recusei.

O álcool parece deixar tudo pior aos meus sentidos — as luzes, a música alta. Esbarro em alguém que passa por mim e me desculpo com má vontade. Não sei se terei sorte com a minha procura pela Flávia, mas continuo olhando ao redor. Somente a presença dela pode acalmar essa sensação horrível dentro de mim.

— Estou vendo que precisa mesmo de um ombro pra chorar — ouço a voz dela e me viro no mesmo instante. — Me achou.

Paro para observá-la, e Flávia faz o mesmo em relação a mim. Enquanto ela aparenta uma certa decepção ao constatar o meu estado e a roupa um pouco desarrumada, eu sou tomado por uma alegria imensa antes de começar a sentir certo medo do que poderia vir a seguir. E, claro, Flávia estava linda demais, com suas roupas curtas e cor-de-rosa — inclusive a peruca, sem opção pelo trabalho.

Him & I (FlaGui One-shots)Onde histórias criam vida. Descubra agora