Brasil.

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A dor de cabeça, olhos vermelhos e mau humor eram o prenúncio de uma noite de insônia para Max Verstappen. O que não era normal, não para ele. As semanas de Grande Prêmio eram sempre cheias de compromissos e exigiam tanta energia, foco, trabalho duro, que quando deitava na cama, Max não tinha tempo nem para refletir sobre seu dia, o cansaço, tanto físico quanto mental, e sono sempre o vencia — ainda mais na situação atual, tinha acabado de sair do México, quase nove horas de vôo até o Brasil e mesmo assim, seus olhos não eram capazes de fechar e seu cérebro se recusava a permiti-lo descansar.

Porém, naquela noite, mesmo com o cansaço físico e mental, seus pensamentos não paravam e nem o peso das pálpebras fora capaz de deixá-lo dormir por mais de duas horas. Algo no cerne do seu ser o corroía, atiçava a curiosidade e o incômodo latente deixava-o inquieto. Tudo parecia errado, e de fato estava — mas tudo parecia também estar ocorrendo da maneira correta, era aquela maldita dualidade de sentimento que o deixava perturbado. Aquilo o incomodava pra caralho, não era um homem que deixava ser dominado por suas emoções, no passado sim, mas agora estava tentando ser mais racional na maior parte do tempo e não dar motivo para a imprensa, ou abutres, como ele havia carinhosamente apelidado, gerar mais conteúdos com seu nome e falas distorcidas propositalmente. Mas ali estavam eles ocupando um espaço na mente do neerlandês, tudo que escreviam e diziam sobre ele era simplesmente ridículo e absurdo, Max sabia disso, porém, ele não era de ferro, ninguém aguentaria ver o próprio nome envolvido em tantas manchetes tendenciosas e continuar apático, como se nada estivesse acontecendo.

Ele não era o garotinho mimado que faziam parecer, não tinha uma pilotagem suja e muito menos era um grande babaca. Quem o conhecia verdadeiramente sabia disso. Verstappen era o que era: fogo, velocidade e uma ânsia desesperada de ser o melhor. Não odiava seus oponentes, nem gostava do fato de que todos pensavam isso, mas quando abaixava o capacete era indomável, como uma fera que faz o necessário para pegar sua presa. Porém há uma linha tênue entre ser inteligente e preciso ou impulsivo e impaciente, e a grande mídia sempre fazia parecer que ele estava encaixado no segundo grupo. Porém, Max fazia parte do primeiro, era assustadoramente inteligente em cada ação e reação na pista, sempre sabia exatamente o quanto precisava extrair do carro, o momento certo para administrar e o exato de atacar, e preciso ao não dar chance ao erro, era um carrasco para qualquer piloto.

Apesar disso, a vida dentro das pistas estava boa, progredindo como nunca antes, lutava como o leão que de fato era e pela primeira vez o homem sentia que era possível se consagrar campeão mundial — sentia aquela glória tão perto, mas ao mesmo ainda tão longe. Precisava ser modesto e reconhecer, aquela era a sua temporada. Havia cometido poucos erros, poucos momentos para Lewis Hamilton se aproveitar de alguma imprecisão sua, esse fato era algo que o deixava orgulhoso, ele estava disputando com o maior piloto da história e conseguindo se sobressair em algumas, ou melhor, na maioria de suas disputas. Max Verstappen sentia-se plenamente satisfeito em sua carreira, mas aquilo, seu carro, seu sucesso e seus pontos no campeonato não resumiam sua vida, havia um sentimento de que faltava algo, como alguém para dividir a vastidão da vida. 

Verstappen não era um romântico nato. Aliás, estava bem longe disso. Ele também não acreditava em nenhum desses clichês hollywoodianos — amor à primeira vista, destino, alma gêmea ou seja lá a baboseira que fosse —, nada daquilo iria acontecer com ele, pelo menos era o que pensava. Talvez porque fosse um homem prático, como ele mesmo gostava de se definir, e também impaciente para essas conversas fiadas, era tudo preto no branco, não conseguia conceber a ideia de que sua alma gêmea, "metade da laranja", estava vagando por aí no mundo e que, em um dia qualquer, eles iriam se esbarrar e casar na semana seguinte ou que em uma manhã ensolarada de domingo iria olhar para alguém, uma completa estranha e simplesmente se apaixonar perdidamente. Eram apenas contos de fadas e ele não perdia tempo com esse tipo de coisa.

PER ASPERA AD ASTRA - MAX VERSTAPPENOnde histórias criam vida. Descubra agora